Energia Renovável - Estrangeiros buscam aquisições

O movimento de fusões e aquisições no setor de energias renováveis continuará intenso neste ano no Brasil, especialmente no segmento de energia eólica. "Estamos falando com vários interessados. Esse é um setor que passará por um processo de consolidação no país", afirma Marco Gonçalves, sócio e chefe da área de fusões e aquisições do BTG Pactual. Segundo Vittorio Perone, sócio da área de energia do banco brasileiro, empresas que ainda não estão presentes no país - da Ásia, EUA e Europa - estão em busca de oportunidades, além das próprias elétricas tradicionais estabelecidas no Brasil. De acordo com os dois executivos, é impossível estimar, neste momento, quantos dos negócios atualmente em curso chegarão à reta final. Mas é esperado que o setor continue ativo neste ano. A redução das taxas de retorno forçará as empresas a obter ganhos de escala para rentabilizar os seus negócios, o que contribui para um aumento no número de aquisições, afirma Elbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Ela estima que já existam empresas trabalhando com taxas de retorno abaixo de 8% no país. Perone prevê, contudo, que as taxas de rentabilidade exigidas pelos investidores tendem a se estabilizar e que já estariam em um patamar aceitável. "O último leilão não serviu para nada, só para passar nervoso", disse Elbia, ao se referir aos baixos no certame realizado em dezembro, quando o MWh da energia eólica foi vendido por R$ 88, o mais baixo na série histórica. Devido à oferta de fontes alternativas (vento, sol e biomassa), o mercado brasileiro ocupará cada vez mais uma posição de destaque. Em 2012, o Brasil já respondeu por duas das cinco maiores aquisições no setor de energias renováveis no mundo, ambas no segmento de geração eólica: a aquisição da Bons Ventos pela CPFL, por US$ 529 milhões e a aquisição de 40,6% da Desenvix pela Statkraft, da Noruega, por US$ 529 milhões. Com essas duas operações, o BTG foi o banco que, no ano passado, mais assessorou fusões e aquisições no mundo no mercado de energias renováveis, segundo uma pesquisa feita pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF). As operações também renderam ao escritório brasileiro de advocacia Machado Meyer um primeiro lugar no globo, ao liderar o ranking de assessores jurídicos em fusões e aquisições no setor. Segundo Perona, os desenvolvedores independentes ainda possuem uma grande participação no mercado brasileiro, sobretudo no setor de energia eólica, que expandiu-se mais rapidamente no país. Em outros países, onde o setor deslanchou mais cedo, nos anos 90, muitos dos empreendedores pioneiros saíram de cena e foram adquiridos por grandes empresas. O modelo escolhido pelo governo brasileiro para o desenvolvimento do setor de energias renováveis, baseado em leilões com preços competitivos e não em subsídios, faz com que os projetos no Brasil tenham uma situação financeira mais sólida, diz Perona. Não é esperado que as empresas no país venham a passar pela mesma onda de quebradeira vivida pelas companhias nos Estados Unidos, na Europa e Ásia. Para a presidente da Abeeólica, o Brasil está "mais imune" a esse tipo de problema ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Investimento recua 30%, mas setor prevê retomada. Os investimentos em energias renováveis no Brasil caíram 30%, de US$ 7,9 bilhões em 2011 para US$ 5,5 bilhões em 2012, segundo uma pesquisa feita pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF). Mas o setor ainda não teria perdido o encanto para os investidores, como acontece atualmente nos EUA e Europa, onde a crise obrigou os governos locais a reduzir os subsídios às fontes alternativas de energia. Mundialmente, os investimentos em energia renováveis recuaram 11% no passado, para US$ 268,7 bilhões, segundo a BNEF. Elbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), atribui a queda nos investimentos à suspensão dos leilões de energia nova, que serão retomados pelo governo neste ano. O ano de 2012 foi atípico devido às incertezas com a renovação das concessões, entre outros fatores. "Neste ano, pelo menos 3 mil MW de energia irão a leilão", afirma Elbia. A executiva não consegue prever quanto deste total será de eólica, já que o governo pretende estimular a expansão da geração de energia térmica por razões de segurança energética. O único leilão de energia em 2012 foi considerado um fiasco. Só foram vendidos 574 MW de capacidade instalada, dos quais 282 MW de energia éolica. O volume representou uma freada brusca no ritmo de crescimento do setor, que se expandia no país a uma taxa de 2 mil MW por ano, afirma Elbia. No Brasil, existem hoje praticamente três tipos de investidores no setor eólico: as novas empresas, como a Renova e a Bionergy, as tradicionais, como a CPFL, e os fundos de investimentos, muitos deles ligados ao mercado financeiro, como o banco Santander. Mundialmente, segundo a pesquisa da BNEF, o setor de energias renováveis perdeu o poder de sedução para os investidores financeiros. Os fundos de private equity (participações acionárias) e venture capital (negócios iniciantes) reduziram o total investido no setor em 34% no ano passado, para US$ 5,8 bilhões. A crise, as incertezas quanto às políticas de incentivo e a debilidade financeira das empresas nos EUA e na Europa elevaram o risco do setor. (Cláudia Facchini)