Abengoa é a maior vencedora do leilão de LTs, que teve quatro lotes sem ofertas

Deságio médio do certame ficou em 11,96%. Subsidiárias da Eletrobras não arremataram nenhum empreendimento, apesar de estarem em 10 consórcios. A Abengoa foi a maior vencedora do leilão de linhas de transmissão, que teve quatro lotes - D, E, F e J - sem receber propostas. A espanhola arrematou os lotes B, C e I, sendo que este último é composto por linhas de transmissão e subestações do sistema pré-Belo Monte e teve deságio de apenas 5,02%. O lote H, que também continha empreendimentos relacionados à hidrelétrica foi arrematado pela Isolux, com deságio de 15,10%. As subsidiárias do grupo Eletrobras, apesar de participarem de 10 dos 11 consórcios aptos a concorrerem no leilão, não venceram nenhum lote. O certame teve um deságio médio de 11,96%. Apesar dos consórcios predominarem entre os participantes aptos ao leilão, apenas o Consórcio Gilbués, formado pela Engeglobal Construções (50%) e Bimetal Indústria Metalúrgica (50%), saiu vencedor do lote A. O lote continha a LT 500 kV Gilbués II - São João do Piauí, com 408 quilômetros de extensão e localizada no estado do Piauí. Os demais vencedores foram empresas que participaram individualmente. Além da Abengoa e da Isolux, a Neoenergia ficou com o lote G, composto pela LT 500 kV Campina Grande III - Ceará Mirim II, de 196 quilômetros de extensão e que passará pelos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Dos lotes que ficaram sem receber proposta, o F, formado pela LT 500 kV Araraquara 2 - Fernão Dias, com 241 quilômetros de extensão, e pela subestação Fernão Dias, em São Paulo, serviria como reforço para o escoamento da energia das hidrelétricas do Rio Madeira e de Belo Monte. Os demais lotes - D, E e J - continham linhas de transmissão e subestações em São Paulo e Goiás. Os dez lotes juntos tinham previsão de investimentos da ordem de R$ 5,3 bilhões, com geração de 18.356 empregos diretos. O prazo de conclusão das obras variava entre 22 e 36 meses e os contratos de concessão são de 30 anos. No leilão, estavam presentes no total 17 linhas de transmissão e quatro subestações localizadas em 11 estados - Ceará, Goiás, Maranhão, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, São Paulo e Tocantins. A Receita Anual Permitida máxima era de R$ 586 milhões. Nove empresas e 11 consórcios foram habilitadas a participarem do certame, que aconteceu nesta sexta-feira, 10 de maio, na Bolsa de Valores de São Paulo. Veja abaixo o resultado final do certame por lote: Lote A - Piauí LT 500 kV Gilbués II - São João do Piauí, 408 km. Proponente Vencedor: Consórcio Gilbués Deságio: 23,17% RAP final: R$ 34.550.000,00 Lote B - Piauí, Pernambuco e Ceará LT 500 kV São João do Piauí - Milagres II C2, 400 km; LT 500 kV Luiz Gonzaga - Milagres II C2, 230 km. Proponente Vencedor: Abengoa Concessões Brasil Holding Deságio: 16,50% RAP final: R$ 49.030.100,00 Lote C - Maranhão, Piauí e Ceará LT 500 kV Presidente Dutra - Teresina II, C3, 209 km; LT 500 kV Teresina II - Sobral III, C3, 334 km. Proponente Vencedor: Abengoa Concessões Brasil Holding Deságio: 21,94% RAP final: R$ 45.725.000,00 Lote D - Goiás LT 230 kV Barro Alto - Itapaci, C2, 69 km. Proponente Vencedor: Não houve interessados Lote E - São Paulo LT 500 kV Itatiba - Bateias, 399 km. Proponente Vencedor: Não houve interessados Lote F - São Paulo LT 500 kV Araraquara 2 - Fernão Dias, 241 km; SE 500/440 kV Fernão Dias (3+1R) x 400 MVA. Proponente Vencedor: Não houve interessados Lote G - Paraíba e Rio Grande do Norte LT 500 kV Campina Grande III - Ceará Mirim II, C2, 196 km. Proponente Vencedor: Neoenergia Deságio: 6,29% RAP final: R$ 18.790.000,00 Lote H - Pará e Tocantins LT 500 kV Tucuruí II - Itacaiúnas, 272 km; LT 500 kV Itacaiúnas - Colinas, C2, 291 km. Proponente Vencedor: Isolux Energia e Participações Deságio: 15,10% RAP final: R$ 52.750.000,00 Lote I - Pará e Tocantins LT 500 kV Xingu - Parauapebas C1, 414 km; LT 500 kV Xingu - Parauapebas C2, 414 km; LT 500 kV Parauapebas - Miracema C1, 409 km; LT 500 kV Parauapebas - Miracema C2, 409 km; LT 500 kV Parauapebas - Itacaiúnas, 115 km; SE 500 kV Parauapebas. Proponente Vencedor: Abengoa Concessões Brasil Holding Deságio: 15,10% RAP final: R$ 52.750.000,00 Lote J - São Paulo LT 500 kV Araraquara 2 - Itatiba, 207 km; SE Santa Bárbara D'Oeste, 440 kV, Compensador Estático (-300,+300) Mvar; SE Itatiba 500 kV, compensador estático (-300,+300) Mvar. Proponente Vencedor: Não houve interessados (Carolina Medeiros) ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Remuneração baixa tira interesse de investimentos em transmissão. Receita máxima estabelecida pela Aneel deverá ser mantida este ano mas agência ainda vai analisar os fatos que levaram a 40% de lotes sem lance. A taxa de retorno e o baixo nível de remuneração foi o principal problema do leilão de transmissão realizado nesta sexta-feira, 10 de maio, pela Agência Nacional de Energia Elétrica. Dos 10 lotes que foram ofertados apenas seis foram concedidos, sendo que três tiveram apenas um interessado o que levou a um deságio médio de apenas 11,96%, um dos mais reduzidos nos últimos anos. Dos mais de cinco mil quilômetros ofertados, 916 km mais 3 subestações ficaram sem concessionários. De acordo com a avaliação de Humberto Gargulo, da Upside, a taxa interna de retorno estava muito abaixo do que se imaginava como adequada para esses tipos de projetos tanto que ele, após o leilão, questionou o retorno adotado pela espanhola Abengoa para conseguir arrematar três dos seis lotes que foram concedidos. A Upside lembrou que até as empresas do Grupo Eletobras não apresentaram lances competitivos para os lotes que tiveram concorrência o A e o B. Ele lembrou que nas contas dos investidores há a percepção de que a taxa livre de risco - representada pelo equivalente à remuneração do titulo de tesouro nacional - que está em cerca de 4,25%. Esse indicador fica quase no mesmo patamar com custo médio ponderado de capital (WACC, a sigla em inglês) de 5%, estimado pelo diretor da Aneel, Julião Coelho, para o certame. Porém, segundo um executivo próximo ao segmento de transmissão, na realidade a taxa de remuneração era de 4,6% o que permitia pouca manobra nos valores. Essa mesma fonte contou à Agência CanalEnergia que o cenário visto hoje é o reflexo do cenário da baixa taxa de remuneração, empresas descapitalizadas e os maiores riscos de investimento com questões fundiárias. A combinação desses fatores foram desestimulados ante o retorno oferecido. Contudo, descartou qualquer relação com o sentimento de insegurança jurídica que as medidas recentes do governo trouxeram ao setor elétrico. "A coisa hoje está feia, a RAP está muito apertada para os empreendimentos que foram colocados nos leilões e por isso que não estamos vendo interesse dos investidores", disse a fonte. O sentimento após a disputa realizada na sede da BM&FBovespa era esse mesmo, outra fonte comentou rapidamente que não valia a pena arrematar os lotes de qualquer jeito em uma mostra clara de que as receitas anuais máximas permitidas realmente desagradaram os investidores. De acordo com o diretor da Aneel, Julião Coelho, esses lotes que não apresentaram lances serão alvo de novos estudos para verificar a causa de terem ficado sem lances e disse que a partir dessa análise a agência vai direcionar a uma solução. Entre as possibilidades estão a revisão da RAP, a alteração da configuração dos lotes para agregar ativos de maior escala, ou ainda, aumentar o prazo para a construção dos empreendimentos nos próximos leilões. Os lotes variavam entre 22 meses e 36 meses a partir da assinatura do contrato de concessão. "O modelo é seguro e prova disso é que temos investimentos garantidos", afirmou o diretor da Aneel a jornalistas em coletiva após o leilão. "Lotes que dão vazio não são novidade, já aconteceu", minimizou ele apesar de não poder precisar porque as estatais, sempre presentes nas disputas em anos passados não apresentaram lances. Julião Coelho refutou a ideia de que a metodologia para o cálculo da RAP, alvo das críticas de investidores, possa ser alterada em função desse resultado. Ele explicou que os valores são obtidos por meio de uma forma analisada pela agência reguladora anualmente e que passa por audiência pública. "Não dá para mudar por livre vontade tem base técnica para o resultado. A tendência é de manter a metodologia", comentou. Pelo lado dos investidores apenas a Neoenergia e a Isolux, que arremataram os lotes G e H, respectivamente falaram sobre o leilão. Para ambas os ativos fazem parte da estratégia de presença na região onde os empreendimentos estão localizados. O da Neoenergia nos estados da PB e RN e da Isolux no PA e TO. A maior vencedora, também espanhola Abengoa se recusou a comentar os resultados. O Superientnendente de Licitação de Concessões de Transmissão daAneel, Ivo Nazareno, explicou que os problemas apresentados pelos lotes que deram vazio serão analisados e precificados, mas que ainda é cedo para apontar o que deverá ser feito. Dependendo dessa análise, os lotes poderão voltar à disputa ainda este ano. (Maurício Godoi)