País fica mais perto de crise energética

A energia elétrica tende, cada vez, a ser um grande problema para o Brasil em 2013 e não mais uma solução, como desejava a presidente Dilma Rousseff, que concentrou esforços para reduzir em 20%, em média, a conta de luz dos brasileiros a partir deste ano. A falta de chuvas nas principais bacias e a queda dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas para níveis críticos fizeram com que os custos de operação do sistema elétrico disparassem para R$ 555 por MWh na sexta-feira, aproximando-se dos patamares alcançados somente no ano de 2001 e em janeiro de 2008, períodos em que o país também atravessou uma crise na oferta de energia hidráulica. Analistas dizem que os riscos de um racionamento, hipótese rejeitada até o momento pelo governo, aumentaram na última semana com a piora das condições climáticas. Em fevereiro de 2008, as chuvas se normalizaram e afastaram a necessidade de que o consumo fosse racionado, medida que precisou ser adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 2001. Em relatório para investidores, os analistas do banco BTG Pactual Antonio Junqueira e Gustavo Gattass afirmam que uma eventual restrição na oferta de energia afetará o crescimento do PIB neste ano. "Os riscos são maiores do que eram antes e a situação é delicada", escrevem os analistas. Mesmo que não seja necessário recorrer à contenção do consumo, considerada uma medida extrema, os analistas do BTG dizem ser provável que as térmicas fiquem ligadas por meses seguidos. Os gastos com a queima de combustível para garantir o abastecimento energético, dizem eles, vão neutralizar uma parcela relevante do corte de 15%, aproximadamente, que deveria ser obtido com a redução dos encargos setoriais e das tarifas das usinas e linhas de transmissão antigas, cujas concessões foram renovadas em dezembro Dessa forma, em vez de contribuir para uma desaceleração da inflação, a energia elétrica pode agravá-la. "Antes de cair, o preço da energia vai subir", previu a economista Tereza Fernandez, da MB Associados, em apresentação promovida na semana passada pela Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias de veículos. Segundo ela, aumentos nos preços de combustíveis, carros, alimentos e passagens aéreas também podem distanciar a inflação do centro da meta a ser perseguida pelo Banco Central. "Quanto mais crescer o PIB, mais altos serão os riscos e mais cara ficará a energia em 2013", escreveram os analistas do BTG. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elevou na sexta-feira o custo marginal de operação (CMO) do setor de R$ 341 para R$ 554,95 por MWh na região Sudeste para a próxima semana. Isso fez com que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), ou o valor da energia no mercado disponível, também disparasse para R$ 554,82 por MWh no Sul e Sudeste, acumulando na semana um alta de 62%. "Este é certamente um indicador de crise ", afirmou Paulo Mayon, da comercializadora de energia Compass. Segundo ele, em janeiro 2008, o país enfrentava problemas com fornecimento de gás natural da Bolívia, que não ocorrem neste momento. Em compensação, o consumo de energia elétrica pelas residências e pelo setor de serviços cresceu significativamente. Há ainda outros dois agravantes, diz Mayon. Os reservatórios na região Sudeste estão só 29% cheios, enquanto, em 2008, esse percentual era de 46%. Neste ano, não há ainda a ocorrência de um padrão climático definido - La Niña ou El Niño -, o que aumenta as incertezas em relação ao comportamento das chuvas. O Brasil, afirma Mayon, poderá recorrer a alguns planos alternativos para garantir uma maior oferta, entre eles buscar energia da Argentina, com a qual já há um intercâmbio, e da Venezuela, país com o qual foi feita uma conexão por Manaus e Boa Vista, mas que nunca foi utilizada até o momento. "São 'cavalarias' que podem ser chamadas para salvar a situação". (Colaborou Eduardo Laguna) (Cláudia Facchini) --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Meteorologia indica que SE terá chuvas e NE, tempo seco. Os reservatórios do Nordeste, que estavam com 31% da sua capacidade na última medição divulgada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), podem baixar de nível ainda mais nos próximos meses. As previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe) apontam para um regime de chuvas na região entre janeiro e março 40% menor do que a média histórica, que varia entre 70 mm e 100 mm no período. Em 2008, quando houve a crise energética, o índice pluviométrico do Nordeste ficou apenas um pouco menor que a média. Em janeiro daquele ano, os reservatórios estavam com 30,6% de capacidade. Caso as chuvas continuem escassas, o ONS terá de acionar mais usinas termelétricas para garantir o abastecimento de energia, encarecendo a eletricidade de consumidores e produtores. As regiões Sudeste e Centro-Oeste, que possuem cerca de 70% de peso no parque gerador nacional, estão com previsão de um índice pluviométrico dentro da média. Entretanto, há cinco anos o regime de chuvas nas regiões ficou acima do usualmente registrado pelos órgãos meteorológicos. Em contrapartida, a previsão para a região Sul é de chuvas acima da média, com a quantidade de chuvas aumentando em até 45% em relação à média histórica. A boa notícia, contudo, não ajuda a baratear a energia, já que o bloco representa apenas 5% do total gerado pelas hidrelétricas brasileiras. O Nordeste tem fatia de 20%. "O Nordeste é quem pode trazer problemas para os reservatórios. A temperatura dos oceanos está favorecendo a falta de chuvas. Os fatores estão conjugando muito bem para a previsão, infelizmente, se concretizar", diz Luiz Cavalcanti, chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo (Capre) do Inmet. Segundo o especialista em meteorologia, os reservatórios nordestinos estão com um volume muito baixo. "Conversamos com o ONS e eles estão sabendo da previsão. Me disseram que já estão ligando mais termelétricas. No Sul vai sobrar água." No sistema Sudeste/Centro-Oeste, em janeiro de 2008, o nível médio das hidrelétricas ficou em 50,8%. No dia 3, o ONS registrou 28,8%. Em janeiro de 2001, ano em que ocorreu racionamento de energia, a média ficou em 31,4%. Cavalcanti ressalta que o período de dezembro a fevereiro geralmente é caracterizado por ser o de maior volume de chuva durante o ano no Sudeste e no Centro-Oeste. "É mais a partir de abril que o regime fica mais instável", afirma. O Norte também possui estimativa de chuvas dentro da média histórica. Com 5% de peso na geração nacional, a região era a que possuía o índice mais alto de reservatórios na última medição divulgada: 41,2%. (Rodrigo Pedroso)