ISA põe o Brasil em compasso de espera

O presidente do grupo ISA, Luis Fernando Alarcón, critica a demora do governo brasileiro em definir as indenizações que serão pagas para as linhas de transmissão mais antigas, construídas antes do ano 2000. A estatal colombiana, que controla no Brasil a CTEEP, uma das maiores empresas de transmissão de energia do país, aceitou no ano passado os termos estabelecidos pelo governo brasileiro para renovar antecipadamente suas concessões. Já se passaram nove meses desde que a CTEEP assinou os contratos em Brasília, e, até agora, o governo não calculou o valor que será pago para as linhas em operação há mais de treze anos. A CTEEP já concordou em receber um reeembolso, no valor de R$ 2,9 bilhões, pelas linhas de transmissão mais novas, construídas depois de 1999. Deste total, R$ 2 bilhões já foram pagos pelo governo brasileiro e a outra parte será recebida em prestações. Mas a empresa calcula ter direito a receber mais R$ 3 bilhões pelos investimentos ainda não amortizados nas linhas de transmissão mais antigas, além de outros R$ 600 milhões por melhorias feitas na rede. "São temas extremamente importantes, sobre os quais não existe certeza", diz Alarcón. "Com esses fatores de incerteza, é muito difícil participar de licitações de novos empreendimentos. Não somos propensos a aventuras", afirmou o executivo. No setor, não há expectativas de que uma decisão sobre as indenizações seja tomada ainda neste ano. Isso quer dizer que o grupo colombiano corre o risco de ficar de fora, por exemplo, do leilão do linhão da usina de Belo Monte, que pode ser licitado no fim do ano. Enquanto coloca o Brasil em compasso de espera, o grupo ISA entrou recentemente no Chile, onde vai investir US$ 1 bilhão em dois grandes projetos. Após a construção dessas duas linhas, a ISA será a segunda maior empresa de transmissão do mercado chileno, diz Alarcón. Segundo o executivo, o ambiente regulatório e jurídico no Chile é superior aos demais países da América Latina. "Neste tema, a participação privada no setor de infraestrutura, o Chile foi pioneiro e ensinou a todos ", disse o executivo. "O Chile é um país importante, no qual queríamos estar". No entanto, a expansão geográfica não é mais o principal foco do grupo ISA. A multinacional iniciou um processo de reestruturação, para o qual contratou a consultoria da McKinsey, com o objetivo de melhorar a sua rentabilidade. "O processo de crescimento do grupo ISA foi muito bem-sucedido. Hoje, somos a companhia de transmissão com a maior presença geográfica da América Latina. Já temos uma presença internacional muito ampla. Agora, é o momento de buscarmos uma melhor rentabilidade ", disse Alarcón. Segundo ele, a ISA está entre as melhores se comparadas aos seus pares latino-americanos. Mas ainda não faz parte do time das melhores empresas de transmissão do mundo. No caso do Brasil, a renovação das concessões mudou totalmente as condições de rentabilidade. Dentro de seu processo de reorganização, o grupo ISA passará a ter uma holding pura e uma empresa operacional, sob a qual estarão todos os ativos de transmissão na América Latina, seja na Colômbia, no Chile, Brasil e na América Central. Isso possibilitará aproveitar as sinergias, como, por exemplo, o relacionamento com fornecedores. O presidente da CTEEP, o colombiano Cesar Ramirez, também voltará para casa, onde vai ocupar um cargo nessa nova holding do grupo ISA. Segundo Alarcón, é provável que o novo presidente da CTEEP venha dos quadros da empresa, mas ele não revela os nomes que estão sendo considerados neste momento. "O desafio da CTEEP será ajustá-la para ser eficiente e rentável pelos próximos 30 anos da concessão no Brasil", diz Alarcón. A companhia venceu algumas licitações recentes, como a construção de linhas de transmissão do rio Madeira, que já estão praticamente prontas. Mas a renovação das concessões afetou cerca de 80% dos negócios do grupo no país. (Cláudia Facchini)