Energia cara ainda é um dos principais obstáculos

Anunciada pelo governo federal em fevereiro, a redução das tarifas de energia elétrica teve um impacto limitado para os fabricantes de alumínio. No mercado cativo (em que residências, pequeno comércio e indústria compram de distribuidoras regionais), a redução chegou a 28%, mas para os consumidores livres (grandes indústrias e shoppings), que compram livremente de comercializadoras e geradoras, o impacto foi bem menor. "No máximo, chegou a 10%, mas a alta dos custos pelo acionamento das térmicas a gás poderá limitar essa queda", afirma Adjarma Azevedo, presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Essa queda melhorou pouco a situação da indústria: o preço da energia para o setor de alumínio caiu de US$ 80 o MWh para US$ 72, mantendo-se ainda quase o dobro dos US$ 40 o MWh registrados na média mundial do ramo. Se dessa conta for retirada a China, cuja matriz elétrica é mais cara que a de outros países, o preço da energia no mundo cai para US$ 28, quase um terço da cobrada no Brasil. A queda de preço no mercado livre foi mais baixa que a do cativo. Parte da explicação está no fato de que o governo usou a energia dos ativos de concessões de geração que venceriam entre 2013 e 2017 para reduzir a cotação do insumo no mercado cativo. As concessionárias cujos ativos expiravam nesses anos e aceitaram os termos do governo da MP 579 passaram a apenas operar e manter as usinas. Na regulação anterior, vendiam a mais de R$ 90 o MWh e agora terão de aceitar preços ao redor de R$ 20 o MWh. Todos esses lotes com preço mais baixo foram alocados no mercado cativo. "Com a decisão de alocar essas cotas de energia somente para as distribuidoras no mercado cativo, a redução para os consumidores do mercado livre foi menor. A redução para os consumidores livres se resumiu à redução dos encargos e à tarifa de transmissão. Assim a queda para a indústria de base ficou entre 10% e 15%", diz Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina & Caribe. "Sem dúvida, a medida do governo melhora a competitividade da indústria, e, principalmente, tem o potencial de reverter a escalada do custo da energia verificada na última década. Mas ainda é insuficiente para restabelecer a competitividade da indústria de alumínio", diz. O executivo ressalta que a necessidade de alto despacho térmico em 2013, por conta do baixo nível dos reservatórios e, consequentemente, o aumento do encargo utilizado para custear esse despacho, poderá neutralizar parte do benefício criado pela MP 579. Os reservatórios das hidrelétricas, que respondem por cerca de 80% da geração de energia elétrica no país, estão no nível mais baixo em mais de dez anos. Para evitar problemas, o governo mandou acionar as térmicas, responsáveis hoje por cerca de 20% da energia consumida no país. O uso delas tem um custo, no mínimo, cinco vezes mais alto que a energia hídrica -, sendo que térmica a óleo pode custar mais de R$ 1000 o MWh. A Novelis, uma das líderes mundiais em laminados de alumínio, tem 60% de auto-produção de energia e os outros 40% atendidos pelo mercado livre, em contratos de curto, médio e longo prazo. Em fevereiro, quando o governo anunciou a queda de energia, a empresa viu uma redução de 13% nas contas de luz, mas o resultado final no fim do mês foi muito menor: cerca de apenas 1%, reduzido por conta dos encargos cobrados dos consumidores pelo acionamento das térmicas a gás natural. Em março, o governo alterou a metodologia do cálculo e compartilhou os custos do despacho de energia térmica com outros elos da cadeia, como geradoras e comercializadoras. A redução então para a empresa chegou a cerca de 5%. "Toda redução de custo é importante, mas ela teve um impacto pequeno", diz o presidente da Novelis América do Sul, Marco Palmieri. Há outra preocupação em relação aos custos. Em março, o governo editou a resolução número 3 do Conselho Nacional de Política Energética, mudando a forma como é feito o cálculo do custo de acionamento das térmicas a gás natural. Anteriormente, esse custo era do consumidor e passou a poder ser dividido entre outros elos da cadeia, como auto-produtores e e geradores. "Essa resolução criou um risco regulatório para as empresas que investiram em auto-geração. Uma mudança nas regras pode tirar de vez a competitividade do setor", afirma Feder. (Roberto Rockmann)