Brasil pode evitar aumento de emissões com fontes renováveis

As fontes solar, eólica e biomassa devem estar no centro das atenções do governo para a expansão da matriz energética brasileira, aponta WWF-Brasil. O primeiro volume do 5o. Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) relatou que as mudanças do clima estão ocorrendo mais rapidamente e em níveis sem precedentes. De acordo com a entidade, há 95% de certeza que esse é o resultado da ação direta do homem. A geração de energia é um dos itens que mais impactam no aquecimento global com o uso de fontes fósseis como o óleo e o carvão. O Brasil ainda pode evitar o aumento da sua participação na emissão de gases de efeito estufa com o uso de renováveis. De acordo com o coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, Carlos Rittl, outros estudos demonstraram que o setor de energia é a principal fonte de emissões de gases que provocam o aquecimento global, apesar de não ser este o único. Por isso, um dos maiores desafios que existe hoje é de encontrar fontes de geração renovável. Essa situação é mais crítica lá fora, mas com a iminência de o Brasil ter que participar dos esforços de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o país precisaria pensar em estimular mais as fontes de que dispõe. Entre estas, destacam-se a solar, a eólica e a biomassa. Ele reconhece que a solar ainda é incipiente no Brasil, mesmo com o primeiro leilão. Contudo, afirma que como há outros países investindo muito nesta fonte o país talvez possa seguir esse mesmo caminho e, com maior escala de demanda por esta fonte, levar os preços a um patamar mais baixo. Há ainda a possibilidade de se ampliar o uso das eólicas que cada vez mais fica claro que o potencial brasileiro alcança os 300 GW de capacidade. "Como a previsão dos próximos anos é de termos capacidade instalada de 15 GW ainda temos muito o que aproveitar dessa fonte" acrescentou ele. Em complementação a essas duas fontes que são criticadas quanto à intermitência, Rittl lembra que há a "boa térmica" que tem como combustível a biomassa, principalmente a cana de açúcar e a madeira. Essa geração também é renovável e pode ser utilizada na complementação da nossa matriz energética quando há problemas climáticos que pressionam os reservatórios, como a atual fase que o Brasil passa. "Podemos utilizar as renováveis por muito tempo, o Brasil é um país muito rico nesse assunto. E, ao longo do tempo, a tecnologia avança cada vez mais. Um exemplo é o potencial eólico brasileiro que em 2001 apresentava um volume de 143 GW, com o aumento das torres e maior eficiência dos equipamentos, hoje se estima que esse potencial é mais que o dobro, podendo alcançar 300 GW", apontou Rittl. Mesmo com essa riqueza, disse o coordenador do WWF-Brasil, o país não pode adotar uma posição de conformismo que apresenta atualmente. No futuro, lembrou ele, o país deverá também ter uma cota de redução de emissões de gases de efeito estufa, fato que não havia sido estabelecido no primeiro acordo do Protocolo de Kyoto. Um dos problemas que se faz presente é que a economia cresce assim como a renda da população, que naturalmente aumenta seu nível de consumo e, consequentemente, o país tem que atender ao aumento da demanda por energia. No caso da solar, a geração distribuída pode ser encarada como uma das formas de combater a geração por meio de fontes fósseis. Além disso, há a possibilidade de estimular a eficiência energética, até mesmo por meio de leilões. "Temos que evoluir muito na eficiência de máquinas e motores. Temos leilões de energia nova que promovem a expansão da geração, mas o país poderia ter leilões de eficiência energética que levaria a uma contribuição na economia de energia", lembrou ele. Diante disso, o coordenador foi taxativo, "solução existe o que precisamos é ser menos conservadores e mais ousados no planejamento estratégico do setor elétrico ao avaliar a combinação de fontes que formarão a nossa matriz energética no futuro". Na avaliação de Rittl, o governo não abre a discussão sobre a matriz energética brasileira à sociedade, as decisões estão centradas no Comitê Nacional de Planejamento Energético que não ouve a sociedade. Para ele, a expansão da capacidade de geração do Brasil deveria incluir não somente a questão do preço da energia, mas deveria incorporar ainda outros elementos que levam em conta questões sociais e ambientais. "A combinação de fontes em um país tão rico pode ser feita ao ponto de não precisar de novas usinas a combustíveis fósseis ou nuclear", avaliou. (Maurício Godoi)