Gargalos aparecem na energia

Empresas paulistas reclamam de dificuldades para expandir negócios devido a limitações no fornecimento. Mais um gargalo estrutural parece estar se formando em São Paulo. A energia elétrica pode se juntar à problemática infraestrutura logísticos, bem conhecida dos paulistanos e, em conseqüência, algumas empresas de grande porte ameaçam até em sair da capital devido a dificuldades em obter energia. Em três casos distintos, que envolviam a concessionária AES Eletropaulo, consumidores saíram desanimados da conversa com a distribuidora. Todos reclamaram do alto custo da expansão de carga necessária para viabilizar os investimentos e do enorme prazo estabelecido pela concessionária, caso as obras fossem custeadas por ela. No mais emblemático, está o pedido da Locaweb de dobrar a carga fornecida em sua unidade. Para isso, precisaria mudar de classificação e passar para um consumidor A2. Isso travou os investimentos da empresa. Para viabilizar a expansão do datacenter, localizado na Marginal Pinheiros, a empresa teria de pagar toda a infraestrutura necessária para receber a energia em uma nova tensão. Caso não quisesse pagar, o prazo dado pela concessionária para concluir as obras em 2018 inviabilizou até mesmo as negociações. "Para a demanda atual da companhia, a Eletropaulo é capaz de atender à necessidade de fornecimento de energia, inclusive com folga. Entretanto, ao projetarmos um cenário com lotação máxima desse datacenter principal, a Eletropaulo não seria capaz de atender ao volume exigido", diz Alexandre Glikas, diretor comercial da Locaweb. "Estamos em freqüente contato com eles (da Eletropaulo) e estudando opções que suportem esse nosso crescimento", complementa. Já na casa de eventos Espaço Bela Cintra, na esquina da tradicional rua com a Avenida Paulista, o pedido foi semelhante a troca do fornecimento de energia de uma residência para uma casa de eventos. As instalações subterrâneas dificultaram a vida do proprietário, Leonard Signer e Cruz. Ele até chegou a pagar por parte da obra, como prevê a legislação, mas a distribuidora estourou o prazo de 90 dias para a conclusão dos trabalhos. Signer pretende processar a companhia. Em três situações diferentes, que envolviam a concessionária AES Eletropaulo, consumidores saíram desanimados da conversa com a distribuidora. De acordo com ex-executivo da distribuidora, em alguns casos pontuais, em áreas afastadas, a concessionária pode efetivamente ter dificuldade para atender aos pedidos "Em julho foi pedido o aumento de carga, mas só no final de dezembro recebi uma proposta. Fechamos um contrato em janeiro. Depois de 90 dias, prazo que expirou em abril, ainda não recebi a carga pedida. Não deram conta!" No terceiro caso este já solucionado o Shopping Iguatemi Alphaville, na Grande São Paulo, pediu uma linha de alta tensão em 2009. A AES Eletropaulo avisou que só instalaria em 2013. A saída foi um investimento milionário feito pela Iguatemi. De acordo com o ex-diretor da Eletropaulo VictorKodia, o gargalo ainda não é generalizado, mas pontual. Acontece, principalmente, em áreas afastadas, onde a distribuidora pode ter dificuldade de atender aos pedidos. Kodia, que atualmente é presidente do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), diz que a distribuidora tem recursos limitados e foca áreas de alto crescimento de consumo, como aregião de Itaquera, na zona leste de São Paulo. "Não há mais solução rápida e barata na capital. Existem gargalos específicos, mas a distribuidora não pode fazer investimentos vultuosos apenas porque alguém quer. Ela também tem limitações", avalia. Eletropaulo diz agir de acordo com a regulação Questionada pela reportagem sobre a reclamação de alguns clientes, o diretor de operações da Eletropaulo, Otávio Grilo, diz que em alguns casos podem existir fatores limitantes. "O problema das ligações subterrâneas é a construção civil", exemplificou. No caso da Locaweb, Grilo diz que, de acordo com a Resolução 414/2010 da Aneel, a necessidade de mudança para a alta tensão retira da Eletropaulo a responsabilidade dos investimentos necessários para que o cliente receba a nova carga. "Atendemos qualquerdemanda dentro na nossa área de concessão e que esteja de acordo com a resolução." Griloressaltqaquea capacidade de fornecimento da concessionária em São Paulo é de 13,8 GW, enquanto que o pico de consumo da capital é de 8,3 GW. (Gustavo Machado)