Déficit ameaça o caixa de distribuidoras de energia

Distribuidoras ficam descobertas e pedem socorro ao governo. Sem dinheiro em caixa para arcar com os custos milionários da geração térmica no curto prazo, as distribuidoras de energia elétrica pediram socorro ao governo federal. Segundo Marco Delgado, diretor da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), uma das propostas encaminhadas às autoridades em Brasília é a concessão de um empréstimo emergencial para financiamento de capital de giro das empresas. A ideia é que esse financiamento seja subsidiado e setorial, para todas as companhias. Além das despesas com a geração térmica, que custou ao país R$ 900 milhões em dezembro, as distribuidoras também ficaram mais expostas aos preços da energia no mercado disponível (spot) a partir de dezembro, quando venceram contratos de energia nova, levada a leilão em 2005. Segundo Delgado, as companhias possuem hoje um déficit de 2 mil MW, que terá de ser comprada no mercado spot, por preços exorbitantes. Em janeiro, os preços se situaram em torno de R$ 400 por MWh. Esses contratos de energia não foram repostos no ano passado, quando o governo suspendeu os leilões após a publicação da Medida Provisória 579. A nova lei destinou 100% da energia gerada pelas hidrelétricas que tiveram suas concessões renovadas para as distribuidoras (mercado cativo). E havia expectativas de que esse volume de energia seria suficiente para cobrir todas a demanda das empresas. Segundo Delgado, a expectativa é que o governo faça, "o mais rápido possível", um leilão de energia disponível, que foi apelidada pelo setor de "A-O", para que as distribuidoras não tenham de pagar por essa energia os preços no mercado spot. A Abradee também sugeriu que o governo parcelasse o pagamento do Encargo de Serviço do Sistema (ESS), que é cobrado mensalmente das empresas e inclui os custos com e entrada em funcionamento das termelétricas. A decisão de ligar as usinas cabe ao Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS). De acordo com estimativas feitas pelo a analista do Santander, Márcio Prado, os gastos com a geração térmica vão requerer das distribuidoras R$ 18 bilhões em capital de giro ao longo deste ano, valor que supera a geração de caixa consolidada (medida pelo lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, Ebitda) das empresas no Brasil. Segundo ele, 59% dos custos com as termoelétricas são bancados, ainda que temporariamente, pelas distribuidoras. Os custos serão repassados para os consumidores finais na data do reajuste tarifário de cada uma das distribuidoras. Quanto mais distante a data de reajuste, maior o impacto sobre o capital de giro. As estimativas da Abradee mostram que os despachos térmicos passaram a consumir entre 50% e 60%, em média, a geração de caixa (Ebitda) das distribuidoras. "Em alguns casos, esse percentual é de 90%, 120% e 130%", diz Delgado. Segundo ele, o caixa das companhias está comprometido com outras obrigações, como investimentos, o que torna a situação muito complicada para as companhias no curto prazo. A solução, afirma, precisa ser rápida. (Cláudia Facchini)