Credores do Rede analisarão nova oferta pelo grupo

A primeira assembleia de credores do grupo Rede promete ser agitada. A reunião será realizada na quarta-feira, às 10 horas, no hotel PanAmericano, no centro de São Paulo, e será conduzida pela Deloitte, firma de consultoria responsável pela administração da recuperação judicial do conglomerado paulista de energia. Além das manifestações contrárias ao plano já feitas por alguns credores, entre eles o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras (Petros) e o Banco do Nordeste (BNB), a Copel e a Energisa deram, na semana passada, uma última cartada para tentar adquirir os ativos operacionais do Rede. As duas empresas vão levar à assembleia de credores uma contraproposta, na qual se dispõem a "igualar ou superar" outras ofertas pelos ativos do Rede. O objetivo é derrubar o acordo firmado no dia 19 de dezembro de 2012 pelo herdeiro da companhia, Jorge Queiroz, com a CPFL e a Equatorial. Na última semana, a estatal paranaense e o grupo mineiro enviaram ao juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo uma proposta alternativa para aquisição das oito distribuidoras e a geradora do grupo. As duas oferecem R$ 3,2 bilhões, entre pagamentos em dinheiro e assunção de obrigações, e solicitaram que a proposta seja analisada na assembleia de credores. De acordo com a proposta, Copel e Energisa pretendem desembolsar R$ 1,811 bilhão em dinheiro para o grupo Rede. Do total, elas propõem pagar cerca de R$ 1,3 bilhão à vista e R$ 500 milhões parcelados em cinco anos. O restante é relativo a assunção de obrigações. Desse montante, R$ 812 milhões são propostos para o plano de correção de falhas e transgressões que motivaram a intervenção pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nas oito distribuidoras. E outros R$ 567 milhões são relativos à assunção de fianças, aval e garantias que o grupo Rede deu para operações de empréstimos de suas empresas. O diretor-presidente da Energisa, Ricardo Botelho, afirma que sua proposta é a "mais atraente". Segundo ele, o plano apresentado pela CPFL e Equatorial, em valor presente líquido, prevê um pagamento de R$ 450 milhões para o Rede e seus credores. "Ao comprarmos ativos e entregarmos para a empresa em recuperação judicial também damos uma solução muito mais ágil para o problema de intervenção das concessionárias. Nossa proposta busca trazer também uma agilidade e uma simplificação nesse processo para que ele não se arraste tanto", disse Botelho ao Valor. A Copel realiza hoje uma teleconferência para esclarecer detalhes da proposta de aquisição dos ativos do Rede Segundo uma fonte, a Equatorial e a CPFL podem modificar alguns pontos da proposta inicial. Ainda há espaço para que elas melhorem algumas condições. As duas empresas também veem "fragilidades" na contraproposta feita pelos dois concorrentes. O fato de não se tratar de uma oferta firme é uma delas. No documento enviado ao juiz, Energisa e Copel afirmam que a oferta depende de uma auditoria e que só depois disso confirmarão ou não os termos propostos. No documento protocolado na Justiça, as empresas solicitam um prazo de 60 dias para a realização da auditoria. "Não tivemos amplo acesso às informações do Rede", afirmou Botelho, referindo-se ao acordo de exclusividade assinado pelo controlador do grupo, o empresário Jorge Queiroz, com CPFL e Equatorial. Segundo Botelho, Copel e Energisa ainda não determinaram qual será a participação de cada empresa no negócio, caso ele venha a ser concretizado. O executivo também disse que as empresas têm condições de caixa favoráveis para realizar a operação. "O consórcio tem recursos. Ambas as empresas estão líquidas e capitalizadas para poder arcar com esses custos", afirmou. A proposta da Copel e Energisa envolve a participação do Rede nas distribuidoras Celtins (TO), Cemat (MT), Enersul (MS) e CFLO (PR) e Caiuá, CNEE, EEVP e Bragantina, localizadas em São Paulo. A oferta de compra inclui ainda a Tangará Energia, que tem 64% da hidrelétrica de Guaporé (MT), de 120 MW de potência. A Copel fará uma teleconferência hoje para esclarecer os detalhes da proposta de aquisição das empresas do grupo Rede. O Valor apurou que a maioria dos credores do Rede está insatisfeita com o plano de recuperação judicial da companhia e com o acordo de exclusividade firmado com CPFL e Equatorial. Alguns credores, no entanto, preferem aceitar o plano e receber rapidamente a quantia oferecida, ainda que tenham perdas significativas, em vez de prolongarem o processo. O plano de recuperação prevê a venda do Rede para a CPFL e Equatorial pelo valor simbólico de R$ 1,00 e compromisso de investimentos de R$ 1,8 bilhão. A proposta prevê o pagamento de até R$ 839 milhões para credores com garantia real e de até R$ 1,39 bilhão para credores quirografários. Em 24 de maio, o BNB rejeitou o plano de recuperação judicial do Rede na assembleia geral de debenturistas da quarta emissão do grupo. O banco é detentor da totalidade das debêntures. Em abril, a Petros apresentou ao juiz da recuperação judicial do grupo Rede objeções ao plano proposto pela Equatorial e a CPFL. (Rodrigo Polito e Claudia Facchini)