Tesouro deixa de bancar térmicas com entrada em vigor de novo preço

Com a adoção neste mês do novo Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), a energia elétrica ficou cerca de 65% mais cara no mercado de curto prazo, saltando de R$ 157,30 por MWh no fim de agosto para R$ 258,13 por MWh na primeira semana de setembro (na região Sudeste). Na sexta-feira, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) elevou ainda mais o PLD, que foi fixado em R$ 270, 23 por MWh para a segunda semana de setembro. O aumento não será sentido pelos consumidores residenciais, mas pelas empresas que estiverem com posições descobertas ("short") na CCEE. Isso ocorre quando os agentes contratam um volume inferior ao consumo e precisam comprar energia no mercado de curto prazo (spot) para zerar suas posições na câmara. Para o governo federal, a entrada em vigor no novo PLD representará uma economia de bilhões de reais neste segundo semestre. Isso porque o Tesouro vinha bancando os custos com as térmicas, para evitar um aumento na conta de luz. Somente em junho, a conta com o Encargo de Serviço de Sistema (ESS), no qual são computadas as despesas com geração de energia para segurança energética, totalizou R$ 755 milhões, acumulando em 12 meses R$ 6,7 bilhões. Mas, a partir deste mês, o ESS deve ficar perto de zero. Com a entrada em vigor do novo PLD, as térmicas saíram do ESS e foram incorporadas aos preços. Agora, se as térmicas precisarem ser despachadas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), esse custo estará automaticamente refletido nos valores do PLD, que são fixados semanalmente pela CCEE Logo em sua estreia, na primeira semana setembro, a câmara precisou recalcular os valores. Mas, segundo o conselheiro da câmara, Paulo Born, não há nada de errado com o modelo computacional, que foi amplamente testado. "Houve um problema com os dados de entrada. Isso poderia ter ocorrido também com o outro modelo", disse Born. Em sua avaliação, a mudança no cálculo do PLD representa um avanço "memorável" para o setor elétrico. A "qualidade" da nova metodologia, diz Born, é bem superior à anterior. E, a partir de agora, os valores utilizados no planejamento de longo prazo, o que é feito pela Empresa de Pesquisa de Energética (EPE), passam a ser iguais aos valores utilizados, no curto prazo, pelo ONS. "Passamos a ter coerência em toda a cadeia, o que não exista antes", diz Born. (Cláudia Facchini)