Indústria do petróleo está apreensiva com reações dos Estados sobre royalties

Governadores e parlamentares estão ameaçando suspender licenças ambientais e adotar novas taxas. A reação de Estados produtores de petróleo à nova lei que lhes impõe perdas na arrecadação de royalties causa preocupação na indústria produtora de óleo e gás no Brasil, disse nesta segunda-feira o representante da associação do setor no país. Governadores e parlamentares de Estados produtores estão ameaçando suspender licenças ambientais relativas à produção de petróleo e adotar novas taxas para compensar a perda de arrecadação com os royalties. "Sempre se cria um clima de apreensão, até porque os Estados estão acenando com medidas compensatórias que impactam diretamente na indústria", afirmou à Reuters o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), João Carlos De Luca. "A indústria que produz e gera essa riqueza não pode ser penalizada, por isso a preocupação que a gente está tendo...", acrescentou ele, durante evento do setor no Rio de Janeiro. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, suspendeu todos os pagamentos não obrigatórios do Estado após o Congresso Nacional derrubar o veto presidencial à nova lei de distribuição dos royalties. Com a derrubada do veto, os royalties de exploração, inclusive dos contratos já em vigor, passam a ser repartidos de forma mais igualitária entre Estados e municípios produtores e não produtores. A medida impõe perdas bilionárias aos Estados produtores, e cálculos preliminares do governo do Rio apontam para perda anual de R$ 3,1 bilhões em receita. Contudo, governos e parlamentares de Estados produtores já disseram que entrarão no Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar perdas na arrecadação de áreas já licitadas. "Acreditamos que o Supremo possa trazer uma definição que será importante... Nós defendemos sempre que, por princípio, contratos têm que ser respeitados, o IBP defende a estabilidade do marco e o Brasil tem honrado contratos, a questão está com o Supremo." Incertezas para novas rodadas Ao ser questionado se as discussões poderão afetar a intenção das empresas que se preparam para o leilão de áreas de petróleo previsto para maio, De Luca reafirmou que a situação preocupa. "Quem vai participar de uma licitação quer saber de estabilidade regulatória, confiança no marco regulatório e no marco fiscal", comentou. "A cada dia que passa tem Estado produtor falando em mexer nessa parte fiscal, ou criar um imposto novo, quem vai fazer a sua análise para um 'bid' (oferta no leilão) vai considerar isso." A polêmica sobre a divisão dos royalties do petróleo começou quando o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu criar um novo marco regulatório para a exploração do óleo no país, determinando que os campos do pré-sal seriam licitados pelo regime de partilha e não mais por concessão. Os parlamentares dos Estados não produtores viram na mudança uma oportunidade de fazer uma nova divisão dos royalties entre Estados e municípios, sem qualquer privilégio para os Estados produtores (Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo), mexendo inclusive nos contratos já em vigor. Aprovada pelo Congresso, essa nova divisão foi vetada pelo ex-presidente Lula. No governo Dilma, os parlamentares dos Estados não produtores voltaram à carga e aprovaram mais uma vez uma nova divisão dos royalties no ano passado, o que foi vetado pela presidente. O veto foi derrubado pelo Congresso na semana passada. (Rodrigo Viga Gaier e Roberto Samora - Reuters)