Falta de reajustes deixou rede de problemas
Uma das consequências dessa política foi a perda de competitividade do álcool, com redução do investimento.
A política de contenção de reajustes da gasolina para segurar a taxa de inflação, adotada pelo governo nos últimos anos, não prejudicou apenas o caixa da Petrobras, mas deixou uma rede de problemas para muitos setores.
O álcool perdeu competitividade interna, levando as usinas a investir menos na renovação dos canaviais e, consequentemente, a uma produção e moagem menores.
Os efeitos dessa política levaram também a menos emprego, menor industrialização e transferência de empregos e receitas para o exterior devido à aceleração na importação de gasolina.
O reajuste da gasolina vem em boa hora para o setor. Muitas usinas voltaram a renovar os canaviais e a moagem deverá ser recorde.
Sem um acerto no preço da gasolina, o que eleva também o valor do álcool, parte desse produto seria levado para fora, como ocorreu em 2012.
A elevação da mistura de etanol na gasolina para 25% também auxiliará na desova da produção.
A comparação dos números do setor de 2009 e os de 2012 apontam as distorções.
Em 2009, o consumo nacional de gasolina foi de 25,4 bilhões de litros, subindo para 39,5 bilhões no ano passado. O crescimento foi de 55%.
No mesmo período, a utilização de álcool hidratado pelos consumidores recuou para 10 bilhões de litros, 39% menos do que em 2009.
Essa queda na venda de etanol hidratado ocorreu devido, boa parte, à perda de competitividade em relação à gasolina.
No início de 2009, o barril de petróleo Brent estava a US$ 47, ante os US$ 114 atuais. O preço da gasolina nos postos de São Paulo saiu de R$ 2,477 no início daquele ano para os atuais R$ 2,649, conforme pesquisa semanal feita pela Folha.
A participação do álcool hidratado era de 31% do total do consumo de 2009. Esse álcool substitui o uso de 11,5 bilhões de litros de gasolina.
No ano passado, ao somar 10 bilhões de litros, o etanol equivaleu a 7 bilhões de litros de gasolina e atingiu apenas 15% do total de consumo.
Se os preços internos do etanol tivessem sido competitivos, e o país tivesse mantido o percentual de 31% do total do consumo nacional, os postos teriam comercializado 20,6 bilhões de litros de etanol no ano passado.
Esses 10,6 bilhões de litros a mais correspondem a 7,4 bilhões de litros de gasolina C (o que corresponde a 6 bilhões de litros de gasolina A). Ou seja, o país não teria sido obrigado a importar os 4 bilhões de litros de gasolina A em 2012. As usinas, por sua vez, não teriam exportado 3,1 bilhões de litros de álcool.
As consequências foram que as exportações de gasolina -que chegaram a 3,7 bilhões de litros em 2007, com receitas de US$ 1,83 bilhão- recuaram para 120 milhões de litros em 2012, rendendo apenas US$ 90 milhões.
Já as importações, que eram praticamente inexistentes em 2009, atingiram os 4 bilhões de litros no ano passado, com gastos de US$ 3,3 bilhões.
(Mauro Zafalon)