Consumo de combustíveis puxa déficit no trimestre

O consumo em alta no Brasil, especialmente de combustíveis, deixou sua marca no comércio exterior do país neste primeiro trimestre, que terminou com um déficit de US$ 5,15 bilhões, o pior resultado da série histórica iniciada em 1993. O maior responsável pelo saldo negativo da balança comercial foi o aumento de 11,6% na média diária das importações, tanto em março quanto em todo o primeiro trimestre do ano. O maior aumento foi o da importação de combustíveis e lubrificantes - quase 36% na média diária do trimestre -, US$ 2,3 bilhões acima das importações de combustíveis verificadas no primeiro trimestre de 2012. Segundo a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, o resultado das importações deveria ser ainda mais alto, porque faltaria registrar cerca de US$ 1,8 bilhão importado em petróleo no ano passado, cujo registro, pela Petrobras, foi adiado por uma resolução da Receita Federal. A Petrobras, em nota ao Valor, afirma que "atendeu a todos os requerimentos aduaneiros, tendo apresentado as informações e documentos exigidos dentro dos prazos previstos para os registros". A Receita Federal não atendeu aos pedidos do Valor para explicar o atraso nos registros de importação. Assim como aumentaram as importações, caíram as vendas de combustível, principalmente devido à alta demanda no mercado interno: só em março, as vendas de petróleo em bruto caíram 33% na média diária e US$ 826 milhões no mês. A queda na venda de petróleo e o aumento nas compras de combustíveis derrubaram o resultado do comércio com os Estados Unidos, um dos principais fatores positivos na balança comercial do ano passado. As vendas aos EUA caíram 20% no primeiro trimestre, em grande medida pela redução nas exportações de petróleo, e subiram em 21% as exportações, com óleos combustíveis em primeiro lugar. Em março, o comércio exterior apresentou um pequeno superávit, de US$ 164 milhões, mas graças à prática, por razões de incentivo fiscal, de registrar a entrega de plataformas de petróleo para uso no litoral como "exportação", o que, segundo informou o Ministério do Desenvolvimento, acrescentou US$ 802 milhões à soma das vendas externas brasileiras. "A plataforma, nesta semana, deu um alívio à balança; se não, teria havido déficit", disse o presidente da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. A falta de registro, pela Receita, das importações de petróleo feitas no ano passado também evitou um déficit maior na balança e até surpreendeu os técnicos do Ministério do Desenvolvimento. "Aqueles que acompanham a balança comercial sabem que esperávamos um déficit, e o resultado veio na linha do que tínhamos estimado", disse Tatiana Prazeres, que admitiu, porém, ter previsto importações de combustíveis maiores que as realizadas no trimestre. "Nossa avaliação é que há cerca de US$ 1,8 bilhão em importações realizadas no fim do ano passado, que ainda devem ser registradas nos próximos meses; esperamos que o quanto antes." Só a Receita e a Petrobras podem explicar por que não houve o registro no primeiro trimestre, como esperado, disse a secretária. Apesar do mau resultado dos primeiros três meses, Tatiana, sem se comprometer com uma meta de exportações para 2013, disse esperar que elas fiquem em patamar semelhante aos recordes históricos de 2011 e 2012, graças a fatores como o aumento de 2% nos preços do minério de ferro, um dos principais produtos de exportação brasileiros. De janeiro a março, a queda de 3,1% na média diária das exportações foi provocada principalmente pelo desempenho dos produtos básicos, que somam 44% do total das vendas externas e caíram 3,9%. "Chamo atenção para a importância da queda de exportações de petróleo nesse resultado", comentou a secretária. "Sem a queda do petróleo, as exportações de básicos teriam crescido 4,1%." Entre os aspectos positivos do comércio exterior em março, esteve o desempenho das vendas à Argentina, o terceiro maior mercado para produtos brasileiros: puxadas pelos automóveis, a média diária das exportações ao país vizinho cresceu 7,7% em comparação com a média de março de 2012. Também aumentaram a venda de outros manufaturados e semimanufaturados, como máquinas agrícolas, motores, laminados de aço, pneus, polímeros plásticos e tratores. No trimestre, porém, as exportações à Argentina ainda sofrem queda de 5,9% em relação à média do mesmo período do ano passado. Segundo Tatiana, as exportações de soja e milho não serão reduzidas neste ano pelo atraso nos embarques provocado por problemas de escoamento em estradas e portos, de acordo com informações dos próprios exportadores. O aumento de 400% nas vendas de milho, ligado ao atraso em embarques por causa do clima no início do ano, prejudicou a logística de exportação, que tende a ter menos problemas com o fim dos embarques do cereal, na avaliação do governo. Especialistas como Castro, da AEB, temem, porém, que a queda nos preços da soja e um ajuste nas cotações dos minérios façam com que o resultado das exportações fique bem abaixo das cifras dos últimos anos. O superávit comercial deve ser afetado pelo vigor das importações, alentadas pelas perspectivas de consumo e investimento. O governo vê como positivo o fato de que o aumento de importações no primeiro trimestre foi fortemente influenciado pela compra de bens de capital e matérias-primas para a indústria. (Sérgio Leo e Thiago Resende)