Boom do xisto ainda não dá impulso a grandes petrolíferas

Algumas das maiores petrolíferas do mundo estão lutando para faturar com apostas enormes no boom de xisto da América do Norte, onde os depósitos de petróleo e gás são abundantes, mas nem sempre têm se provado rentáveis. A Royal Dutch Shell PLC, que enfrenta dificultades para extrair petróleo bruto de formações rochosas densas, divulgou ontem que seus ativos na área de xisto nos Estados Unidos valem hoje US$ 2,2 bilhões menos do que havia calculado anteriormente. A baixa contábil ajudou a derrubar em 60% o lucro do segundo trimestre da gigante anglo-holandesa em relação a um ano antes, para US$ 2,4 bilhões. A empresa informou que vai analisar a venda de algumas de suas propriedades de xisto nos EUA. A Exxon Mobil Corp., maior petrolífera de capital aberto do mundo, ainda está sentindo os efeitos de seus investimentos no gás de xisto dos EUA em 2010, que a deixou com uma grande exposição aos preços persistentemente baixos do gás natural. Um aumento nos gastos e uma queda na produção de petróleo e gás contribuíram para que a empresa texana fechasse o segundo trimestre com um lucro 57% menor que o de um ano antes, em US$ 6,9 bilhões. Seu lucro por barril de petróleo e gás caiu 23% no período. Os EUA estão extraindo um volume de petróleo e gás natural não visto há décadas, e o desempenho de pequenas empresas do setor no país melhorou. Mas as grandes petrolíferas, que demoraram para explorar as formações de xisto, ainda não conseguiram tirar proveito do novo boom. A Exxon e a Shell estão gastando quantias sem precedentes, da ordem de bilhões de dólares, para encontrar e extrair petróleo, fazendo prospecções em rochas mais duras, camadas subterrâneas mais profundas e jazidas em alto-mar mais distantes do litoral. Mesmo assim, a Exxon e a Chevron estão extraindo menos petróleo e gás do que há três anos. Só no ano passado, a produção de petróleo e gás da Exxon caiu 6% em relação a 2011, para 4,2 milhões de barris por dia. A produção da Chevron caiu 2,4%, para 2,6 milhões de barris diários. A queda na produção dessas empresas contrasta com a produção petrolífera mundial, que subiu 12% nos últimos dez anos, segundo a Administração de Informações sobre Energia dos EUA. O preço do petróleo subiu muito mais depressa, triplicando desde 2003, para mais de US$ 100 o barril. Isso dá às petrolíferas mais incentivo para perfurar, e aumenta seu fluxo de caixa, de modo que elas têm folga para gastar mais. Mas as grandes empresas estão descobrindo que as reservas de petróleo a que têm acesso estão diminuindo, ou então exigem uma tecnologia mais complicada para serem exploradas. Para o petróleo, "todas as vezes que o preço sobe e a oferta não acompanha, fica muito mais difícil tirá-lo do solo", diz Dan Pickering, copresidente do banco de investimentos Tudor, Pickering, Holt & Co. Os custos da Chevron para produzir um barril de petróleo e seu equivalente em gás natural saltaram 41% desde 2010, enquanto os da Exxon subiram 23,5% no mesmo período. Ambas as empresas afirmam que esses custos são mais baixos quando considerados sua participação na produção geral e despesas de firmas nas quais têm participação. Nos últimos anos, a Chevron e a Exxon investiram mais dinheiro em perfurações na América do Norte, correndo atrás de rivais menores que já extraíam vastos depósitos de petróleo e gás aprisionados em formações de xisto. Mas a produção das grandes petrolíferas nessas áreas ainda não tem sido suficiente para compensar a queda em produção global. Para reverter o declínio, a Exxon está gastando US$ 38 bilhões este ano para tentar acrescentar um milhão de barris de petróleo e gás até 2017, o que poderia elevar a produção em 14% em relação ao ano passado. A Chevron, que tem a metade da receita da Exxon, está gastando quase a mesma soma no esforço de aumentar sua produção em 26% ao longo dos próximos quatro anos. As duas grandes petrolíferas americanas não estão seguindo a mesma cartilha. A Chevron tem sido cautelosa quanto ao boom de gás de xisto nos EUA, concentrando-se mais no petróleo de alta margem de lucro do que suas rivais. Como resultado, a Chevron conseguiu obter 40% a mais de lucro por barril de petróleo e gás natural no último trimestre do que a Exxon; esta, por sua vez, teve maiores margens de produção do que a Royal Dutch Shell PLC e a BP PLC, segundo as demonstrações financeiras dessas empresas. A Chevron tem apostado mais nos seus projetos maiores e de mais prestígio, tais como suas duas plantas de liquefação de gás na Austrália, nas quais planeja gastar US$ 81 bilhões em conjunto com outros sócios. A empresa aumentou seus gastos de capital em 70% desde 2010, para um total estimado de US$ 33,4 bilhões este ano, devido aos custos de produção mais elevados. (Daniel Gilbert, Justin Scheck e Tom Fowler - The Wall Street Journal)