Reajuste parcelado da Copel agrada os investidores

Os investidores estrangeiros reagiram bem à aprovação do reajuste tarifário da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Os ADRs (recibos de ações) da empresa subiram 7,16% ontem na Bolsa de Nova York, após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ter dado sinal verde para a companhia parcelar seu aumento de tarifa, com um reajuste de 9,55% neste ano, retroativo a 24 de junho, e o adiamento de uma outra parte para o ano que vem. O percentual remanescente, que fica para o próximo ciclo de reajuste tarifário, em 2014, é a diferença entre o percentual atual e o índice de 14,61% que havia sido aprovado pela diretoria da Aneel em 20 de junho. Na ocasião, a companhia solicitou ao órgão regulador que suspendesse o reajuste, que estava previsto para o dia 24 de junho, e que considerasse um índice parcial. A ideia era amenizar o impacto da atualização de tarifa para os consumidores e surgiu por determinação do governo do Estado do Paraná. Acionista controlador da empresa, o governo estadual temia que a aplicação integral do índice de reajuste ampliasse o efeito das manifestações da população contra a baixa qualidade dos serviços públicos e a elevação dos custos desses serviços. Em 21 de junho, o governador Beto Richa (PSDB) disse que a alíquota estabelecida pela Aneel estava suspensa. A reação do mercado, naquele momento, foi bastante negativa, e as ações da empresa caíram 16,7% na Bovespa em um dia, de R$ 31,45 para R$ 26,21. Em Nova York, a queda dos ADRs foi de 15,5%. Os analistas de mercado citavam principalmente a aversão dos investidores ao risco político de empresas de serviços públicos. Agora, a aprovação do reajuste parcelado agrada o mercado, e a expectativa é de alta para as ações na Bovespa hoje. Ontem, o mercado local de ações não abriu por conta do feriado em memória da Revolução Constitucionalista de 1932 no Estado de São Paulo. A notícia é vista como positiva principalmente por garantir um reajuste razoável, ainda que o parcelamento do índice comprima o faturamento da empresa. Sem a aplicação integral da alíquota de 14,61%, a receita da empresa ficará reduzida em R$ 255,8 milhões nos próximos 12 meses, segundo a Aneel. Da forma como foi aprovado pela agência, o valor será corrigido pelo IGP-M e incluído no reajuste a ser aplicado no próximo reajuste, em 2014. A redução de sua receita, afirma a companhia, não altera seus planos de investimento, e seu equilíbrio econômico-financeiro fica preservado. Apesar de ter seu fluxo de caixa reduzido em cerca de R$ 100 milhões somente neste ano, segundo Vladimir Santo Dalesse, diretor de distribuição da Copel, a empresa mantém o plano de investir R$ 600 milhões em 2013. A previsão de R$ 800 milhões para o ano que vem, em que a companhia terá sua receita prejudicada nos primeiros seis meses, também está mantida. "Já tínhamos um plano de melhorar nossa eficiência operacional, que vai ser intensificado com essa decisão", disse Dalesse ao Valor. O plano citado por ele inclui a redução do quadro de funcionários em cerca de 700 trabalhadores, aproximadamente 10% do total. Além de não repor as vagas dos trabalhadores que deixam a companhia, foi lançado um programa de demissão voluntária. Outra parte do plano é a remodelação da estrutura organizacional da companhia, que adotou um modelo baseado em processos, em substituição ao antigo modelo de regiões. "Antes, tínhamos redundâncias e perdas operacionais. Agora, evitamos isso e o desperdício." Na visão de Dalesse, a decisão de parcelar o reajuste foi "inteligente" se considerada a conjuntura do país e a dificuldade de implementar um índice de reajuste forte. Ele afirma que existe a possibilidade de que as variáveis usadas para o cálculo dos reajustes mudem significativamente, o que poderá aliviar o reajuste do ano que vem. As principais variáveis que levaram ao valor de 14,61% neste ano foram as despesas com energia térmica e o câmbio, que elevou o custo da compra de energia de Itaipu, o que pode não se repetir de agora em diante. (Olivia Alonso, Daniela Meibak, Téo Takar e Rafael Bitencourt)