Especialistas elogiam CVaR, mas se preocupam com parâmetros de calibração

Segundo eles, o ideal é que os parâmetros sejam estáveis e que eventuais mudanças sejam debatidas com a sociedade. A CVaR, metodologia de aversão ao risco escolhida pelo governo e anunciada à sociedade na última quarta-feira, 24 de julho, foi elogiada por especialistas ouvidos pela Agência CanalEnergia. Segundo eles, ter um Preço de Liquidação de Diferenças que refletisse o real despacho térmico e operação do sistema era um pleito antigo do setor. No entanto, a nova metodologia precisa de uma calibração dos parâmetros alfa e lâmbida e é justamente essa calibração que preocupa os agentes. "A incorporação de procedimentos de segurança em geral na política operativa é positiva, pois os preços de curto prazo ficam mais coerentes com a operação e diminui o Encargo de Serviço de Sistema", apontou Luiz Barroso, diretor da PSR, acrescentando que a consultoria vem defendendo isso desde 2008, quando foram criados os Procedimentos Operativos de Curto Prazo. Segundo Barroso, um PLD mais realista melhora os sinais econômicos e incentiva a contratação de mais longo prazo, refletindo na expansão. Erik Rego, consultor da Excelência Energética, comentou que, independente da metodologia escolhida, só o intuito de se melhorar a precificação do PLD já é muito positivo. "Isso é mais justo com o usuário, porque reduz o ESS e tenta colocar isso ao máximo dentro do preço", avaliou em entrevista à Agência CanalEnergia. João Mello, presidente da Thymos Energia, diz que sua preferência era realmente pela CVaR - o governo analisava também outra metodologia, a Superfície de Aversão ao Risco (SAR). Segundo ele, a vantagem da CVaR é que ela é mais intuitiva, justamente por ter os parâmetros de calibração. Mello explicou que o alfa significa a percentagem que se quer pegar do conjunto das piores séries históricas e o lâmbida é a ponderação entre esse percentual e o conjunto total das piores séries. "Dependendo dessa calibração, os resultados são diferentes. A parte ruim da CVaR é ter que definir esses parâmetros", disse. Rego, da Excelência Energética, diz que esse é seu único ponto de preocupação. Para o consultor, o ideal é que os parâmetros fossem discutidos com a sociedade, através de uma audiência pública, e que eles só pudessem ser mudados com novas discussões abertas com os agentes. "Não é interessante que o governo possa ficar mudando isso quando tiver vontade. Em ano eleitoral, por exemplo, se os parâmetros puderem ser mudados, pode-se decidir por gastar mais água dos reservatórios e reduzir o despacho térmico", comentou. Barroso, da PSR, lembrou, no entanto, que o Ministério de Minas e Energia disse que os parâmetros de calibração devem ficar estáveis e que o acionamento complementar de térmicas não iria ocorrer, o que contribui para a previsibilidade dos custos. Mas, ele concorda que a calibração dos parâmetros é uma dificuldade. "Dado que estes parâmetros não estão diretamente relacionados com a segurança do suprimento, fica mais difícil ter um critério objetivo para calibrar", afirmou. Adicionalmente, ainda de acordo com Barroso, se a calibração é indireta e o critério de segurança de suprimento não é explícito, fica difícil garantir que os parâmetros vão estar adequados tanto para as configurações do Programa Mensal de Operação como as do planejamento, como é o objetivo do governo. "O fato de a segurança do suprimento não ser um parâmetro de calibração explícito do algoritmo torna mais difícil garantir a priori que vão terminar as solicitações de despacho suplementar pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico", analisou. Outro problema apontado por Barroso é que o impacto da metodologia selecionada na tarifa de energia não foi estudado, mas a percepção é que o custo da energia será beneficiado com a redução do ESS. "Na opinião da PSR estes efeitos são mais complicados. Por exemplo, embora o ESS reduza, o despacho térmico aumenta e, com ele, o custo dos contratos por disponibilidade. O aumento do PLD eleva o custo de energia das distribuidoras expostas ao mercado de curto prazo, mas reduz o Encargo de Energia de Reserva", comentou. Segundo ele, as simulações da PSR indicam que há um "efeito bumerangue" que, apesar de reduzir o ESS, pode acabar aumentando a tarifa final e esses impactos variam bastante por distribuidora. "Raciocínio similar se aplica aos contratos no ACL. Embora o ESS seja reduzido, os mesmos podem se reequilibrar a outros níveis de preços, dependendo do impacto do CVaR no PLD", avaliou Barroso. Ele disse ainda que a PSR acha muito positivo o governo ter anunciado que vai continuar a pesquisa sobre a SAR. Mello, da Thymos, acredita que com a CVaR o preço do PLD deve ficar próximo ao que hoje é chamado de PLD final. "Por raciocínio, dependendo de como os parâmetros forem ajustados, entendo que o PLD deveria ficar próximo ao valor que hoje tem o PLD final, porque ele está refletindo o despacho térmico", concluiu Mello. (Carolina Medeiros)