Leilões da ANP vão testar apetite pelo Brasil

O governo terá a oportunidade indiscutível de testar o apetite do setor privado pelo setor de óleo e gás brasileiro em 2013 ao realizar três rodadas de licitações de áreas para exploração, incluindo o pré-sal sob o regime de partilha de produção e gás não convencional. As companhias do setor estão se organizando para participar dos leilões e no momento negociam parcerias e os dados geológicos dos blocos, mas ainda é um ponto de interrogação o quanto de fato elas irão destinar para investimentos no Brasil, que foram anunciados muito em cima da hora, o que pode deixar algumas empresas com menos fôlego financeiro. Isso só se saberá ao final de cada leilão. Até o momento são conhecidas apenas as da 11ª Rodada, que acontecerá nos dias 14 e 15 de maio. Já é possível prever grande disputa das maiores empresas pelos blocos em águas profundas das bacias do Pará-Maranhão e a Foz do Amazonas, que fazem parte da chamada margem equatorial, que tem similaridades com a costa da África, principalmente Gana. São áreas mais desafiadores sobre o ponto de vista tecnológico e de custos, inclusive exploratórios, mas as que trazem maior possibilidade de ganhos em caso de descobertas. Sessenta e quatro empresas foram habilitadas e terão que depositar garantias até o fim deste mês. Os outros dois leilões acontecerão no segundo semestre, sendo que apenas a 12ª Rodada foi marcada e acontecerá nos dias 30 e 31 de outubro. Algumas observadores acham que o governo brasileiro deixou o setor parado por muito tempo. O último leilão com oferta de áreas no mar aconteceu em 2007 e com isso os investimentos estrangeiros se dirigiram para a África, Estados Unidos e Canadá, para não falar em outros países latinos. Nesse meio tempo aconteceu o "boom" do "shale gas" e do "shale oil" nos Estados Unidos e Canadá provocando uma revolução nos preços e na oferta tanto de petróleo quanto gás que essa indústria não via há décadas. Para ficar apenas no exemplo da América Latina, a Colômbia atraiu investimentos para sua indústria de petróleo com regras claras e estabilidade regulatória em uma região conhecida pela existência de pesadas estatais como a venezuelana PDVSA e a mexicana Pemex. Em 2010 o humor com a brasileira Petrobras virou durante, e após, o processo de capitalização da companhia. O desalinhamento entre os interesses da estatal e os do governo, que vem usando a Petrobras para controlar a inflação e a colocou em uma situação de desequilíbrio entre caixa e investimentos custou caro para a empresa. Só agora, um ano depois da gestão da nova presidente da Petrobras, Graça Foster, analistas do mercado começam a apostar de novo na companhia. Em 2013, a estatal vai adicionar à sua produção, como operadora, mais do que os 754 mil barris ao dia em média que a estatal colombiana Ecopetrol produziu em 2012. Serão 960 mil barris ao dia adicionais, dos quais 660 mil barris líquidos para a Petrobras e o restante para seus sócios. Mesmo assim o valor de mercado da colombiana (US$ 96,628 bilhões) corresponde a quase 89% do valor da Petrobras: US$ 108,96 bilhões). Isso, apesar de a brasileira ter produção quase 2,6 vezes superior, quinze vezes mais reservas e capacidade de refino seis vezes mais elevada que o da companhia colombiana (2,1 milhões de barris versus 330 mil barris). A perda de valor da estatal brasileira em bolsa mostra quanto a mão pesada do acionista majoritário, o governo, pode ser danosa. Enquanto pressionava a Petrobras para ser a âncora da política industrial do setor de óleo e gás, o Brasil fechou a porta para a entrada de novos investidores do mercado suspendendo os leilões depois da descoberta do pré-sal, cuja magnitude começou a ficar conhecida a partir de 2007. Era o momento em que essa indústria no país estava mais atraente e se esperava valores recordes nos leilões se áreas do pré-sal fossem oferecidas. Agora, cinco anos depois, essas áreas serão oferecidas, mas em um modelo regulatório em que a Petrobras será operadora única. Até agora não é conhecido o modelo de contrato de partilha de produção do leilão exclusivo do pré-sal e nem as áreas que serão oferecidas, o que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve divulgar até julho, segundo informou a diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard. Este ano os presidentes executivos da Statoil, Helge Lund, e da Royal Dutch Shell, Peter Voser, estiveram no Brasil. Em entrevistas, ambos deixaram claro o interesse pelo país e indicaram que podem participar dos leilões do pré-sal. Isso se verá mais adiante. No dia em que a Shell comemorou 100 anos de operação no Brasil, na semana passada, Voser disse que a companhia quer permanecer no país por várias décadas ainda, mas dando o recado sobre a importância da continuidade dos leilões de áreas exploratórias. Em Brasília foi ouvido pela presidente Dilma Rousseff mas ainda é cedo para se saber o ritmo em que essa retomada vai acontecer. (Cláudia Schüffner)