Petrobras mantém gastos e agrada mercado

O novo plano de negócios da Petrobras anunciado na sexta-feira mantém o nível de investimentos do plano anterior e não inclui novos projetos, o que foi percebido como a continuidade de um planejamento de gastos mais realista. Isso é traduzido pelo fato de a companhia divulgar dois números para o plano estratégico 2013-2017. O primeiro, de US$ 207,1 bilhões, se refere a projetos já em fase de implantação. O segundo, de US$ 236,7 bilhões, inclui aqueles que ainda não tiveram viabilidade econômica confirmada e onde estão incluídas as duas refinarias premium programadas para o Maranhão e o Ceará. Foi bem recebido o fato de a companhia não aumentar os investimentos programados, com o plano ficando muito próximo do anterior. Um destaque é a previsão de obter US$ 9,9 bilhões com a venda de ativos principalmente este ano, quando os dois planos anteriores eram mais vagos, prevendo US$ 15 bilhões (o que incluía a liberação de garantias depositadas no fundo de pensão, Petros) ao longo de cinco anos. Esse fato foi bem recebido por alguns analistas na sexta-feira. Paula Kovarsky, do Itaú BBA, lembra que depois do último aumento do diesel havia alguma expectativa, que ela considerava otimista, de os investimentos da Petrobras pudessem ser reduzidos, mas ela acha que a separação entre projetos em fase de implantação e aqueles "em análise" que não foram aprovados foi "mais uma vitória" da presidente da Petrobras, Graça Foster. Emerson Leite, do Credit Suisse, achou positivo o fato de os projetos da área de exploração e produção em fase de implantação corresponderem a 71% dos investimentos previstos no plano, contra 66% do anterior, um aumento de US$ 16 bilhões para explorar e produzir óleo, o que gera receitas. Ao mesmo tempo, o analista chama a atenção para o fato de os da área de Abastecimento, que inclui o refino, terem caído de 25% para 21% do total a ser investido até 2017. A Petrobras informou que vai investir US$ 147,5 bilhões em exploração e produção, sendo US$ 24,3 bilhões programados para a exploração e US$ 106,9 bilhões para projetos de desenvolvimento da produção. Leite também viu uma forte mensagem no programa de venda de ativos, que ele espera para meados do ano e que será um forte catalizador para o papel. A recomendação do Credit Suisse é de compra para as ações da Petrobras. A estatal estuda uma forma de financiar as refinarias premium do Maranhão e Ceará sem pesar no seu balanço O plano estratégico 2013-2017 foi mais fácil de ser aprovado do que o anterior, que gerou discussão no conselho de administração em torno do corte ou não de investimentos, o que agradaria mais ao mercado se combinado a mais aumentos da gasolina e diesel. O pano de fundo da divisão no governo era o fraco desempenho da produção e as perdas com refino combinadas com uma escalada de gastos e dívidas que alguns analistas achavam quase insana. No ano passado, já com Graça na presidência, a solução foi divulgar um número maior mas com a divisão entre os projetos aprovados e os que ainda não se enquadram no perfil de financiamento, uma estratégia repetida este ano. Incluir as refinarias do Nordeste no segundo grupo traz um ônus político, com os governadores do Maranhão e Ceará pressionando pelos investimentos. A estatal estuda uma forma de financiar essas refinarias sem pesar no seu balanço, mas ainda não são conhecidos os detalhes da engenharia financeira capaz de tornar lucrativo um negócio em que os combustíveis produzidos dependem da aquisição de petróleo a preços internacionais que são vendidos no Brasil com preço subsidiado pela estatal como forma de controle da inflação. A Petrobras prevê chegar em 2017 com geração operacional de caixa da ordem de US$ 50 bilhões por ano A meta de produção da Petrobras prevê chegar a 2016 extraindo 2,5 milhões de barris de óleo no Brasil, volume que aumenta para 2,75 milhões em 2017 e 4,2 milhões, em 2020. Estão previstas onze novas plataformas que vão adicionar 1,45 milhões de barris à produção da companhia, já descontado o óleo dos sócios, entre este ano e 2015. Os pré-requisitos de financiamento do plano consideram que o petróleo custará US$ 100 por barril no período, com a taxa de câmbio variando entre R$ 2,00 e R$ 1,85 por dólar. Paula Kovarsky e Diego Mendes, do Itaú, observam que o financiamento do plano ainda é um ponto de preocupação, mas acham que a manutenção dos valores praticamente iguais aos do ano passado vão ajudar o desempenho das ações no curto prazo, já que está afastado o risco de a companhia ser forçada a aumentar investimentos apesar das restrições de caixa e aumento da dívida. A recomendação do Itaú BBA para o papel é de "neutro". No detalhamento do plano, a Petrobras prevê uma geração operacional de caixa de US$ 164,7 bilhões no período, do uso de US$ 10,7 bilhões de excedentes de caixa, e a obtenção de US$ 9,9 bilhões com a venda de ativos e reestruturações financeiras. Estão previstas captações de US$ 61,3 bilhões brutos, equivalentes a US$ 21,4 bilhões líquidos quando descontado o caixa. Os critérios de financiamento, segundo a Petrobras, não preveem nova emissão de ações. A companhia mantém a promessa de que a alavancagem financeira não ultrapassará 35% e que o indicador dívida líquida/Ebitda voltará, a partir de 2014, para o limite de 2,5 vezes (atualmente está em 2,7 vezes). A Petrobras prevê chegar em 2017 com geração operacional de caixa de US$ 50 bilhões por ano, estimativa que o Deutsche Bank considera otimista. "O plano traz uma estimativa agressiva para a futura geração de caixa baseada em preços mais elevados do petróleo e nos benefícios dos planos de otimização da Petrobras. Mas não sabemos que preços foram incorporados aos combustíveis refinados internamente", escreveu o analista Marcus Sequeira. O Deutsche mantém sua recomendação de "esperar" para a ação, devido às perspectivas negativas para a produção no curto prazo, os riscos de execução e o risco político. (Cláudia Schüffner)