Corrida para aprimorar exploração submarina

O petróleo do mar, em águas profundas e ultraprofundas, requer inovação em várias áreas, especialmente na engenharia submarina. E tanto as petroleiras, como a Shell, quanto fornecedoras multinacionais de bens e serviços para elas - Tenaris, GE, Aker Solutions e Siemens, por exemplo - investem milhões de dólares e reais em tecnologia no país para tocar essas pesquisas. A Tenaris, por exemplo, inaugura no fim deste ano seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento na Ilha do Fundão (RJ), num investimento de US$ 38,8 milhões. Será seu quinto centro do gênero - os outros ficam na Argentina, México, Itália e Japão. Será focado no desenvolvimento de conexões, tubos e conectores para uso nas condições críticas dos campos do pré-sal, de altas pressões e que exigem grande capacidade de resistência. A empresa também trabalha em novas tecnologias de soldagem e revestimentos diferenciados para melhorar o fluxo de hidrocarbonetos e a resistência à corrosão, aumentando a produtividade e a durabilidade das instalações nos campos submarinos. Um tubo de alta resistência ao colapso e à corrosão em ambientes ácidos já foi desenvolvido e qualificado pela Tenaris. Ele viabiliza o transporte de hidrocarbonetos em elevadas profundidades. "Será lançada em breve uma nova geração de conexões para campos profundos e ultraprofundos", diz o diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Tenaris no Brasil, Márcio Marques. Essas conexões aguentam altas pressões e têm elevada eficiência à tração e compressão, mantendo a capacidade de selagem, explica Marques. A corrida por inovações que ajudem na exploração e produção de petróleo no mar vem se intensificando. A Shell, que tem três grandes centros de pesquisa - Holanda, EUA e Índia - está implantando no Parque das Conchas, na Bacia de Campos, a sísmica 4D permanente. É um sistema aplicado a 1,7 mil metros de profundidade, composto por sensores ao longo de um cabo de mais de cem quilômetros formando uma rede fixa de monitoramento. Esse sistema fornece informações sobre o campo, medindo as alterações nas condições do reservatório e monitorando o percurso da água injetada. "É a primeira vez que tal tecnologia é usada no Brasil em toda a área de um campo de produção em escala comercial", diz o presidente da Shell, André Araújo. Outro campo da Shell, o de Bijupirá & Salema, também na Bacia de Campos, é palco de inovações. Lá, vem sendo utilizada uma técnica de recuperação avançada de petróleo que estende a vida útil de poços maduros. A injeção de água, vapor, gás ou produtos químicos ajuda a trazer mais petróleo à superfície. A inovação está na injeção de químicos a partir de uma embarcação de apoio ao lado do navio-plataforma, dispensando o emprego de uma sonda na intervenção. "Assim é possível economizar até 75% em custos operacionais", observa Araújo. A Shell, em conjunto com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, montou um dos maiores tanques de simulação estratigráfica do mundo. Com investimento inicial de R$ 3 milhões, o tanque comporta 980 mil litros de água e ajudará a entender os locais de exploração - visando otimizar a produção. Outra que já colhe resultados de suas inovações é a Aker Solutions. A empresa está entregando para a Petrobras as primeiras árvores de natal - equipamento submarino para escoamento do óleo do poço - específicas para o pré-sal, informa o presidente da empresa, Luis Araújo. "No pré-sal temos altas pressões e temperaturas e uma grande incidência de produtos corrosivos", comenta. A Aker já estuda a criação de um Centro de Tecnologia no país, que atuaria em outras frentes também. A Aker, lembra seu presidente, vem desenvolvendo sistemas e produtos que compõem a chamada fábrica submarina. "Já existem alguns protótipos e sistemas inteiros operando no mundo", diz. Ainda este ano, outra unidade voltada para inovação no setor de óleo e gás deve ser inaugurada, também no Fundão. É o Centro Global de Pesquisas e Desenvolvimento da Siemens, que está investindo cerca de R$ 50 milhões. Em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele vai ter, entre seus temas, a tecnologia de eletrificação submarina e seus componentes, que poderão ser usados no pré-sal. Hoje, essa tecnologia vem sendo desenvolvida na Noruega e no Reino Unido e deve ser testada em 2014. A empresa trabalha em novos sistemas de eletrificação que poderão ser instalados em lâminas d'água de até três mil metros. Com isso, viabilizam-se conjuntos de produção próximos aos poços no fundo do mar, visando um aumento de recuperação de óleo dos reservatórios, informa o diretor da Divisão de Óleo e Gás da Siemens no Brasil, Welter Benício. Já a GE prevê inaugurar em 2014 o seu Centro de Pesquisas Global no Brasil do Fundão. O investimento é de R$ 500 milhões para um período de cinco anos. Enquanto o centro não fica pronto, os pesquisadores já colocam a mão na massa em parceria com o Parque Tecnológico da UFRJ. "Eles estão focados em entender as demandas específicas para o desenvolvimento de novas soluções e tecnologias aplicadas ao pré-sal, relacionadas à perfuração de poços, produção submarina e garantias de escoamento", observa o líder do Centro de Pesquisas Global da GE no Brasil, Ken Herd. (Simone Goldberg)