Copel negocia alternativas após Estado suspender reajuste das tarifas

As ações da Copel abriram ontem o pregão da Bovespa com uma forte queda, de 4,2%. Depois, reverteram essa tendência e chegaram subir 3,5%. Mas não conseguiram manter o fôlego até o fim da tarde. Os papéis encerraram o dia em alta de 0,72%, a R$ 26,40. O sobe e desce refletiu a mudança no humor dos investidores, que, num primeiro momento, reagiram mal à interferência do governo do Paraná na empresa. Preocupado com os protestos populares, o governador do Estado Beto Richa (PSDB) suspendeu o reajuste de 15% nas tarifas da distribuidora de energia na sexta-feira, quando as ações caíram 16,7%. Ontem, porém, o horizonte já parecia ser menos sombrio para a estatal. O analista do Banco Espírito Santo, Oswaldo Telles, divulgou um relatório em que recomendava a compra das ações da Copel, considerando ser "infundada" a forte queda nos preços. "Esperamos que a empresa seja completamente ressarcida pelas perdas com o proposto adiamento no reajuste das tarifas", escreveu o analista. A diretoria da Copel buscava ontem alternativas para reduzir o impacto sobre o seu caixa. A estatal paranaense pediu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que o reajuste seja parcelado. De acordo com fontes da empresa, a diretoria também estuda pedir que uma parte do aumento seja compensada pelo governo federal. A distribuidora alega que uma parcela expressiva do reajuste de 15% autorizado pela Aneel reflete a elevação nos custos com a energia comprada. A aquisição de um megawatt no país ficou mais cara devido à maior utilização de termelétricas. Entre as alternativas, a Copel também avalia a redução do ICMS sobre a conta de luz. A estatal e a Aneel estão avaliando neste momento de que forma o reajuste nas tarifas pode ser parcelado. Segundo Telles, a regulamentação existente não contempla essa possibilidade, mas os reguladores estão buscando uma saída, o que é positivo para a companhia. Em vez de aumentar as tarifas em 15% de uma só vez, a distribuidora pretende aplicar esse reajuste em "conta gotas", mas não está claro ainda quando esses aumentos seriam efetuados. A iniciativa parece resolver o constrangimento político no curto prazo, possivelmente até as eleições em 2014. Mas a conta terá de ser paga futuramente pela população. Os consumidores, porém, já terão outra conta para pagar nos próximos cinco: as despesas com a geração térmica. O governo federal assumiu este ano parte dos gastos com essas usinas, para evitar que os reajustes na conta de luz fossem ainda maiores. Na avaliação de uma fonte do setor, a Aneel também dificilmente abrirá uma exceção para a Copel. Qualquer que seja a saída encontrada para a estatal paranaense, ela poderá ser reivindicada pelas demais distribuidoras do país. O presidente da Copel, Lindolfo Zimmer, reuniu-se com o governador do Paraná, mas a empresa não se pronunciou sobre o teor das conversas. A Copel divulgou logo pela manhã um comunicado em que afirmava que possuía a "perspectiva de diferimento" na aplicação dos reajustes tarifários. "Registramos que estamos concluindo as análises internas para identificarmos a melhor forma de aplicação do diferimento, de modo que não traga prejuízo à saúde financeira da empresa, e apresentaremos oportunamente à Aneel o pleito definitivo relativo ao diferimento", informou a companhia. A Aneel também publicou um despacho, suspendendo os reajustes. Segundo Telles, a suspensão do reajuste da Copel não se compara ao congelamento das tarifas imposto na gestão do ex-governador Roberto Requião (PMDB). "Acreditamos que a situação é totalmente diferente, já que agora a Aneel está envolvida e oficialmente aprovou a decisão", disse o analista. (Claudia Facchini, Lorenna Rodrigues e Rafael Bittencourt)