Geradores já participam do custeio das térmicas e são prejudicados em cenários de baixa afluência, diz Abrage

Apine defende que custos da operação fora da ordem de mérito sejam refletidos no PLD. A tese defendida pela Associação Nacional dos Consumidores de Energia de ratear os gastos com termelétricas fora da ordem de mérito entre consumidores e geradores não agradou os agentes de geração. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia, os geradores hidrelétricos já participam do custeio das termelétricas e são bastante prejudicados em situações de baixas afluências. Isso porque, com o objetivo de atender de forma mais econômica o mercado brasileiro, com benefícios para o consumidor, as hidrelétricas são frequentemente despachadas para atender, além dos seus contratos de energia, também o mercado das usinas termelétricas. "Isso provoca, inicialmente, um deplecionamento que resulta, quando as afluências não são suficientes, em despachos fora da ordem de mérito, para atingimento do Nível Meta estabelecido pela aplicação da metodologia do Procedimento Operativo de Curto Prazo. De outra forma, se as usinas termelétricas fossem continuamente despachadas na base para atender ao seu mercado, os níveis de armazenamento das UHE's estariam hoje em patamares mais elevados", defendeu a Abrage em comunicado enviado à Agência CanalEnergia. A associação explicou que quando os reservatórios estão em níveis altos e as hidrelétricas geram acima da sua garantia física, cobrindo os contratos das térmicas, estas últimas compram essa energia a preço do PLD, sendo que nesse momento o preço está baixo. Quando ocorre o contrário e as térmicas precisam gerar cobrindo parcialmente os contratos das hidrelétricas, estas também pagam a diferença ao preço do PLD. Só que nesse cenário, o PLD está em níveis muito altos. "Na contabilização realizada pela CCEE referente ao mês de novembro de 2012, os agentes hidrelétricos que compõem o MRE tiveram uma exposição de quase 10% ao PLD médio de R$ 375/MWh, o que representa um custo de R$ 1,2 bilhão em apenas um mês operativo", destacou a associação. A Abrage entende que esse custo faz parte do risco do negócio da geração e que não seria adequado exportá-lo aos demais agentes do Sistema Interligado Nacional. "Da mesma forma, não é adequado alocar aos geradores os custos de geração termelétrica de responsabilidade da carga. Entretanto, esse custo, de grande magnitude, evidencia que os geradores hidrelétricos já participam do custeio das termelétricas e são bastante prejudicados em situações de baixas afluências", declarou. Para o presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia, Luiz Fernando Vianna, a solução para o consumidor não é dividir a conta com o gerador. Segundo ele, o PLD deveria refletir esse custo operativo. "Espero que no decorrer desse ano haja uma alteração na formulação do PLD, trazendo para dentro do preço a operação fora da ordem de mérito", disse o executivo. Ele contou que já existem estudos bastante avançados sobre o tema para ajustar o modelo e incorporar esses custos ao preço spot. A Abrage disse ainda que o rateio desses custos entre consumidores e geradores, como sugeriu a Anace, aumentaria a insegurança regulatória percebida pelos geradores, que não contemplaram em suas concessões essa possibilidade, trazendo graves consequências no equilíbrio econômico-financeiro dessas empresas. A Anace defende que a conta seja rachada, pois tanto os consumidores quanto os geradores correm o risco hidrológico. (Carolina Medeiros e Milton Leal) -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- CCEE descarta aumento do risco de inadimplência relativo à exposição das geradoras e distribuidoras. Situação financeira crítica das distribuidoras e exposição das geradoras ao MRE são os principais fatores que preocupam os agentes. O mercado de energia ficou temeroso do que poderá vir a acontecer na liquidação das operações de janeiro. Antes do fim do período para registro de contratos, os spreads negociados nas transações de compra e venda de energia chegaram a ficar quase R$ 20 por MWh negativos na plataforma de negociação do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia. O risco de inadimplência de distribuidoras que enfrentam problemas financeiros conjunturais e de geradoras expostas ao Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) deixaram os agentes nervosos. O conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Paulo Born, contudo, acredita que não há motivo para preocupação. Ele cita a nova regra de aporte de garantias financeiras como um instrumento eficaz para conter uma eventual inadimplência. O executivo também aponta a declaração do ministro Edison Lobão, que prometeu uma solução para a situação das distribuidoras, como outro sinal de que os problemas serão resolvidos. “ podem nos deixar otimistas de que não teremos uma surpresa desagradável”,opinou. No caso das geradoras, a estratégia comercial de sazonalização de contratos e o forte despacho térmico que está deslocando a produção das usinas hídricas levou a uma situação em que a energia produzida efetivamente pelas usinas hidrelétricas ficou 26% abaixo da garantia física alocada para o mês de janeiro. Isso provocará prejuízos para algumas empresas e receitas no mesmo montante para outras no âmbito do MRE. “Muitas geradoras escaparam porque têm um limite de sazonalização grande. Olharam o mercado de uma forma cuidadosa”, avalia o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos. A Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica calcula que os prejuízos e receitas alcançaram R$ 4 bilhões no mês de janeiro. Born, porém, acha este valor “estranho” e afirma que o montante não condiz com o faturamento das geradoras em janeiro. O caso das distribuidoras é mais complexo e envolve três fatores que vêm impactando negativamente as finanças das companhias. A exposição ao mercado de curto prazo relativo ao buraco de 2 GW médios deixado pela distribuição das cotas de energia das usinas que renovaram suas concessões, o pagamento do Encargo de Serviço de Sistema (ESS) referente ao despacho térmico e a absorção da transferência do risco hidrológico das usinas renovadas pela lei 12.783 provocarão prejuízos de mais de R$ 1,5 bilhão. Para o presidente da Apine, Luiz Fernando Vianna, com a situação das geradoras, o risco de inadimplência no setor sobe. “Existe, sim . Tanto por parte dos geradores quanto por partes dos distribuidores”, afirma. Vlavianos explica que no caso das distribuidoras, uma eventual inadimplência não produziria efeitos sobre o mercado, já que caso ela não arque com suas responsabilidades, a sanção que receberá da Aneel é a suspensão do repasse de um futuro reajuste tarifários para seus clientes. “A inadimplência ficaria com as geradoras. A distribuidora para de pagar o fornecedor ou eventualmente algum encargo”, analisa. (Milton Leal)