Governo decide desligar 34 térmicas

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou ontem que o governo aprovou o desligamento de 34 térmicas abastecidas por óleo diesel e óleo combustível a partir hoje. Segundo o ministro, essas usinas representam um custo mensal de R$ 1,4 bilhão para os consumidores, o que corresponde à parcela de dois terços do gasto atual com térmicas no país. "As chuvas vieram na medida de nossas expectativas. Os reservatórios estão cheios, com a exceção do Nordeste, mas os demais estão bem", disse o ministro, ao deixar a reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). As usinas térmicas vinham funcionando a plena carga desde outubro. Desde então, as seis térmicas foram desligadas por decisões tomadas pelo comitê de monitoramento nos meses de maio e junho. As usinas que serão desligadas correspondem à capacidade de geração de 3,8 mil megawatts (MW). "Temos segurança quanto ao abastecimento energético do país", disse Lobão. Os dados de energia (água) armazenada nos reservatórios mostram, contudo, que o nível de reserva no Sudeste para o mês de junho desde 2002. O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, disse que houve "melhora nas condições de chuvas" e ressaltou que a situação agora continua sendo de acompanhamento, podendo haver decisão por desligar novas usinas ou retomar a operação daquelas que já foram desligadas. "O ONS faz uma acompanhamento semanal", disse Chipp. Para Paulo Toledo, sócio-diretor da Ecom Energia, apesar de o nível dos reservatórios estar mais baixo do que no mesmo período do ano passado, a chuva bem acima da média histórica em junho e a perspectiva de um período chuvoso dentro da média para os próximos meses fazem com que a medida seja "prudente". "As afluências estão muito acima da média histórica. O governo está olhando a previsão da meteorologia para os próximos meses e tomando decisões com base no que temos agora. Foi uma medida prudente, pois as térmicas impactam bastante o custo", afirma. A decisão de ligar ou não térmicas está relacionada com a segurança do sistema. Segundo Toledo, elas atuam como um seguro. Quando mais térmicas, maior o custo da energia, mas maior a segurança da oferta. Como há relativa facilidade em acionar ou desligar as usinas térmicas, nada impede que o sistema elétrico recorra a elas caso as chuvas dos próximos meses venham abaixo do esperado. "O governo pode calibrar um pouco isso e está aproveitando o momento mais confortável para aliviar o impacto nos preços", diz. O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, Nivalde Castro, também avalia como correta a posição do governo de desligar 34 usinas térmicas a diesel e óleo. De acordo com ele, a decisão reflete "o nível de chuvas absolutamente anormal para esta época do ano", o que mantém os reservatórios acima da média histórica para esta época do ano. Para o especialista, os níveis atuais permitem ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) chegar à época de chuvas, em novembro, sem necessitar tanto dessas térmicas. No dia primeiro de julho, os reservatórios registravam 81,07% da capacidade na região sul, 93,55% no norte, 46,37% no nordeste e 63,74% no sudeste. "Estamos vertendo água na região Sul e há uma perspectiva muito forte de chuvas no Nordeste", afirmou Castro. De acordo com ele, o nível dos reservatórios no sudeste, atualmente em 63,74% - ainda abaixo dos 72% registrados no ano passado no mesmo período - é uma situação confortável para esta época do ano, ainda mais com a possibilidade de "importar" energia da região sul, onde a situação é ainda mais confortável. Castro afirma que a decisão pelo desligamento das térmicas é muito importante economicamente dado os altos custos que essas usinas representam. "Isso não é uma medida imprudente, mas prudente do ponto de vista econômico e baseado em critérios técnicos consistentes", disse. Analista da Ativa Corretora, Ricardo Correa, ressalta que o atual momento da economia brasileira, com desaceleração da atividade industrial, reduz a demanda de energia e é favorável ao desligamento das usinas mais caras movidas a diesel e óleo. "A prudência recomenda certa parcimônia no desligamento, mas as térmicas a óleo não têm grande representatitivade em termos de volume de produção de energia", disse Correa. Os analistas ressaltam, contudo, que a hidrologia é um fator instável e que o ONS pode tomar a decisão de religar as usinas, caso as chuvas voltem a ser insuficientes. As usinas que serão desligadas correspondem à capacidade de geração de 3,8 mil megawatts (MW). (Rafael Bitencourt, Rodrigo Pedroso e Guilherme Serodio)