Para especialista, xisto depende de infraestrutura

Responsável pelo principal levantamento sobre o potencial de reservas recuperáveis de gás de xisto do Brasil, de 6,4 trilhões de metros cúbicos, a Energy Information Administration (EIA), agência de energia do governo dos Estados Unidos, avalia que, para que o Brasil replique o modelo de sucesso de exploração americano, é preciso uma combinação de fatores, desde a oferta do recurso energético até a mão de obra qualificada e uma rede de distribuição extensa. "A indústria petrolífera dos Estados Unidos está bem estabelecida e tem acesso favorável a recursos energéticos, além de ter infraestrutura e tecnologia consolidadas", afirmou Michael Schall, diretor da Divisão de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EIA, que veio ao Brasil para participar hoje de um debate sobre gás natural não convencional, em evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em comemoração ao Dia da Indústria, em 25 de maio. Segundo Schall, a aplicação de subsídios governamentais pode ajudar a reduzir o custo e ampliar a rentabilidade na exploração e produção de gás de xisto. Ele, porém, ressaltou que há muitas outras questões para o desenvolvimento dessa atividade. A principal delas, na sua opinião, é o acesso a recursos logísticos. "Nos Estados Unidos, por exemplo, em muitos locais as rodovias não eram adequadas para suportar o tráfego em grande quantidade de caminhões pesados. Indústria e governo trabalharam juntos então para assegurar que uma melhoria nas rodovias fosse feita", disse. Apesar de admitir que o baixo custo do gás de xisto é um fator de competitividade expressivo para a indústria química americana, o diretor da EIA é cuidadoso ao comentar sobre possíveis mudanças no cenário global desse setor. "A vantagem competitiva da indústria química dos Estados Unidos, baseada em um custo mais baixo da matéria-prima, é significativa, mas não representa uma virada no tabuleiro para os principais produtores químicos do mundo", afirma. Para ele, países do Oriente Médio, Rússia, China e Índia continuam tendo vantagens no custo de matéria prima para a indústria química, em relação aos Estados Unidos. O Brasil, porém, não tem a mesma condição. A indústria química nacional é baseada em nafta, que hoje possui grande desvantagem competitiva em comparação com o produto americano, diz Schall. Com relação ao setor de biocombustíveis, Schall prevê uma maior relação de interdependência entre Brasil e Estados Unidos, nas áreas de produção, consumo e regulação. "Fatores relacionados ao clima, que resultam na oscilação da produção agrícola, têm influência nos preços dos biocombustíveis, o que estimulará o comércio bilateral", avalia. O diretor da EIA acredita que a demanda por etanol de cana-de-açúcar e de biodiesel nos Estados Unidos vai crescer significativamente nos próximos anos, porque os dois combustíveis têm baixo nível de emissão de gases do efeito estufa e atendem às crescentes exigências regulatórias americanas. (Rodrigo Polito)