Alcoa fecha contrato de um ano com Eletronorte

Depois de uma longa negociação, a Alcoa, multinacional americana de alumínio, e a Eletronorte, estatal elétrica do grupo Eletrobras, chegaram a um acordo de fornecimento de cerca de 200 MW de energia da hidrelétrica de Tucuruí para o consórcio Alumar, em São Luís (MA), que produz alumínio primário. O contrato vigora de 1º de abril de 2013 a 31 de março de 2014 e prevê o desconto de 11% no valor cobrado do megawatt-hora (MWhora). A demora na conclusão do acordo, com idas e vindas, se deve à resistência da direção da Eletronorte em conceder o desconto no valor da tarifa, conforme estabelecido pela Medida Provisória 579 (setembro de 2012), que foi transformada em lei (a 13.783), em 11 de janeiro no Congresso Nacional. "Sem esse acordo, a redução da tarifa seria de zero porcento para nós e outras indústrias eletrointensivas do país", afirmou Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina e Caribe. Com a negociação, a tarifa ficou na faixa de US$ 58 o MWhora, mas ainda quase 50% acima da média mundial (US$ 40), informa a Alcoa. O preço cobrado pela estatal, no contrato que tinha prazo até 2024 e terminará em 2014, já foi de até US$ 82 o MWhora. A empresa terá desde já um ano para adquirir esse pacote de energia de outras geradoras no país. O executivo disse estar grato por obter pelo menos os 11% por um ano, porém bem abaixo do que previa o anúncio da presidente Dilma Rousseff setembro, de até 28% de corte na tarifa cobrada do segmento industrial. "Esse acordo nos garante a manutenção das nossas operações no Brasil - Alumar e Poços de Caldas - no momento, porém não resgata a competitividade da indústria do alumínio", disse Feder, ao Valor. Procurada desde sexta-feira, a Eletronorte não se pronunciou. A Alcoa vem mostrando ao governo, há mais de três anos, com a visita duas vezes de seu presidente mundial a ministros e à própria presidente, que precisa de condições competitivas no custo do insumo energia para se manter operando e pensar em novos investimentos. "Agora, falar nisso, nessas condições, ficou totalmente impossível", disse Feder. Se não tivesse 70% de geração própria de energia, admite o executivo, as duas fábricas no país seriam desativadas. Juntas, elas têm capacidade de 460 mil toneladas ao ano, quase 40% do total instalado no Brasil. Para Feder, a MP 579 "foi uma medida corajosa e a Alcoa aplaudiu a iniciativa". Todavia, acabou desfigurada e não contemplou o setor de eletrointensivos do país. "O custo de energia no Brasil continua acima da média mundial. Isso, aliado a outros fatores como câmbio e o atual preço do metal, influenciam diretamente na competitividade das operações no País". O metal, nos últimos anos viu seu preço despencar para o nível atual de US$ 1,85 mil a tonelada. Mesmo com parte de energia própria, disse que representará 35% do custo de produção - o ideal seria 25% - e a empresa vai no máximo empatar em termos de resultado operacional. "Na última linha do balanço, há quatro anos fechamos com prejuízos no Brasil", afirmou. No ano passado, a perda foi de R$ 52 milhões. Uma das alternativas para garantir a competitividade das suas operações, diz a Alcoa, é a proposta do setor levada ao governo (e não incorporada na MP 579) de alocar cotas de energia amortizada (a chamada "energia velha") para o mercado livre. Outro caminho é poder atingir a autossuficiência na geração de energia, com investimentos em novas hidrelétricas. Para isso, aponta, teria de se destravar no governo as questões do prazo de concessão e do licenciamento ambiental dos projetos de geração de Pai Querê e Santa Isabel. O Ministério de Minas e Energia quer a devolução das duas concessões para relicitá-las. Em Pai Querê a Alcoa tem 35% e em Santa Isabel, 20%. Os 70% próprios vêm das hidrelétricas de Machadinho, Barra Grande, Serra do Facão e Estreito. (Ivo Ribeiro)