Tolmasquim defende leilão de gás não convencional em debate no Senado

Discussão gerou polêmica com Ildo Sauer e Adilson Oliveira, que defenderam maior debate antes de realização do certame. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, afirmou nesta segunda-feira, 6 de maio, que não há muito espaço para expansão das térmicas a gás no país, e que a perspectiva de crescimento futuro dessas usinas está no produto de fonte não convencional, conhecido como gás de folhelho ou shale gas. Em audiência pública na Comissão de Serviços de Infra-estrutura do Senado, Tolmasquim destacou a importância do leilão de gás para o setor elétrico brasileiro e considerou temerária a proposta de cancelar os certames das áreas de petróleo e de gás, previstos para este ano. A resposta à afirmação do presidente da EPE foi dada em seguida pelo diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, Ildo Sauer, que havia sugerido na audiência a suspensão dos leilões, até que haja uma discussão estratégica mais aprofundada sobre o assunto. "Temerário para o país é querer pautar a estratégia interna com base no interesse de empresas estrangeiras que estão aqui", rebateu Sauer. Segundo o professor da USP, suspender os leilões agora é salvaguardar o interesse das gerações futuras, até que se tenha transparencia em relação ao que aconteceu com os certames anteriores para a exploração na área de petróleo. "Mais importante do ponto de vista estratégico é qual é a renda petroleira que nós precisamos para ter um plano de desenvolvimento nacional. Esse é um debate sim de alta relevância. Vamos levantar os números. Vamos ter transparência", disse. A polêmica envolveu também o professor titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Adilson de Oliveira, que também defendeu o cancelamento do leilão de gás, até que a questão seja melhor debatida. O economista observou que tudo o que se tem hoje de conhecimento do gás e do óleo não convencional "é um fenômeno americano" e disse não ter dúvidas de que considera prematura a exploração do produto no Brasil. Para Oliveira, a questão é como precificar o gás e o óleo do pré-sal, já que não é possível trabalhar com preços que não sejam competitivos para a industria nacional. O debate se estendeu à questão das fontes de geração de energia elétrica no país. Tolmasquim destacou a discussão em torno da participação das usinas termelétricas no sistema; falou das restrições na construção de novas hidrelétricas com reservatórios; lembrou o papel complementar das eólicas e disse que, diante das dificuldades em garantir o abastecimento de gás natural no momento, o carvão seria uma alternativa. Para Sauer, o fato de se ter contratado no passado usinas a óleo não justifica agora que o país embarque no carvão. (Sueli Montenegro)