Indústria pede nova política para preço

Siderúrgicas, petroquímicas, fabricantes de cerâmica e de alumínio, vidreiras, pelotizadoras que têm no gás natural um importante insumo de seus processos de produção estão com sua competitividade ameaçada por conta do preço. Enquanto as indústrias brasileiras chegam a pagar US$ 13 a US$ 15 por milhão de BTU (unidade de medida de gás), nos EUA e na Rússia o energético custa US$ 3 e no México, US$ 5. Resultado: algumas indústrias já começam a analisar investimentos fora do Brasil, com destaque para a América do Norte. Sem mudança na política de preços e na regulação da área, para impulsionar a desverticalização, o gás será um peso a mais no já elevado custo de fabricar bens no Brasil. "Em quatro anos, a entrada de porcelanato chinês no Brasil cresceu 2.900%", diz o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa. Estudo da entidade aponta que, com a redução de preço do gás em 50%, o consumo pela indústria atingiria 99 milhões de m³/dia em 2020 e 137 milhões de m³/dia em 2025. Esses volumes correspondem a duas vezes e meia o que será consumido mantendo-se o atual patamar de competitividade. "É essencial garantir oferta firme, que hoje não existe, ao longo dos próximos anos, a preços competitivos", observa o executivo. O consumo dos grandes e pequenos consumidores está estimado em 28 milhões de m³ por dia, uma oferta que está represada há cerca de cinco anos. "Apenas a parte nossa, de 14 milhões de m³por dia, que abastece os grandes consumidores, poderia duplicar ou até triplicar em dez anos, se houvesse condições", destaca Pedrosa. "Tudo indica que teremos uma oferta abundante de gás, mas a que preço?", questiona o superintendente da Associação Brasileira da Indústria do Vidro (Abividro), Lucien Belmonte. O grande esforço dos empresários é criar uma transição enquanto essa oferta não chega ao mercado. Com maiores condições de competição, os grandes consumidores poderiam ter mais liberdade de aquisição do insumo a melhores preços. Para chegar a isso, além de acelerar o ingresso do gás não convencional na matriz, seria preciso estimular a produção e o escoamento de gás produzido nas plataformas marítimas para consumo em terra. Hoje as petroleiras têm como foco rentabilizar suas operações a partir do óleo. O gás associado, um produto com rentabilidade menor, é deixado de lado. Estima-se que haveria 20 milhões a 30 milhões de m³diários que poderiam ser acrescentados ao sistema. "Se elas fossem obrigadas a vender elas próprias esse gás no mercado, sem nenhum intermediário, isso criaria competição", analisa Pedrosa. Haveria um outro ponto a ser atacado: a necessidade de desverticalização do setor de gás, o que implicaria a redução de poder da Petrobras, que hoje atua da exploração e produção ao transporte e comercialização, além de deter participação em distribuidoras estaduais. "Os estudos que fizemos nos indicam que o futuro do gás competitivo fica comprometido se há um grande agente presente em várias pontas", diz Pedrosa, que tem levado essas questões a Brasília, em conversas com os Ministérios de Minas e Energia e da Fazenda. Outra preocupação. O gás produzido nas jazidas nacionais e o importado da Bolívia têm preços diferentes. O importado da Bolívia chega a custar US$ 1 a mais que o nacional. Empresas de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Santa Catarina seriam as mais afetadas. O assunto preocupa governos estaduais e empresários. "Isso realmente é uma distorção e precisaria ser sanado", diz o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal. (Roberto Rockmann)