Um ano ruim para a energia

Com o dólar em alta, distribuidoras sofrem como câmbio, a moeda base dos contratos com Itaipu. Energia das térmicas, mais cara, e redução das tarifas completam o cenário desafiador. Pressionadas pelos altos custos da geração das usinas termelétricas, as distribuidorasde energia começam agora a sentir os impactos da alta do dólar no custo da energia comprada de Itaipu. O repasse da desvalorização cambial chegará ao consumidor emépocas diferentes, dependendo do cronograma de reajustes tarifários. A alta do dólar leva o setor a cobrar do governo a regulamentação da lei 12783, que renovou as concessões do setor elétrico, e prevê o fim dos efeitos da variação cambial sobre as vendas de energia produzida pela usina binacional. Vinte e nove empresas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste são obrigadas a comprar cotas da produção da usina binacional, que são pagas em dólar e depois compensadas no período de reajuste tarifário de cada empresa. "Todas as empresas terão aumento de custo. Essa pressão pode contribuir no cenário de resultados fracos que a gente vem observando no setor", diz o analista Marcos Severine, do Itaú BBA. De acordo com dados da Economática, as empresas de energia listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) experimentaram uma queda de 37,7% no lucro do primeiro trimestre, impactadas pela redução no preço da energia e pelo uso de usinas térmicas no período, devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Ontem, o câmbio fechou em R$ 2,12, primeira baixa após cinco dias de altas consecutivas, e as expectativas são de que continue empatamares elevados. O valor é R$ 0,10, ou 5%, superior ao estimado pela Cemig, por exemplo, no balanço do primeiro trimestre. A empresa tem uma exposição cambial de R$ 178 milhões de reais na compra de energia de Itaipu, que varia na mesma proporção da taxa de câmbio. A compensação pela alta de custos só virá em abril do ano que vem, quando a empresa passa pelo próximo reajuste tarifário. O setor de energia vem amargando umano difícil,coma redução de receitas provocada pelo esforço do governo por tarifas mais baixas e o aumento de custos resultante damaior geração térmica, lembra o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ (Gesel). Também no caso das térmicas, o repasse às tarifas ocorre normalmente na data do reajuste tarifário. Em março, porém, o governo anunciou que usaria recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para minimizar o impacto no caixa das empresas. O setor espera também uma solução para a questão da variação cambial na energia comprada de Itaipu, que representa entre 20% e 30% do fornecimento das empresas das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Em seu artigo 19, o texto da lei que renovou as concessões do setor autoriza o governo a "celebrar contratos coma Eletrobras, na qualidade de Agente Comercializador de Energia de Itaipu Binacional, com a finalidade de excluir os efeitos da variação cambial da tarifa de repasse de potência de Itaipu Binacional". A medida, no entanto, ainda não foi regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). (Nicola Pamplona)