Energia limpa no lugar certo

Estudo defende que é preciso calcular o impacto das usinas ecologicamente corretas nos locais onde são instaladas. Nem sempre a região com mais sol e vento é a melhor. Não há dúvidas de que energias renováveis emitem menos dióxido de carbono do que a queima de combustível fóssil. Mas a real eficácia destas energias depende muito de onde elas são instaladas. Ao contrário do que se pensa, lugares como mais sol e vento, por exemplo, não são necessariamente os mais indicados. É o que afirma um estudo inédito divulgado em junho na "Proceedings of the National Academy of Science", publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. De acordo com os pesquisadores, instalações para a captação de energia eólica e solar estão sendo colocadas em regiões onde os benefícios para o meio ambiente e a saúde humana são menores. Muitas vezes, não se leva em conta qual fonte de energia está sendo substituída. Substituir uma usina a gás, por exemplo, não é tão impactante quanto eliminar uma movida a carvão. Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores calcularam a capacidade de geração de energia de turbinas de vento e painéis solares através dos Estados Unidos e avaliaram quais benefícios traziam para o meio ambiente e a saúde da população. Depois, foi estabelecido um custo social de US$ 20 por tonelada de dióxido de carbono emitida, e de US$ 6 milhões por cada morte causada pela poluição atmosférica naquela região. Para usinas de energia eólica, pesquisadores estimam que os benefícios ambientais e para a saúde chegariam a US$ 2,6 bilhões por ano - a cifra equivale a 60% a mais do que o subsídio concedido pelo governo para estimular a difusão desse tipo de energia, de US$ 1,6 bilhão, diz o estudo. No entanto, esses subsídios fazem com que os investidores tendam a procurar lugares com maior concentração de ventos, e não aqueles onde haveria mais benefícios para a população. Com isso, um terço do parque eólico americano está instalado no Texas e na Califórnia, onde, segundo o trabalho, os benefícios são mais baixos. Por outro lado, 5% das usinas estão em Indiana Ohio e Virgínia, onde os ventos trariam mais benefícios ao reduzir a poluição. No caso das usinas solares, não é diferente. Subtraindo os custos sociais, pesquisadores calculam que os benefícios por megawatt/hora produzido por painéis solares variam entre US$ 10 no Arizona, estado muito ensolarado, e até US$ 100 nos estados ao norte do país, onde as usinas limpas substituiriam as mais poluentes, que têm grande impacto sobre a saúde da população. Instalações solares e eólicas reduzem muito mais emissões de dióxido de carbono e poluição do ar quando substituem usinas de carvão, sobretudo nos estados do meio oeste, como Indiana e Pensilvânia. Os benefícios são muito menores na Califórnia e no sudeste dos Estados Unidos, onde as usinas de gás são mais comuns. Os pesquisadores defendem que é preciso se concentrar nos benefícios à população e, para isso, o governo deveria desenvolver um esquema de subsídios que encorajasse a iniciativa privada a perceber isso. Assim, a construção de usinas poderia ser priorizada em lugares onda há mais ganhos para a atmosfera e para a saúde. A forma mais fácil de conseguir isso, segundo o estudo, é pondo preços nas emissões de poluentes e suas fontes, as usinas de energia elétrica. Em entrevista à revista "Nature", a coautora do estudo Inês Lima Azevedo, engenheira ambiental da Universidade Carnegie Mellon, disse compreender o fato de a maioria pensar que "faz todo o sentido instalar o próximo painel solar na ensolarada Califórnia porque o recurso é abundante por lá". Porém, alerta Inês, é preciso levar em conta o volume de emissões que está sendo evitado quando se instalam fontes de energia renovável.