Petrobras vence licitação e volta a investir na Bolívia

Quase sete anos após a estatização de seus ativos pelo presidente Evo Morales, a Petrobras volta a investir na Bolívia. Em 30 de dezembro, a estatal venceu licitação para explorar um campo de 1,1 milhão de hectares no Departamento de Santa Cruz, região que abriga as maiores reservas de gás natural do país. A Petrobras informou ao Valor que vai assinar contrato de prestação de serviço com a estatal boliviana YPFB e estimou que os trabalhos no local podem começar no segundo trimestre. Não divulgou, porém, dados sobre o investimento previsto ou o tamanho das reservas. Uma preocupação do governo é que a produção nas jazidas hoje operadas pela Petrobras na Bolívia deve começar a declinar a partir de 2017. Em um quadro de alta do consumo torna-se fundamental encontrar novas reservas, uma vez que o gás boliviano continuará sendo estratégico para o abastecimento no Brasil. Essa importância aumenta à medida que o país vai batendo recordes na demanda por gás. Só em novembro foram 70,9 milhões de metros cúbicos diários, alta de 41,5% em relação ao mesmo período de 2011, por conta do acionamento de termelétricas devido ao baixo nível dos reservatórios. De janeiro a novembro, a alta foi de 18,2%. Fontes do governo brasileiro disseram que interessa ao Brasil continuar contando com o gás da Bolívia após o fim do contrato atual, em 2019. Ao Valor, a Petrobras informou que "pretende negociar oportunamente a renovação". Do ponto de vista boliviano, o governo Evo Morales tenta assegurar a manutenção de seu principal cliente. O contrato entre Petrobras e YPFB prevê a exportação de 30 milhões de metros cúbicos diários de gás ao Brasil, através do gasoduto Brasil-Bolívia. Só no ano passado, as exportações de gás da Bolívia somaram US$ 5,741 bilhões, sendo 75% desse valor ao Brasil. O gás é um produto essencial para a balança comercial do país vizinho, representando 48,8% de suas exportações ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estatal diz que quer renovar contrato com a Bolívia. O retorno dos investimentos produtivos da Petrobras na Bolívia, caso da licitação vencida em dezembro para operar o campo de Cedro, reforça a tendência de que a empresa brasileira renovará o contato de fornecimento de gás que mantém com a estatal boliviana YPFB, que vair terminar em 2019. Questionada pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, a empresa disse em um e-mail que a "Petrobras pretende negociar oportunamente a renovação do contrato de compra de gás boliviano". Na mesma resposta, mais abaixo, "reafirma seu interesse em negociar a renovação do contrato de gás boliviano". Uma fonte na Petrobras diz que ainda é impossível determinar a quantidade de gás existente na reserva de Cedro. E afirma que estudos, ainda em fase preliminar, determinarão o montante dos investimentos a serem destinados à jazida. Também não foi divulgado oficialmente quando deve começar a produção de gás nesse campo. Uma fonte do governo brasileiro diz, porém, que a expectativa é que a operação já esteja em andamento em 2017. "Essa é uma data chave, pois será quando a produção nos atuais campos operados pela Petrobras começará a declinar", afirma. "A avaliação é que não vamos poder prescindir do gás boliviano no curto prazo." Segundo essa fonte, "a perspectiva de renovação do contrato em 2019 depende unicamente de que se comprove que a Bolívia terá capacidade de fornecer gás ao Brasil". "A estratégia de investimento da Petrobras na Bolívia é encontrar gás, porque o gás boliviano é vantajoso", afirmou. "Os investimentos que poderiam existir no Brasil em relação ao gás estão sendo canalizados para o pré-sal." Uma fonte da Petrobras ratifica essa tendência. "A Petrobras vai ficar na Bolívia enquanto houver gás, isso está claro" afirmou. Ontem, a YPFB informou, sem detalhar, que a Petrobras deve investir US$ 179 milhões na Bolívia em 2013. Uma fonte do governo brasileiro explica que esses investimentos relatados pela estatal boliviana estão relacionados ao custeio das operações da empresa no país. Essa mesma fonte, no entanto, destaca uma diferença em relação ao montante a ser investido no campo de Cedro. "Esse é um investimento produtivo. E o que transparece é que essa seria uma reserva significativa", disse. "A Petrobras entrou para nessa licitação determinada a vencer." A Petrobras volta a investir na busca por novas reservas de gás na Bolívia quase sete anos após o Exército boliviano ter ocupado duas de duas refinarias no país. A operação, em maio de 2006, começou logo após o presidente Evo Morales ter anunciado a estatização de todo o setor de hidrocarbonetos no país, cumprindo uma promessa eleitoral. À época, a empresa teve as refinarias expropriadas e passou a pagar royalties maiores pelo gás que explora no país. A empresa brasileira opera atualmente os três maiores campos de gás na Bolívia: San Antonio, San Alberto e Itaú. (Fábio Murakawa)