Leilão da ANP testa o apetite pelo Brasil

O governo vai realizar amanhã e na quarta-feira o primeiro leilão de blocos para exploração de petróleo e gás depois de cinco anos e meio sem oferecer áreas em águas profundas. Na última rodada, realizada em 2008, só foram oferecidas áreas em terra. Agora, com a oferta de blocos gigantes da margem equatorial, empresas de grande porte voltaram a aparecer de olho em oportunidades no Brasil. Antes de quarta-feira, não é possível prever o resultado financeiro da 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o que vai depender da disputa pelas áreas e da existência de companhias interessadas nos 289 blocos que totalizam uma área 155,8 mil quilômetros quadrados (km²). Se todos os blocos oferecidos nas 11 bacias sedimentares forem vendidos pelo preço mínimo, a arrecadação seria de R$ 627 milhões, sem contar os R$ 3 bilhões de investimentos estimados para o cumprimento do programa exploratório mínimo exigido pela agência. Desde 1999, quando foi realizado o primeiro leilão após a quebra do monopólio da Petrobras, a maior arrecadação da ANP foi em 2007, quando o governo obteve R$ 2,1 bilhões (equivalentes a US$ 1,13 bilhão) com a 9ª Rodada, em 2007, a última com oferta de blocos offshore. Magda Chambriard, diretora-geral da ANP, espera uma grande competição, principalmente pelos 72 blocos localizados em águas profundas da margem equatorial, como são chamadas as bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar distribuídas pelo Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. "Essa rodada tem o objetivo de descentralizar investimento exploratório e está sendo disputada em função, dentre outras coisas, dos resultados da Guiana francesa e margem equatorial africana devido a similaridade com nossa margem equatorial e com a similaridade com o Golfo do México, no caso dos blocos do Espírito Santo", disse ela ao Valor. Na rodada serão oferecidos 166 blocos no mar (94 em águas rasas e 72 em águas profundas) e 123 em terra, o que deve chamar a atenção de empresas menores. "Isso indica forte competição por águas profundas", observa a diretora-geral da ANP. Magda, que chegou dos Estados Unidos na sexta-feira, estava animada com o fato de o site da rodada na internet ter recebido 46.000 visitas e 6.000 downloads por usuários de 21 países, incluindo o Brasil. Tudo isso porque a agência permitiu, pela primeira vez, que fossem baixados dados por usuários de qualquer parte do mundo. Não por acaso, 30 empresas inscritas como operadora "A", que as qualifica detentoras de experiência para perfurar em grandes profundidades, se habilitaram. A área mais cara oferecida na 11ª Rodada é o bloco FZA-M-261, na bacia da Foz do Amazonas, com preço mínimo de R$ 13,59 milhões. A mais barata está em um bloco em terra na Bacia Tucano, oferecido a R$ 44,14 mil. A lista de empresas habilitadas tem desde as "majors" que já operam no Brasil, como a Shell, Chevron, Exxon (que não tem nenhuma atividade de exploração e produção) e BP. Mas não é só. Também vieram companhias independentes com descobertas de áreas com perfil geológico similar às da margem equatorial brasileira, como a Kosmos, que descobriu o campo Jubilee, na costa de Gana e que explora a costa do Suriname; a britânica Chariot, que tem um bloco vizinho ao da HRT na Namíbia e a canadense Niko Resources. As chinesas Sinochem e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) estão inscritas sozinhas, quando antes nenhuma empresa da China disputou áreas com risco exploratório, comprando apenas participações em campos com produção de petróleo. Outra participante concorrerá por meio da parceria criada no Brasil - a Repsol Sinopec. Quatro japonesas estão inscritas: Mitsubishi, Mitsui, Sumitomo e JX Nippon. E até duas "utilities" de energia: a franco-belga GDF Suez e a italiana Enel. O foco das empresas de energia são blocos com potencial para gás natural que possa ser usado como combustível para termelétricas. "Um dos nossos objetivos é possibilitar investimentos estratégicos que favoreçam a expansão do nosso parque termoelétrico a partir do gás natural e, consequentemente, a monetização das reservas exploradas. Nosso plano é construir termoelétricas na 'boca' do poço, eliminando a necessidades de grandes investimentos em transporte de gás", afirmou o presidente da GDF Suez no Brasil, Maurício Bähr. Apesar da estreia no Brasil, a companhia não é iniciante nesse mercado. As reservas globais da GDF Suez totalizam 800 milhões de barris de óleo equivalente (boe), sendo 74% desse volume em gás natural e 26% de petróleo. Todas as empresas nacionais com ações em bolsa - Petrobras, OGX, HRT e QGEP - estão inscritas, entre mais de 10 brasileiras habilitadas, incluindo a Ouro Preto, de Rodolfo Landim. A OGX de Eike Batista informou que vai participar em parceria e não será surpresa se ela se reunir à estatal Petronas, da Malásia, que está habilitada e que é a nova sócia do campo Tubarão Martelo, da OGX na bacia de Campos. Também estão inscritas a Petra, que explora gás em Minas e produz no Maranhão, e a Barra, que é alvo de interesse da China National Petroleum Corporation (CNPC). A australiana Karoon pode entrar com parceiros. O foco da companhia são áreas em mar com forte potencial de reservas de petróleo e em bacias onde já há hidrocarbonetos comprovados, o que significa que não deve tentar arrematar áreas de novas fronteiras. O executivo Tim Hosking, gerente-geral da companhia para a América do Sul, disse que a petrolífera descarta áreas com potencial para gás. A Karoon Petróleo e Gás opera cinco blocos na Bacia de Santos, comprados na rodada de 2007 e que terão a canadense Pacific Rubiales como sócia de 35% assim que a ANP aprovar. Sem adiantar a estratégia no leilão, como é praxe, Hosking afirma que está atento a oportunidades para expandir o portfolio exploratório nas Bacias de Santos e de Campos. "A Karoon aprendeu muito sobre a Bacia de Santos e gostaria muito de utilizar essa experiência em alguma rodada de pré-sal", disse o executivo Hosking. A australiana iniciou a operação de perfuração no país em dezembro do ano passado e já descobriu petróleo em quantidades comerciais em dois poços exploratórios - Bilby-1 e Kangaroo, ambos no bloco S-M-1166 da bacia de Santos. Kangaroo fica próximo da cidade de Navegantes (Santa Catarina). Um acordo firmado com a canadense Pacific Rubiales para venda de 35% das áreas aguarda aprovação da ANP. Já a Petrobras, sempre uma estrela nos leilões realizados no país - arrematou sozinha 50% das áreas oferecidas na última licitação -, deve ter uma atuação mais discreta. A presidente da companhia, Graça Foster, já disse que a estatal traçava "cenários mais realistas" para a 11ª Rodada e desde então a companhia vem indicando que deve entrar com parcerias e não tanto sozinha. Não é para menos. Ainda este ano serão realizados mais dois leilões. Em outubro, a 12ª Rodada de Licitações vai oferecer áreas com potencial de descobertas de gás convencional e não-convencional. Para dezembro está previsto o leilão de blocos na área exclusiva do pré-sal destinada à partilha de produção. A Petrobras é operadora única nessa área, com obrigação legal de entrar com no mínimo 30%. (Cláudia Schüffner, Marta Nogueira e Rodrigo Polito)