Gílson Krause e Gilherme Velho, da Promon Engenharia: Setor elétrico mantém atratividade ao investidor

Necessidade do país é de colocar pelo menos 3 mil MW em nova capacidade instalada ao ano, podendo ser mais se a economia crescer mais. As alterações regulatórias do setor elétrico não devem ser suficientemente fortes para abalar o interesse de investidores nos próximos leilões de energia nova. A Promon Engenharia aposta na manutenção da expansão do setor e baseia essa avaliação na necessidade do Brasil colocar anualmente, em média, pelo menos 3 mil MW de nova capacidade instalada. Por isso, dizem os executivos Gílson Krause, diretor presidente e Guilherme Velho, diretor de novos negócios, as perspectivas são positivas tanto no curto quanto no longo prazo. Até mesmo as estatais podem aparecer com capacidade de investimentos em função da indenização recebida com a renovação das concessões. Porém, as incertezas com as medidas, principalmente as impostas pela Resolução No.3 do CNPE deverão acrescentar um prêmio ao preço da energia. Os executivos vão participar da 10a. edição do Encontro Nacional dos Agentes do Setor Elétrico (Enase), copromovido pelo Grupo CanalEnergia e 16 associações representativas do setor, que será realizado nos dias 21 e 22 de maio, no Rio de Janeiro. Confira os principais trechos da entrevista. Agência CanalEnergia: Como as medidas da renovação das concessões antecipadas e a Resolução no. 3 do CNPE podem afetar o setor elétrico na área em que a Promon atua? Gilson Krause: Os investimentos do setor elétrico são de longo prazo e embora o movimento da 579 fosse esperado, a forma como essa medida foi implementada foi um pouco brusca. A lei era necessária, pois as concessões estavam para vencer, mas a dose aplicada não precisava ser tão forte. Mesmo assim, o setor elétrico continua a ter demandas em crescimento e a Promon atua na engenharia e construção de projetos, bem como investidora em empreendimentos e gestora de fundos de investimento em parceria com a Patria. Nossa atuação passa desde a concepção, temos a operação de usinas, no exterior e ainda, mantemos proximidade com todo o setor elétrico, seja com a Petrobras, EPE, ministério e Aneel. Pois bem, dizer que essa movimentação foi transparente e que não teve consequências, não podemos dizer, afinal, criou algumas incertezas e expectativas. Contudo esse fator não é relevante ante a demanda por investimentos, ainda mais com a própria redefinição da matriz com uma maior diversificação das fontes, com a perspectiva da retomada das térmicas, tudo isso criou espaço adicional para investimentos. No conjunto, a mensagem é mais positiva do que de incertezas. Guilherme Velho: Eu completo os aspectos já citados pelo Gilson com outros pontos. O primeiro aspecto que temos que olhar no que se refere à expansão é o crescimento do mercado, porque anualmente mantém-se em média, em 3 mil MW de nova capacidade de demanda adicional e esse patamar pode aumentar de acordo com o aquecimento da economia. Outro aspecto que o Gilson disse e que eu quero enfatizar é que a MP de fato afetou os preços para aquelas empresas que tinham concessões a vencer e que aceitaram os termos do governo federal. A redução dos preços foi bastante forte, mas isso não afetou a expansão, pois o mercado está em crescimento e com isso cresce a demanda por energia. Nesse contexto, o item chave para a expansão da capacidade instalada é a financiabilidade das empresas, que passa pelo tempo de contrato de novas concessões, que foi mantido e essa é condição para a obtenção de financiamento dos projetos. Por isso, os geradores ainda vão continuar contando com a geração de caixa com o project finance, sendo assim, não se espera a retração do interesse dos investidores por entrar na expansão. Temos registrado consultas em diferentes tipos de empreendimentos. Definitivamente, há a preservação da expansão do interesse. Lógico que pode mudar a conta que o agente fazia já considerando uma próxima prorrogação do contrato e agora, tentará viabilizar o empreendimento durante o primeiro periodo de concessão. Agência CanalEnergia: Como é que ficam as estatais que foram as mais afetadas em decorrência da forte redução de geração de caixa? Guilherme Velho: As estatais que aceitaram a antecipação da renovação das concessões tiveram uma forte redução de caixa sim, mas por outro lado receberam um montante expressivo de recursos a título de indenização sobre os ativos não depreciados e, com isso, estão capitalizadas. A meu ver essas empresas têm muito interesse em melhorar o portfolio de fornecimento porque nas usinas que foram mantidas nas empresas levou-as a se tornarem apenas um prestador de serviços. Elas precisam e querem elevar o preço médio de suas usinas e para isso devem buscar novos empreendimentos para elevar o fluxo de recursos e ainda suportar a infraestrutura que devem manter. Por isso, é possível que as estatais estejam ativas nos próximos leilões. Agência CanalEnergia: As frequentes alterações das regras trazem um aumento de risco regulatório e os investimentos ficarão mais caros em decorrência desse aspecto? Gilson Krause: Em um mercado de longo prazo como é o setor elétrico existe sempre a necessidade de regras estáveis e prazos adequados. Por exemplo, esse ano temos os leilões A-3 e o A-5 no segundo semestre e, as regras até agora, não foram publicadas, precisamos saber as condições de contorno de térmicas flexíveis e não flexiveis, as condições de indexação, entre outras. Existe a necessidade de regras em tempo adequado à definição de investimentos, pois este é um setor de capital intensivo. Mas se olharmos para o médio e longo prazo a perspectiva é boa, já no curto prazo, precisamos de definição de regras. Há outro aspecto de regras, essa mais complexa, que é a definição do papel do gás na matriz energética, seja para esse ano ou para o ano que vem. Agora, é preciso lembrar que o risco sempre está presente. Ao longo de 15 anos o modelo é razoavelmente estável e as mudanças da 579 aconteceriam de qualquer forma com o final das concessões, mas poderiam ter sido mais discutidas e mais bem implementadas. Por sua vez, o critério de mudança do rateio do ESS traz insegurança maior e fica mais difícil precificar esse risco e que deverá, certamente levar a um prêmio adicional em decorrência desse risco, principalmente vindo de investidores estrangeiros. Porém, é preciso lembrar que a demanda por si é um incentivo grande. Agência CanalEnergia: A sinalização de retomada de térmicas é natural para o país diante da situação hidrológica desfavorável do ano passado e a ausência de reservatórios das novas hidrelétricas? Guilherme Velho: Hoje há uma consciência consolidada da necesidade de diversificar a matriz energética, pois vinhamos de uma sequência da expansão com base de usinas de fontes renováveis, basicamente por meio das eólicas. Mas com isso temos o problema de serem fontes intermitentes. É importante que a matriz aumente a oferta de energia controlável que é aquela em que o despacho é feito quando precisa-se dela. As térmicas, nesse sentido, são as fontes ideais e o gás é o insumo energético para permitir a expansão do segmento termelétrico que designamos como usinas de despacho controlado. Temos interesse especial em participar junto a associações de geradores para tentar equacionar o problema da regra que requer a comprovação de que todos os investidores precisam apresentar carta para assegurar o fornecimento pelo período do PPA. A rigor, temos poucas usinas que realmente vendem energia, mas a Petobras precisa dar a carta comprovando capacidade de fornecimento para todos os empreendimentos. Propomos que o gás seja comprovado apena para quem vença o leilão, a comprovação viria em fase posterior. Outro ponto é o preço do gás para ajustar o o valor a um patamar mais realista. Agência CanalEnergia: A Promon pode voltar a ser investidora em térmicas? Gilson Krause: Sim. Mas ainda há questões a serem definidas, com o gás natural e a condição de preços do combustível. Mas não seria apenas com essa fonte que retornaríamos, pode ser também com a biomassa. Mas, repito, precisamos das definções das regras e de como o governo vai contemplar esse conjunto de usinas. Como investidor precisamos das regras, mas como prestador de serviços vamos estar presentes com nosso expertise. prestar serviços para algumas usinas que venceresm os leilões temos interesse no sucesso dos leilões. Agência CanalEnergia: O Atino Ventura, secretário de planejamento do MME, disse que o shale gas, que irá a leilão da ANP ainda este ano poderia ser uma alternativa para as térmicas. A expansão das térmicas poderia realmente ocorrer por este caminho já que a Petrobras não fornece a carta de garantia em função das regras que a Aneel estabeleceu em um passado recente? Gilson Krause: As regras podem ser alteradas em função das especificidades. O gás não convencional é um movimento importante e nos Estados Unidos e a velocidade do avanço por lá decorre de uma série de características, são gasosutos enormes e uma característica regulatória que estebelece que o subsolo é do dono do solo. Além disso, há condições de financimento ou o acesso a mercados por lá são bem diferentes. Esse modelo é dificil de replicar em outros mercados. No Brasil as reservas ainda não estão provadas, mas a perspectiva é razoavel apesar de não serem tão grandes como as da Agentina e representarem apenas 25% da americana. Por isso, no curto prazo, uma ou outra reserva, como no São Franciso, pode ocorrer a exploração de boca de poço, mas em termos de volumes mais relevantes no Brasil teremos somente em mais de 5 anos. Não vejo uma mudança para o curto prazo, além de termos o gás do pré-sal e outras fontes como os países vizinhos e o GNL. Mas será importante longo prazo. (Maurício Godoi)