Leilão A-5: desempenho das PCHs e térmicas a biomassa surpreende agentes

Praticamente metade dos projetos dessas fontes venderam energia no certame. Carvão não viabilizou empreendimentos. O bom desempenho das PCHs e das térmicas a biomassa no leilão A-5 surpreendeu positivamente os agentes do setor. Dos 16 empreendimentos habilitados de cada fonte, 8 PCHs, que somam 173,4 MW de potência, e 9 térmicas a biomassa, que totalizam 647 MW, sendo duas a cavaco de madeira, venderam energia no certame, que aconteceu nesta quinta-feira, 29 de agosto. Já as térmicas a carvão - três usinas haviam sido habilitadas - não tiveram sucesso e acabaram não sendo contratadas. Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, comentou que as PCHs não tem tido um bom histórico nos leilões e que a contratação nesse certame pode ser considerada um sucesso. "É importante essa retomada no leilão. Acredito que o anúncio das medidas de incentivo ajudaram muito", comentou. Nessa semana, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social anunciou condições melhores de financiamento tanto para as PCHs quanto para as térmicas a biomassa. O executivo apontou que esse estímulo será contabilizado nos próximos certames, o que pode colaborar para os investidores em PCHs colocarem mais projetos nos futuros certames. "A iniciativa de elevar o preço-teto junto com as novas condições de financiamento estimularam o segmento, que agora poderá se preparar melhor para os próximos certames", apontou. O preço-teto para a fonte foi fixado em R$ 140/MWh e o preço de venda girou em torno de R$ 128/MWh. De acordo com Lenzi, o preço ainda impacta bastante na viabilização dos projetos, além da dificuldade nos processos de licenciamento ambiental. Entre as PCHs que venderam energia, uma pertence a Alupar, duas à Enel Green Power e uma à Eletrosul. As demais são de propriedade da Cantu 2, Manopla, PCH Mata Velha e Santa Helena Energia. Zilmar de Souza, gerente de Bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, também comentou que é muito importante para a biomassa retornar aos leilões regulados. "É muito importante não só pelo fato de se trazer energia renovável ao sistema, mas também porque, de uma forma sinérgica, auxilia a expansão da produção de etanol", disse à Agência CanalEnergia. Apesar da viabilização dos projetos, Zilmar lembrou que o importante é ter uma política um pouco mais perene. Ele disse que a participação das eólicas no próximo leilão A-5, anunciada nessa semana pelo governo, pode acabar deslocando toda a demanda para essa fonte, visto que ela é mais barata que as demais. "Então, esse é um ponto de preocupação", salientou. De acordo com ele, a biomassa da cana, que teve sete projetos viabilizados, mostrou que mesmo com alguma dificuldade dentro do setor sucroenergético, ela tem capacidade de resposta. Os projetos viabilizados, segundo ele, pertencem à Adeco Agro (UTE Amandina), Delta (UTE Delta), Odebrecht Agroindustrial (ampliação da UTE Eldorado), Energética Santa Helena (UTE Santa Helena), Raízen (UTE Caarapó) e Guarani ( UTEs Guarani Tanabi e Guarani Tanabi 2). "É importante que tenhamos uma política de longo prazo. Queremos saber agora, qual será o papel da biomassa no leilão A-5 de dezembro, porque no A-3 será difícil competir diretamente com a eólica", apontou. Projetos mais polêmicos do leilão, as térmicas a carvão não conseguiram vender energia. Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral atribui o fato ao baixo preço-teto colocado para a fonte, de R$ 140/MWh. Segundo o executivo, desde que o preço foi divulgado, a viabilização das plantas ficou comprometida. "O preço-teto deixou a gente de fora, ainda mais agora com a escalada do dólar", analisou. Para ele, o preço ideal seria em torno de R$ 170/MWh. "O pessoal trabalhou, fez as contas, mas não deu. No último leilão que o carvão ganhou, se corrigir o valor, vai dar um pouco mais de R$ 170/MWh", afirmou. De acordo com ele, se o governo quiser contratar energia do carvão no leilão A-5 de dezembro vai ter que elevar um pouco o preço. "O governo fez um teste e ficou claro que não deu. Se ele quiser o carvão, vai ter que rever o preço. A gente reconhece todo o esforço que o governo fez para tentar viabilizar os projetos, mas não deu", declarou, referindo-se à desoneração das alíquotas de PIS/Pasep e Cofins, entre outras medidas adotadas pelo governo. A usina de Sinop (MT, 400 MW), única hidrelétrica a participar do certame, foi arrematada pelo consórcio CES, formado originalmente pela Alupar, Chesf e Eletronorte. No entanto, a Alupar, antes de começar o leilão manifestou seu interesse em não mais participar do certame. O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, André Pepitone, explicou que as regras do leilão não permitem nenhuma mudança no consórcio desde a inscrição até a outorga do projeto, que está prevista para 17 de fevereiro de 2014. "Qualquer mudança na composição do consórcio vencedor será vista como desistência e com isso assume o segundo colocado com o lance ofertado no leilão", afirmou durante entrevista coletiva em São Paulo. Além das PCHs, Enel Green Power também viabilizou a UHEP Apiacás, de 45 MW, no Mato Grosso. (Carolina Medeiros)