HRT compra fatia de 60% da BP no campo de Polvo e cala críticos

Uma semana depois de enfrentar uma duríssima assembleia de acionistas da HRT, Marcio Mello, fundador e principal executivo da companhia, anunciou ao mercado a compra de uma fatia de 60% no campo de Polvo, na Bacia de Campos, que era detida pela BP. O negócio, de US$ 135 milhões, levou seis meses para ser concluído e segundo Mello, é o fato "mais significativo da história da HRT" desde a oferta inicial de ações (IPO) da companhia, em outubro de 2010. O campo de Polvo produziu 13.931 barris de óleo equivalente (BOE) por dia no mês de março, dos quais 13.671 barris exclusivos de petróleo e o restante em gás. A outra sócia da área, com 40%, é a dinamarquesa Maersk. A parte da BP na produção de Polvo em março foi de 8.359 BOE, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). "Estávamos buscando produção para comprar e evitar a volatilidade, mas não adiantava comprar seis por meia dúzia", disse ontem o executivo ao Valor, se mostrando aliviado com a conclusão da negociação. A HRT obteve um empréstimo do Credit Suisse que tem prazo de dois anos para ser quitado e carência de 12 meses. Dos US$ 135 milhões que serão pagos, será descontada a receita e a produção desde janeiro de 2013, data de referência do contrato, o que tornará o valor final menor. Adicionalmente, o gerente executivo de Planejamento e Novos Negócios da HRT, Ricardo Bottas Dourado, explicou que a empresa também poderá usar cerca de R$ 400 milhões em créditos tributários. Segundo ele, isso tornará a operação mais vantajosa já que poderá ser feita com o que Dourado considera "eficiência de custos e eficiência fiscal". A aquisição do campo de Polvo cala, pelo menos por enquanto, acionistas descontentes com a falta de descobertas comerciais de petróleo por parte da HRT, que encontrou 1 trilhão de pés cúbicos de gás na Amazônia mas não petróleo, e agora explora a costa da Namíbia. No início do ano Mello antecipou sua saída da presidência do conselho de administração da HRT, substituído por John Willot, seu indicado, na semana passada, enfrentando descontentamento de acionistas como os fundos americanos Southeastern e Discovery. Esse último pediu voto múltiplo e elegeu três conselheiros independentes. Passado o momento crítico, sobre o qual o executivo diz apenas que "apanhou demais", Mello quer olhar para o futuro. Animado, observou que a HRT conhece Polvo desde o desenvolvimento da sua produção, como prestadora de serviços para a antiga proprietária, a Devon. Ali, diz ele, a HRT vê várias possibilidades de ganhos e melhorias, já que além de conhecer a área, a concessão (que tem 134 quilômetros quadrados) tem outros seis prospectos já mapeados com sísmica 3D, um deles no pré-sal. "Compramos um campo em produção com possibilidade de explorar outras áreas próximas e vamos explorar para ver se vale à pena, incluindo novos poços exploratórios", explicou o presidente da HRT O&G, Milton Franke, que participou da entrevista. O preço inclui a compra de 100% da empresa BP Energy America LLC, proprietária da plataforma fixa "Polvo A", e de uma sonda capaz de perfurar poços horizontais de até 6 mil metros, ambas utilizadas para a produção no campo. Essa plataforma está interligada a uma outra, do tipo flutuante de produção, armazenamento e transferência (FPSO) chamada Polvo, que é afretada da BW em um contrato de aluguel de longo prazo. A FPSO tem capacidade de processar 150 mil barris/dia e também está preparada para fazer a separação do petróleo e gás, tratamento da água, estocagem e transferência. Marcio Mello diz que as instalações ali vão reduzir bastante os custos em caso de novas adições de produção na área. O empresário disse que seu sonho é transformar a HRT em uma companhia perene e que Polvo vai garantir o resultado financeiro da petroleira em 2013 e 2014, sendo que o potencial exploratório da área pode garantir resultados a partir de 2015. Quando aprovada, a aquisição colocará a HRT na posição de quinta maior produtora de óleo do país. Segundo Mello, a empresa está buscando outros ativos em produção há um ano e pode comprar mais. A companhia vai participar da 11ª Rodada da ANP em associações em que "entrará com capital intelectual" e o sócio sendo responsável pelo dinheiro das ofertas, "carregando" (segundo linguagem do setor), a HRT. (Cláudia Schüffner)