Grupos interessados no Rede buscam credores e trocam farpas

Os dois consórcios que disputam o Rede Energia intensificaram a troca de acusações nos últimos dias, à medida que se aproxima o prazo final para a venda do grupo. De um lado, estão Equatorial e CPFL Energia. Do outro, Energisa e Copel. Até o dia 03 de julho, quando os credores vão definir em assembleia o futuro do Rede, os dois consórcios afirmam que vão realizar uma série de reuniões com o detentores desses créditos para convencê-los de que têm o melhor plano de recuperação da companhia, cujas holdings devem R$ 3, 5 bilhões. A aquisição do Rede é considerada uma oportunidade única no setor de distribuição de energia, onde as companhias praticamente só possuem uma alternativa para continuar se expandindo: comprando participação de mercado. As oito distribuidoras controladas pelo empresário paulista Jorge Queiroz representam cerca de 5% do mercado consumidor brasileiro e faturam juntas em torno de R$ 7,2 bilhões por ano. Com os ciclos de reduções tarifárias implementados desde 2003 pelo governo, ganhar escala virou uma questão de vida ou morte. Atualmente, as distribuidoras passam pela terceira rodada de revisões, que ocorrem a cada quatro anos. No quarto ou quinto ciclo, as empresas vão se encontrar em uma situação ainda mais difícil. Só vão sobrar os grupos maiores e mais eficientes. "Não é sempre que aparece uma oportunidade aquisição como essa", afirma Ricardo Botelho, presidente da Energisa. Isso explica porque a empresa pretende lutar pelos ativos contra o consórcio CPFL-Equatorial até o último minuto. Os dois grupos rivais subiram o tom desde a semana passada, quando foi realizada a primeira assembleia com credores. Por meio de seus advogados, Queiroz também saiu em defesa da CPFL-Equatorial e acusou a Energisa de querer tumultuar o processo. A Energisa possui uma relação conturbada com o Rede. A família Botelho chegou a negociar e desistiu outras duas vezes da aquisição dos ativos. A Energisa acusa o Rede de impedi-la a ter livre acesso às informações. "A proposta não pode ser considerada um plano de recuperação. Ela é uma simples venda de ativos. Do ponto de vista jurídico, só existe um plano de recuperação a ser apresentado para os credores ", disse a advogada Raquel Otranto, representante do grupo Rede. Pela proposta da Energisa, as holdings continuariam com Queiroz e iriam à falência, já que não teriam mais receitas. Segundo Raquel, o Grupo Rede realizou, entre o fim de 2011 e início de 2012, um processo formal de venda, conduzido por um grande banco, quando um "data-room" foi aberto aos interessados. Foram credenciados sete grupos e concedidos 19 acordos de confidencialidade, entre eles para Energisa. Na época, Botelho havia firmado um consórcio com a CPFL, mas a Energisa desistiu do negócio em fevereiro de 2012. A Energisa justificou na época que enxergava riscos maiores do que poderia suportar. No meio do processo de venda, uma das distribuidoras do Rede, a Celpa, entrou com pedido de recuperação judicial, o que levou à suspensão das negociações. O processo foi novamente aberto no segundo semestre de 2012. Segundo Raquel, o prazo para que os pretendentes entregassem suas propostas acabava no dia 11 de outubro e só a CPFL, que se uniu à Equatorial, apresentou um compromisso firme. "A Energisa chegou a apresentar uma carta depois do prazo, mas que sequer continha uma proposta", disse Raquel. "Eles não foram alijados do processo de venda do Rede. Eles participaram e perderam, como outros também perderam", afirmou Ricardo Zamgirolami, vice-presidente de assuntos corporativos da CPFL. "Estamos confiantes de que, no dia 03 de julho, nosso plano seja aprovado pelos credores", disse o executivo. Ricardo Botelho contesta. "Como a Energisa perdeu se nunca teve a chance de entregar uma oferta. Onde está a oferta que fizemos? Não perdemos porque nunca disputamos", disse Botelho, que se considerou "lesado" pelo Rede. No dia 03 de julho, será a primeira vez em todo processo que a Energisa terá a chance de apresentar uma oferta pelo ativos, diz o executivo. "Estamos muito felizes". Segundo ele, a Energisa pretende avançar em sua proposta e poder desenvolver um plano de recuperação. Botelho afirma que o processo de venda foi conduzido pelo Rede de forma "confusa". "Faltavam informações e o processo nunca foi transparente". Depois, quando as negociações foram retomadas em 2012 e a CPFL aliou-se à Equatorial, Botelho considera ter sido "operado" pelo Rede. "Eles só queriam mostrar que havia interessados". (Cláudia Facchini)