GLP receberá aporte de R$ 3 bilhões

O mercado de gás liquefeito de petróleo (GLP), mais conhecido pelo uso em botijões de cozinha, está recebendo pesados investimentos das gigantes que atuam nesse setor - Ultragaz (grupo Ultra), Liquigás (Petrobras) e Supergasbras (controlada pela multinacional holandesa SHV), que devem somar cerca de R$ 3 bilhões entre este ano e 2018. Os aportes serão destinados, sobretudo, para promover a expansão dessas companhias no país em regiões onde a atuação delas ainda está menos expressiva, como Norte e Nordeste, e também para criar infraestrutura para disputar o mercado industrial, com forte potencial de crescimento. Aquisições no meio do caminho não estão descartadas (ver reportagem abaixo). Apesar de maduro, esse mercado ainda tem espaço para maior consolidação - as quatro maiores companhias já somam 86% de fatia. Ao Valor, o presidente da Liquigás, Antonio Rubens Silva Silvino, disse que a companhia tem planos ambiciosos para atingir a liderança no segmento de GLP até 2020 - a maior no segmento é a Ultragaz. O plano estratégico de expansão da companhia ainda não está concluído, mas a empresa deverá investir entre este ano e 2016 cerca de R$ 700 milhões. A Liquigás, que tem a liderança em botijão de 13 quilos, planeja expandir seus negócios para o Norte e Nordeste do país com volumes menores, de 8 quilos, para atender às classes C e D. "Disputamos esse mercado com a lenha, nas chamadas cozinhas flex ", disse Silvino. A Petrobras é considerada uma exceção entre os grupos que refinam petróleo e atuam no varejo - com a Liquigás - e participações em empresas de gás canalizado. "Estrategicamente não faz sentido, uma vez que as grandes petroleiras estão se desfazendo desses ativos para focarem na exploração", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Em 2012, a Liquigás comercializou 1,62 milhão de toneladas de GLP, 0,2% inferior ao do ano anterior. O faturamento bruto foi de R$ 3,8 bilhões. Para Silvino, presidente da Liquigas, além de vender botijões menores, outra estratégia é elevar as vendas para grandes condomínios de prédios, com contas individualizadas, e avançar em mercados industriais. "A vantagem logística do GLP é grande. Você transporta energia em lata com alcance de 99% de todo o território nacional." O mesmo não ocorre com o gás canalizado, uma vez que os investimentos em dutos para expandir para os municípios de atuação de cada concessão são altos. Líder nesse segmento, somando todas suas atuações, o Ultra não pretende ceder fácil sua participação para qualquer concorrente. Em recente entrevista ao Valor, a companhia informou que tem feito aportes milionários para expandir a distribuição de gás GLP pelo país. A divisão Ultragaz - negócio que deu origem ao grupo no fim dos anos 30 e ao mercado de gás de cozinha propriamente dito- tem um projeto ambicioso de crescimento. A companhia está explorando novos negócios e prevê aumentar sua presença em mercados pouco atuantes e avançar em condomínios de prédios e áreas comerciais. O grupo já colocou em prática cobranças individuais, como ocorre em empresas de gás canalizado. Nos últimos quatro anos, a Ultragaz investiu, em média, cerca de R$ 160 milhões por ano nesse segmento. Em 2012, foram R$ 157 milhões e neste ano serão R$ 160 milhões. Se mantiver a mesma média de aporte por ano, em cinco anos, serão quase R$ 1 bilhão. O grupo não comenta projeções futuras. Sem um foco estratégico voltado para determinada região do país, a Supergasbras, controlada pelo grupo holandês SHV, presente em 27 países e líder global em GLP, prevê fazer investimento de R$ 1 bilhão entre 2014 e 2018 para se consolidar nos Estados onde é líder, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Brasília, e expandir em outras áreas de negócios, afirmou Lauro Cotta, presidente da companhia no Brasil e membro do conselho global do grupo. Para este ano, os aportes previstos estão entre R$ 160 milhões e R$ 190 milhões, Cotta disse que nesse setor cerca de 50% dos investimentos são para manter a "máquina funcionando" e o restante é voltado para a expansão e tecnologia. Com faturamento de R$ 3,6 bilhões no país, a Supergasbras não pretende reduzir o tamanhão dos botijões - comercializa os tradicionais volumes de 13 quilos e em volumes maiores e atua no mercado granel. "No mercado industrial, trabalhamos para apresentar a melhor solução integrada às companhias", disse Cotta. O mercado de GLP no Brasil é disputado por quatro grandes companhias. Além de Ultragaz, Liquigás e Supergasbras, tem peso ainda a Nacional Gás, do grupo cearense Edson Queiroz. A Copagaz corre por fora, com 7,8% de participação, segundo o Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP). Sérgio Bandeira de Mello, presidente do Sindigás, disse que existe grande potencial de crescimento para esse segmento no país. "Quanto mais descobertas de gás natural, maior oferta de GLP o país terá, por mais estranho que pareça." O mercado sofreu uma queda significativa em 2001 com a entrada do gás natural, mas o quadro tem se revertido. Em 2012 bateu recorde histórico de volume vendido, alcançando 7,13 milhões de toneladas. Mello não vê o mercado de gás canalizado apenas como concorrente. "São complementares", disse. Atualmente, cerca de 72% do volume comercializado de GLP são para os tradicionais botijões e os 28% vão para cilindros estacionários. "Existe grande potencial de expansão nesse segmento." Apesar de um crescimento de 1% a 2% ao ano, as vendas residenciais têm como forte concorrente a lenha, sobretudo em regiões do Norte e Nordeste. A lenha faz parte das chamadas cozinhas flex (lenha e fogão) e responde por 27% da matriz energética residencial. O GLP fica com 27%, gás natural 1% e energia elétrica, com o restante. O setor aguarda decisão do governo para desonerar de PIS/Cofins do gás de cozinha. No dia 11 do mês passado, a Câmara dos Deputados aprovou a MP 609/13, que inclui o gás de cozinha nos itens da cesta básica. (Mônica Scaramuzzo)