Primeiro leilão deve estimular expansão (Solar)

Sem preços competitivos, políticas públicas pretendem fomentar o uso da energia solar, como aconteceu com a eólica Há 15 anos, quem dizia que a energia eólica iria ganhar espaço na matriz elétrica nacional era tratado com desdém. Dez anos depois, a fonte ganhou espaço c poderá chegar ao fim da década com uma potência instalada superior a 10 mil MW, quase o porte da usina hidrelétrica de Itai-pu, uma das três maiores do mundo. O mesmo cenário poderá se repetir nesta década com a energia solar, hoje com uma participação incipiente na capacidade instalada do sistema interligado, estimada em menos de 300 MW, mas que poderá ganhar espaço nos próximos anos, ao mesmo tempo que sua competitividade deverá aumentar. O marco inicial da ascensão poderá ser o leilão A-3, de entrega de energia daqui a três anos, que deverá ser realizado no fim de outubro. "Os preços da energia solar ainda não estão competitivos, mas, ao abrir esta possibilidade para que os investidores cadastrem seus projetos, poderemos conhecer mais sobre os participantes, os projetos de geração solar que eles têm e o mercado que olham. Assim podemos aprender mais sobre este segmento", diz Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE). No mercado, esta fonte tem um preço acima de RS 300, o triplo do verificado em usinas eólicas ou hidrelétricas. Para ele, até 2020, a fonte deverá estar com preços competitivos para ganhar espaço na matriz elétrica. No fim de 2012, a CPR Energia, que em julho abriu o capital de seu braço de investimentos em energias renováveis, inaugurou a usina de Tanquinho, na qual investiu RS 13,8 milhões em seu primeiro empreen-d i mento de geração solar e o primeiro projeto instalado no Estado de São Paulo. Outra empresa que está aplicando recursos na área é a Cemig. Desde janeiro, está em fase de implantação a Usina Experimental de Geração Solar Fotovoltaica, localizada em Sete Lagoas (MG). "Quando concluída, ela será a maior usina do tipo no Brasil, com 3,3 MW de pico em painéis fotovoltaicos, com capacidade de abastecer até 3,5 mil residências", diz o gerente de alternativas energéticas da Cemig, Marco Aurélio Dumont Porto. Com custo de cerca de RS 40 milhões, com RS 27 milhões de aporte da Cemig, será um dos primeiros projetos de pesquisa do país que culmina na construção de uma usina comercial de geração de eletricidade. "As tarifas que conseguimos com a energia solar ainda estão bem distantes da convencional, mas acredito que, com a nacionalização de equipamentos, melhoria nas questões regulatórias e incentivos governamentais, teremos tarifas competitivas." A energia solar não é um tema novo para a empresa, que instalou milhares de sistemas fotovoltaicos para eletrificação de centros comunitários, escolas e residências rurais. "Uma usina solar de 6 MW será instalada em Itajubi, em São Paulo, em breve. Começamos a enxergar o início de um movimento que dará realidade a esta fonte na matriz. Há outros projetos que podem sair do papel em curto prazo e com grande volume", diz o secretário de Energia do Estado de São Paulo, José Aníbal, "fi essencial dar os sinais corretos para a fonte, reconhecendo as externalidades. O parque solar gera energia aqui no Estado, perto do maior centro de consumo do Brasil, sem necessidades de extensas linhas de transmissão." Para o presidente da Renova Energia, Mathias Becker, é possível repetir em larga escala na energia solar o sucesso obtido com o ingresso da fonte eólica na matriz. "Com o sinal correto, será possível verticalizar a indústria, ainda mais porque o Brasil tem uma das maiores reservas de silício do mundo, em Minas Gerais." A empresa tem um portfólio de projetos em áreas na Bahia, próximas aos de parques eólicos que a empresa detém. O que daria sinergia. Dois projetos solares da empresa deverão ser cadastrados no leilão a ser realizado em outubro. O sucesso do ingresso da energia solar pode depender de política pública, assim como foi com as usinas eólicas. Em 2004, foi dado o primeiro passo para baixar o custo das fontes alternativas, com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Em 2009, foi criado um leilão com foco na energia eólica. Outro passo decisivo foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conceder financiamento para máquinas e equipamentos, com um índice de nacionalização da produção superior a 60%. Em 2009, o preço da energia eólica despencou para R$ 135 o'MWh e, em 2011, chegou a R$ 102, quase o mesmo preço da fonte hídrica. Na Alemanha, cuja potência instalada de fonte solar chega a 25 GW, duas vezes o tamanho da hidrelétrica de Itaipu, o governo bancou o acréscimo desta fonte limpa. "Foi uma decisão de parar com a expansão por usina nuclear e reduzir a dependência do gás russo. No Brasil, o custo da energia solar ainda não está competitivo", diz o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivaldejosé de Castro. Além de parques solares, a tecnologia poderá ganhar espaço com a adoção gradual dos smart grids (redes inteligentes de energia), que por sua vez poderão estimular a microgeração distribuída. O cliente residencial poderá instalar painéis solares até vender parte da energia à rede ou abater parte de sua conta com esse crédito. Resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) publicada em 2012 permite que o consumidor residencial que tiver excedente de geração de energia de fonte própria, como energia solar, possa acumular créditos para descontar da conta de luz elétrica a partir de 2013. (Roberto Rockmann)