Redução nas contas de luz já custou R$ 8 bi ao governo

Conta obtida pela Folha inclui gastos com a energia mais cara gerada pelas usinas térmicas e fim de encargos. De janeiro até o início de junho deste ano, o governo teve de pagar R$ 8 bilhões para bancar a redução média de 20% nas contas de luz, em vigor desde fevereiro, mesmo com o uso reforçado das usinas termelétricas, cuja energia é mais cara. O número é tratado de forma sigilosa pelo governo e foi obtido com exclusividade pela Folha. Calculado por técnicos do governo, inclui todas as despesas pagas pelo fundo do setor, a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), em nome de duas missões: manter a energia mais barata e segurar o impacto da geração térmica sobre as tarifas. Parte desse gasto será repartido com o consumidor nos próximos cinco anos. Procurado pela reportagem, o Ministério de Minas e Energia não quis se manifestar sobre o assunto. Em resposta a um pedido do jornal, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) informou que apenas o gasto com as térmicas, tratado isoladamente, de janeiro a abril, é superior a R$ 3 bilhões. As despesas restantes envolvem redução de encargos e o gasto com a energia mais cara gerada pelas usinas térmicas no período restante, entre outros custos. A agência disse não dispor dos dados atualizados para o período até o início de junho. Para efeito de comparação, nos anos de 2010 e 2011, quando o governo não precisou recorrer tanto às térmicas, esse gasto foi quase a metade: R$ 1,7 bilhão e R$ 1,4 bilhão, respectivamente. Esse mesmo gasto térmico, se considerado o período de dezembro do ano passado a abril, já saltaria para quase R$ 4 bilhões. DIVERGÊNCIAS Técnicos do governo, entretanto, asseguram que o país não poderia deixar de realizar esse gasto, uma vez que a situação dos reservatórios, em razão da seca prolongada, ficou tão crítica que não haveria outra saída. Mesmo assim, o governo subestimava os gastos com o uso dessas térmicas. No mês passado, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) veio a público informar que iniciou processo de desligamento de parte dessas térmicas. Na ocasião, ele afirmou que o gasto representado por essas usinas ao longo de todo o ano seria de R$ 2 bilhões. Até mesmo no cálculo da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), muito mais conservador que o da Aneel, o gasto com térmicas de janeiro a março já superava R$ 2 bilhões. Os números do próprio governo divergem entre si porque agência e empresas de planejamento do governo para o setor elétrico consideram despesas diferentes na hora de fechar os cálculos. (Júlia Borba)