Especulação causa mal-estar entre companhias geradoras

A especulação no mercado de energia em janeiro provocou um racha entre as geradoras e criou mal estar no setor. Embora a movimentação das empresas não tenha sido ilegal, as perdas causaram incômodo e alimentaram um sentimento de casas às bruxas. Em teleconferência realizada ontem com analistas de investimentos, o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Júnior, afirmou que a empresa não especulou com os preços da energia em janeiro. "Não operamos nossos ativos de geração de forma especulativa, mas de forma técnica", disse Ferreira. Segundo ele, a CPFL não fez uma alocação de energia (chamada de sazonalização) "atípica" em janeiro. Na sazonalização, as empresas distribuem ao longo dos meses o volume de energia que irão fornecer para o sistema elétrico em todo o ano. Uma brecha aberta pela MP 579, que renovou antecipadamente as concessões vincendas, possibilitou que alguns geradores alocassem um grande volume de energia em janeiro e tirassem proveito dos altos preços no mercado spot (ou Preço de Liquidação das Diferenças-PLD), que superou R$ 400 por MWh nesse período. A movimentação de algumas geradoras parece ter pego de surpresa a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que decidiu suspender a liquidação financeira das posições referentes a janeiro na Câmara de Comercialização de Energia (CCEE). A liquidação foi colocada em audiência pública e a sazonalização de janeiro pode ser desfeita. Segundo Ferreira, como a CPFL não fez uma alocação maior do que a normal em janeiro, qualquer decisão que venha a ser tomada pela Aneel será indiferente. O diretor de comercialização da AES Tietê, a terceira maior geradora de energia do país, Ricardo Cyrino, afirmou que a empresa aguarda os desdobramentos. "Vamos ver o que vai ser definido. Como está tudo subjudice, nada aconteceu". É inevitável, diz Cyrino, que todas os geradores fiquem expostos ao PLD sempre que houver uma redução na produção das hidrelétricas. De acordo com Ferreira, se a CPFL alocasse um grande volume de energia ("long") em janeiro para se beneficiar dos altos preços, ficaria descoberta ("short") nos meses seguintes. Como os preços tendem a continuar elevados, principalmente após as mudanças no cálculo do PLD, a empresa correria riscos financeiros. Provavelmente, as empresas que alocaram grandes volumes de energia em janeiro foram as geradoras que não têm contratos de longo prazo do ano e que, por isso, não correm o risco de ficarem descobertas nos meses seguintes. As empresas nessa situação seriam aquelas com concessões a vencer, como Cesp e Cemig. Procuradas, as empresas não se manifestaram sobre o assunto. (Cláudia Facchini)