Sem preço competitivo para eólica, investidores focam mercado livre

Megawatt/hora ficou abaixo de R$ 100 em leilão, mas perspectiva é de melhora com previsão de PIB maior Enquanto o governo comemora os baixos preços do megawatt hora da energia eólica ofertada nos leilões que acontecem no mercado cativo-que têm preços regulados -, investidores se mostram descontentes com o valor praticado - abaixo de R$ 100 -, argumentando ser este um desestímulo ao desenvolvimento dessa fonte de energia renovável. Segundo Adalberto Rezende, presidente da Esco Energy e especialista no assunto, é preocupante o descompasso que há no setor elétrico. "Há dezenas de investidores brasileiros que se organizaram para desenvolver centenas de projetos eólicos pensando em se inserirem em um novo e próspero segmento, mas não conseguiram acompanhar preços tão baixos e irreais e assim não puderam vender suas energias no mercado cativo", aponta. O valor do equipamento representa 80% dos custos da operação da usina, o que, segundo Rezende, justifica um preço mais competitivo, em torno de R$ 130 o MW. Para chamar a atenção sobre o tema, Rezende destaca que no último leilão realizado-dezembro de 2012-o Brasil não comprou o volume de energia disponível dessa fonte. Participaram da disputa 484 empreendimentos com uma oferta total de 11.879MW, mas apenas dez projetos eólicos, com 281 MW, foramcontratados. Os valores praticados variaram entre R$ 90 e R$ 87. "Se o governo brasileiro tivesse comprado energia a um preço mais adequado teria cumprido o papel de incentivador deumimportante novo segmento, atraindo os mais variados fabricantes e fornecedores de tecnologia eólica na engenharia brasileira", diz. Contudo, a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica- ABEEólica, Elbia Melo, explica que essa contratação tão pequena de energia eólica em 2012 está ligada ao baixo crescimento do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB), que ficou em torno de 1%, afetando a demanda por energia. "Com demanda baixa, a competição ficou muito acirrada, barateando os preços. Nesse leilão, tivemos uma oferta de eólica 28 vezes superior à demanda", explica. Por ter sido um período atípico, Elbia assegura que o espaço da eólica no mercado cativo está preservado. "O leilão de dezembro não pode ser utilizado como parâmetro diante de um histórico de contratações para essa fonte", alerta, lembrando que as vendas antes desse período sempre atingiram um total de 2 mil MW. "Para este ano, temos perspectiva de PIB maior e as distribuidoras vão precisar contratar energia. Por isso, mãos à obra", conscientiza Elbia, sem deixar de concordar com a queixa de que preços abaixo de R$ 100 inviabilizam os investimentos. "Qualquer preço abaixo desse patamar no mercado cativo não remunera o investimento", enfatiza. Minibio Carlos Augusto Leite Brandão, presidente-executivo da Desa, uma das fornecedoras de energia eólica, disse ao BRASIL ECONÔMICO que não tem interesse em ofertar energia dessa fonte nos leilões a serem realizados este ano se os preços não melhorarem. "Essa valor abaixo de R$ 100 não é competitivo. Vamos observar como os preços vão se comportar este ano", diz, revelando que esse não é um mercado tão interessante para a empresa que tem contratos estratégicos com o mercado livre de energia - nele, os preços são negociados diretamente com os geradores. "Os preços dessa energia no mercado livre são mais competitivos do que os praticados no mercado cativo. E hoje já temos contratos longos que vão de 10 a 15 anos, estamos saindo do prazo de três a cinco anos", revela, observando que com isso já é possível ter vantagem comparativa com o mercado cativo em que os contratos variam entre 20 e 25, sendo assim um facilitador de acesso ao financiamento. "Os consumidores querem evitar incertezas do custo de geração dos próximos anos", completa. Já Pedro Pilaggi, diretor de relações com investidores da Renova Energia, afirma que a estratégia de crescimento da empresa está balanceada entre o mercado livre e o cativo. "No mercado cativo conseguimos escala e contratos longos, o que nos dá estabilidade, e no mercado livre temos preços mais competitivos", diz.