Exemplo da HRT mostra os riscos do setor de óleo e gás

Já era esperado, mas o fato de a HRT ter encontrado um poço não comercial na Namíbia, que deve ser lançado como seco, é um ótimo exemplo do que se costuma chamar de "risco exploratório" de uma companhia de petróleo. A empresa fundada pelo geoquímico Marcio Mello tem o risco no seu DNA desde o início e a dúvida, de poucos, é se ela tem cacife para continuar nesse jogo. Na Amazônia, a companhia se lançou em um programa exploratório quase inédito em uma região que, além do calor asfixiante e acidez do solo em meio à selva fechada, tinha outros riscos que ficam mais claros agora. Além das condições extremas, a região não tem qualquer infraestrutura de transporte, principalmente para escoar o gás que encontrou quando esperava achar óleo leve. Para começar a operar, a HRT teve que criar uma companhia de aviação. Na África, a empresa obteve concessões do governo namíbio e assumiu o risco de perfurar em uma das áreas gigantescas com pouquíssima informação geológica, onde poucas companhias estiveram. É o tipo de risco que pode pagar prêmios altíssimos. Mas será esse o caso da HRT? No Brasil, a Petrobras descobriu Parati, a primeira descoberta no pré-sal, depois de uma ousada campanha de perfuração que estava deixando nervosos os chefes na avenida Chile, sede da estatal. Por causa da insistência de alguns "malucos" da área de exploração e US$ 240 milhões depois, a Petrobras se viu diante de uma nova província e, logo em seguida, encontrou em outro bloco na mesma área, o campo de Tupi (renomeado como Lula em homenagem ao ex-presidente da República). Foi o maior campo descoberto no mundo em 30 anos. Risco parecido correu o consórcio liderado pela ExxonMobil no pré-sal brasileiro. A companhia era operadora do bloco BM-S-22 onde a própria ANP suspeitava que estivesse o maior prospecto de todo o pré-sal, com um reservatório que poderia ter 8 bilhões de barris de petróleo recuperáveis. Três furos e algumas centenas de milhões de dólares depois, os poços batizados de Azulão (com descoberta), Guarani (seco) e Sabiá (seco), foram fechados e o bloco devolvido para a ANP. Na Namíbia, a inglesa Chariot furou um poço seco no ano passado - Tapir South-1 - e, apesar de não fazer divulgação disso, a Petrobras também. A estatal brasileira era operadora, com 30%, de um poço chamado Kabeljou-1, junto com os sócios BP (45%) e Chariot (25%). Kabeljou foi perfurado entre julho e setembro de 2012, estava seco e custou US$ 86 milhões. Cautelosamente, a Petrobras só tinha 30% e um acordo de carregamento dela pela BP (em que a inglesa bancava parte dos custos da brasileira) fez com o prejuízo fosse de apenas US$ 14 milhões. O consórcio era formado por Petrobras (operadora com 30%), BP (45%) e Chariot (25%). Os casos descritos com detalhes anteriormente são exemplos de risco e de recompensa. Contudo, uma grande diferença separa a HRT da ExxonMobil, da Petrobras e BP, e o nome disso é caixa, para ficar apenas no óbvio. A companhia independente brasileira tinha R$ 829 milhões no fim do primeiro trimestre, vários compromissos com fornecedores, inclusive o Credit Suisse, que emprestou o dinheiro para pagar BP pela compra do campo de Polvo, e vai para mais uma aposta arriscada começando a perfurar um segundo poço na Namíbia. Para os investidores, a questão principal agora é saber qual o espaço de manobra diante de tais riscos. A chance de encontrar óleo no segundo poço volta a ser de 25%. Façam suas apostas. (Cláudia Schüffner)