Incêndio em área rural deixa Estados do Nordeste sem luz por mais de duas horas

Um incêndio na fazenda de Santa Clara, em Canto do Muriti, no Piauí, atingiu duas linhas de transmissão de 500 quilovolts (kV), na tarde de ontem, deixando todo o Nordeste sem luz por mais de duas horas. O ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, afirmou que queimadas provocam esse tipo de desligamento e, segundo ele, o sistema elétrico de qualquer país corre esse risco. "Já aconteceu outras vezes no Brasil e no mundo todo", disse. O ministro esteve na sede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), ontem, no Rio de Janeiro, acompanhado pelo secretário-executivo do ministério, Márcio Zimmermann. Por enquanto o governo trabalha com a hipótese de que o fogo foi um acidente. "Nossa primeira preocupação foi no sentido de restaurar o fornecimento de energia. Agora vamos investigar mais profundamente o que pode ter gerado essa interrupção", disse o ministro de Minas e Energia. De acordo com o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, a interrupção no fornecimento de energia das duas linhas de transmissão separou a região Nordeste do restante do Sistema Interligado Nacional (SIN). O incêndio gerou o desligamento adicional de outras três linhas que fazem a interligação do SIN com o Nordeste. A perda de carga de energia foi de 10.900 Megawatts. De acordo com o ONS, a primeira linha de transmissão afetada - Ribeiro Gonçalves-São João do Piauí (circuito 2) - foi desligada às 14h58. A linha pertence à Ienne, empresa controlada pela espanhola Isolux. O segundo incidente ocorreu às 15h08, devido ao desligamento da segunda linha Ribeiro Gonçalves-São João do Piauí (circuito 1). Essa linha pertence à Taesa, empresa controlada pela Cemig. A recomposição das cargas para as capitais e principais municípios foi concluída às 17h30, segundo Chipp, mas o blecaute que atingiu a região Nordeste à tarde continuou provocando problemas para a população no início da noite. Dificuldades de mobilidade e de comunicação foram os maiores transtornos ocasionados pelo apagão. Com semáforos apagados em um horário de grande movimento de veículos, os congestionamentos ficaram ainda mais complicados que o normal em Fortaleza, Salvador e Recife. Muita gente foi dispensada do trabalho mais cedo. Comerciantes fecharam as portas por falta de meios eletrônicos de pagamento. "Não adiantar trabalhar porque, além da insegurança, não conseguimos passar cartões", reclamava Wander Santana, dono de loja de autopeças em Natal. Em Recife, o metrô ficou parado por duas horas e dificultou a volta para casa da população. Em Fortaleza, até mesmo os funcionários da área administrativa da Autarquia Municipal de Trânsito tiveram que sair às ruas para auxiliar os motoristas. As principais avenidas de Salvador ficaram congestionadas. Algumas empresas do Polo de Camaçari, na região metropolitana da capital, encerraram mais cedo o expediente. No complexo de Suape, em Pernambuco, não houve dispensa antecipada. Houve muitas queixas de problemas com o sinal dos telefones celulares, tanto para chamadas de voz como no serviço de internet. As principais operadoras de telefonia que atendem à região dizem que os clientes enfrentaram dificuldades. Muitos moradores ficaram presos em elevadores nas principais cidades. Em uma rua da Pituba, bairro de Salvador, cinco prédios residenciais registravam o problema por volta das 16h. Houve também impactos em serviços essenciais, como saúde e abastecimento de água. Ao menos um hospital particular de Fortaleza suspendeu o atendimento de emergências simples por não ter como fazer exames. Na maior unidade emergência hospitalar de Pernambuco, no Recife, o gerador do andar da UTI não funcionou, e pacientes ligados a aparelhos só sobreviveram graças às baterias dos equipamentos. (Elisa Soares, Rodrigo Polito e Murillo Camarotto. Com agências noticiosas)