Gávea prevê dar "musculatura" para a Energisa

A Energisa, grupo tradicional do setor elétrico controlado pela família Botelho, de Minas Gerais, ganhou um aliado de peso na disputa para aquisição dos ativos do Grupo Rede, cujos credores reúnem-se amanhã, em um hotel em São Paulo. A Gávea Investimentos, gestora de fundos fundada por Armínio Fraga, que presidiu o Banco Central durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), comprou 10,7% do capital do grupo mineiro há cerca de quinze dias. O valor do negócio não foi revelado. Na bolsa, a Energisa vale R$ 3 bilhões. Os Botelho fecharam o acordo com a gestora de fundos de private equity depois que a Copel decidiu sair do negócio. A estatal paranaense seria sócia minoritária da Energisa na aquisição do Rede, mas desistiu da disputa alguns dias depois da primeira reunião de credores do conglomerado paulista, realizada no dia 05 de junho, em São Paulo. A saída da Copel foi considerada uma derrota para a Energisa. A entrada da Gávea no capital da companhia representa agora um reforço importante para o grupo mineiro. "Conhecemos os acionistas e executivos da Energisa", disse Fraga, em entrevista ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. O investimento, segundo ele, está sendo feito por meio de um fundo de longo prazo, o que "espelha a confiança na capacidade de gestão do grupo". A Gávea espera dar à Energisa "musculatura financeira", diz Fraga. Mas ele nega que a decisão de investir no capital da companhia tenha a ver com a disputa pelos ativos do endividado conglomerado paulista de energia, protagonista de uma das maiores recuperações judiciais do país. Segundo ele, a Energisa já estava "preparada" para fazer a aquisição do Rede, antes da entrada da Gávea em seu capital. A Energisa trava uma dura batalha contra o consórcio formado pela CPFL e a Equatorial, que já assinaram um compromisso de compra e venda com o controlador do Rede, Jorge Queiroz. Amanhã, os credores do Rede realizam uma assembleia, na qual decidem se aceitam o plano proposto pela CPFL-Equatorial. A Energisa tenta fazer com a sua proposta também seja submetida à assembleia, mas não se sabe se isso vai ocorrer. O ex-presidente do BC não quis prever quais eram, a seu ver, as chances de a Energisa sair vitoriosa em sua queda de braço, numa escala de 0 a 10. Segundo ele, a Gávea enxerga potencial de crescimento no setor de distribuição e geração. "A Energisa será um parceiro para explorar essas oportunidades", disse Fraga, citando, entre os possíveis vetores de expansão, uma eventual privatização das distribuidoras de energia controladas pela Eletrobras e a construção de projetos de geração, como eólicas e pequenas hidrelétricas (PCHs). O representante da Gávea no conselho de administração da Energisa será Ronnie Vaz Moreira, ex-vice-presidente da Light e ex-diretor financeiro da Petrobras, onde ocupou o cargo entre 1999 e 2001. Segundo Moreira, assim como a crise enfrentada pelo Rede, a Light também passou por tempos difíceis e conseguiu reestrutura-se. Sobre a possível aquisição do grupo, o executivo afirmou tratar-se de um negócio que traz "grande desafios e grandes oportunidades". Mas a expansão da Energisa não depende apenas dessa aquisição. Segundo Moreira, a empresa quer voltar a investir em geração e já possui na prateleira projetos de 500 MW. A Energisa também teria espaço para contrair mais dívidas, avalia. Em 2012, a dívida representava 2,8 vezes a sua geração de caixa ajustada (medida pelo Ebitda). (Cláudia Facchini)