Abrace: corte no custo da energia não devolveu competitividade à grande indústria

Segundo pesquisa realizada pela associação, as indústrias eletrointensivas foram as que tiveram piores resultados. Redução média no custo da energia ficou em 7,5%. A redução do custo da energia promovida pela Lei 12.783/2013 teve um impacto muito menor que o esperado na grande indústria e não foi capaz de devolver a competitividade desejada. Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres com seus associados, o corte médio foi de apenas 7,5% no período entre setembro de 2012 e julho deste ano, enquanto a perspectiva de redução girava em torno de 30%. De acordo com Paulo Pedrosa, presidente-executivo da Abrace, o movimento de redução das tarifas de energia promovido pela Medida Provisória 579, paradoxalmente, atingiu menos as empresas cujos custos da energia são mais significativos. "Quanto mais uma empresa era grande, quanto mais ela tinha na energia um custo significativo da produção, quanto mais uma empresa estava comprometida com contratos de longo prazo no mercado livre e em autoprodução, menos benefícios ela recebeu", explicou o executivo à Agência CanalEnergia. A pesquisa Abrace de Custo da Energia mostra que os setores de alumínio e cloro e soda, para os quais a energia chega a responder por, respectivamente, 36,1% e 27,8% dos custos de produção, a redução proporcionada pela MP foi de, respectivamente, 5,62% e 6,16%. Já as empresas do setor de cimento, para as quais o custo da energia tem peso de 25,5% nos custos médios, tiveram corte de 7,31%. Os cálculos foram feitos considerando as reduções de custo por unidade de energia consumida pelas indústrias associadas à Abrace. Pedrosa avalia que o movimento de redução das tarifas promovido pelo governo é positivo e histórico, mas que não surtiu os efeitos desejados na indústria. Segundo ele, o resultado da redução de encargos não trouxe ganhos para os autoprodutores, que já não os pagavam. "Na parte da energia também não teve ganhos, porque as cotas foram alocadas para o mercado cativo. E a parte dos transportes, que a gente esperava que houvesse uma alocação dos benefícios para o mercado livre, será dividido com os geradores a partir de 2014", apontou o executivo. Foi constatado ainda que apenas uma empresa participante atua como consumidora cativa e teve, portanto, a redução máxima de custo prevista pelo governo. Por outro lado, das 39 empresas consultadas, oito não perceberam qualquer mudança em suas contas de luz. Além disso, 89% indicaram que o corte promoveu baixo ou nenhum impacto nas decisões de novos investimentos. O executivo comentou ainda que na França optou-se por pegar a energia das concessões nucleares antigas e alocar para as indústrias num programa para a promoção da competitividade. "Aqui no Brasil é quase como se nós tivessemos uma política energética antindustrial", analisou. De acordo com Pedrosa, muitos industriais ainda planejam deixar o país e outros não se sentem estimulados a realizar novos investimentos. "É um momento em que a energia certamente é um fator de desestímulo do investimento. A indústria nunca quer parar, porque depois para retomar uma posição é muito difícil. Mas há segmentos da indústria que estão reduzindo sua capacidade, como é o caso do alumínio, e há segmentos que estão operando com margens que permitem a manutenção da operação, mas não permitem uma visão de longo prazo da produção e, muito menos, estimulam investimentos na expansão", declarou Pedrosa A saída, na visão da Abrace, é que haja um reequilíbrio, com isonomia das concessões antigas, visto que as grandes indústrias pagaram empréstimo compulsório para construir as usinas, a amortização dos ativos e para constituir o fundo da RGR, que foi usado para abater os ativos não amortizados. "As indústrias se sentem no direito de receber essas quotas. A gente espera também ter acesso à expansão competitiva do setor numa condição isonômica às distribuidoras", comentou. A ideia, segundo Pedrosa, é que os consumidores livres participem dos leilões de energia nova como compradores. (Carolina Medeiros)