Apagão: governo quer reforçar segurança na transmissão

Brasília será a primeira região a receber mais duas linhas e uma subestação O governo federal decidiu ampliar os sistemas de contingência (redundância) para reforçar os sistemas de transmissão de energia em algumas regiões mais críticas do país, com a construção de mais linhas e subestações. O objetivo é evitar apagões de grande proporção e duração, como o que atingiu os nove estados do Nordeste na última quarta-feira, por causa de uma queimada no Piauí. A informação foi dada ontem pelo presidente do Operador Nacional do sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, em entrevista ao GLOBO. Ele garantiu que não houve falhas na gestão do operador no apagão no Nordeste, e que foi mesmo uma queimada que provocou a queda de duas linhas de transmissão. O apagão se propagou por todo o Nordeste porque, segundo ele, as linhas atingidas eram de interligação dos sistemas Sudeste/Norte/Nordeste. O executivo adiantou que Brasília foi a primeira região a ser avaliada para receber o reforço no sistema. Segundo Hermes Chipp, o estudo elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com a participação do ONS, concluiu pela necessidade de se construir duas novas linhas de transmissão (uma de 345 kV e outra de 230 kV) e uma subestação, com investimentos totais de R$ 350 milhões. Ele acredita que o Nordeste será a próxima região a ser estudada para receber os sistemas de redundância. - Começamos por Brasília, dada a importância da capital federal, e acredito que isso vai se estender para outras áreas - disse Chipp. O executivo explicou que o sistema brasileiro de transmissão opera no sistema conhecido como ‘N-1' (para cada número de eventos existe um sistema de redundância), mas agora estuda-se um segundo nível de segurança. - Nessas regiões que podem ter perda de duas linhas de interligação, vale a pena investir para evitar (riscos). É uma análise de custo e benefício: quanto custa o investimento na expansão e o benefício para o sistema. Um blecaute nunca vai ser mais barato do que uma expansão - destacou. Segundo Hermes Chipp, em alguns eventos programados, como Natal e Ano Novo, de grande demanda de energia, há formas de aumentar a segurança do sistema com várias medidas, como a ligação de térmicas. No Estado do Rio, não é necessário o reforço com mais linhas ou subestações, porque já há termelétricas que podem ser acionadas. FOI MESMO UMA QUEIMADA Hermes Chipp disse ter certeza que foi uma queimada que provocou o apagão com a derrubada das duas linhas de transmissão de 500 quilovolts (kV) no Piauí. Alguns técnicos do Ibama afirmaram que a queimada não seria suficiente para derrubar as linhas. O executivo explicou que não precisa ter fogo para se desligar a linha: o calor muito forte pode ionizar o ar e dar condução da corrente para a terra, provocando o curto circuito. O presidente do ONS garantiu também que os atrasos em diversas obras de transmissão não ajudaram a propagar o blecaute iniciado no Piauí para todo o Nordeste. Segundo Hermes Chipp, o acidente foi de grandes proporções porque as linhas atingidas foram as de interligação do sistema Norte/Nordeste/Sudeste, que transportam grande quantidade de energia. As linhas regionais causam só desligamentos locais. - Não tem linha de alta tensão nas interligações regionais atrasadas. As obras atrasadas são de linhas internas ligadas a eólicas - explicou Chipp, que completou - Não existe nenhum erro de coordenação por parte do operador. O consumo de energia elétrica no Brasil subiu 5,1% em junho, para 37.760 gigawatts-hora (GWh) na comparação com igual mês do ano passado, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética. O aumento foi puxado pela alta de 8,2% no consumo das residências, enquanto a demanda de comércio e ser viços cresceu 7,1%. Já a indústria teve a quar ta alta consecutiva, de 1,9%, embora ainda acumule queda de 0,2% no ano. (Ramona Ordoñez)