Usinas do Centro-Sul têm dívidas de R$ 56 bi

As usinas de açúcar e etanol do Centro-Sul do Brasil elevaram seu endividamento total em pelo menos 7,7% no ciclo 2012/13, encerrado em março. Segundo cálculos do Itaú BBA, a dívida líquida do segmento sucroalcooleiro alcançou R$ 56 bilhões na última safra, ante R$ 52 bilhões na temporada anterior. O aumento do endividamento se deu, em boa medida, por uma geração de caixa insuficiente para pagar juros e investimentos de manutenção da operação (Capex), conforme explica o diretor comercial do banco de investimento, Alexandre Figliolino. Considerando uma amostra de 68 grupos com moagem total de 390 milhões de toneladas, o Itaú BBA estimou para o segmento um lucro operacional (Ebitda) de R$ 14,4 bilhões, despesas financeiras de R$ 5,5 bilhões e investimentos (Capex) de R$ 13,4 bilhões, o que gerou um potencial de aumento do endividamento de R$ 4,5 bilhões. Assim, a dívida líquida de R$ 56 bilhões alcançada ao fim do ciclo 2012/13 já equivale ao faturamento bruto do segmento, estimado também em R$ 56 bilhões pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). No mercado, estima-se que entre 18% e 25% da dívida total do segmento seja com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES ), somente nas operações diretas de crédito. Nas operações indiretas, o risco é transferido a instituições financeiras parceiras. A maior parte do endividamento é reflexo dos numerosos investimentos feitos durante o "boom" do etanol, iniciado em 2006, e que teve seu ápice dois anos depois, quando em um único ano (2008) foram inauguradas 30 novas usinas processadoras de cana-de-açúcar. Grande parte desse movimento teve o suporte do BNDES que, entre 2008 e 2012, desembolsou R$ 30,5 bilhões para projetos de construção de novas usinas, cogeração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar e outros investimentos. Contudo, desde o estouro da crise, em 2008, o setor sucroalcooleiro do Centro-Sul perdeu capacidade de moagem de 48 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, resultado do fechamento de cerca de 50 usinas. Em torno de 38 usinas entraram em recuperação judicial nesse período. Algumas delas entram nas estatísticas das que pararam de operar, enquanto outras continuam moendo cana. Diferentemente das muitas usinas que já carregavam problemas anteriores à crise de 2008, a Usina São Fernando, localizada em Mato Grosso do Sul e pertencente ao empresário José Carlos Bumlai, foi a primeira unidade industrial construída pós-2008 a entrar em dificuldades financeiras. A usina, que tem uma capacidade de moagem de 4,5 milhões de toneladas, tem dívidas estimadas em R$ 1,2 bilhão. "O que acontece é que os preços recebidos por essa indústria estão muito próximos dos custos. Pesa muito o fato de que, além de plantio de cana, as usinas precisam investir em maquinário e infraestrutura para se adaptar às novas exigências das legislações trabalhistas, ambiental, etc. Ou investe ou morre. Por isso, a geração de caixa livre é muito pobre", diz Figliolino. De forma geral, dizem gestores de bancos, a taxa de inadimplência do setor sucroalcooleiro é baixa, pois inserir esse devedor na estatística de crédito não recebido é o último recurso do banco. Mas, de fato, essa indústria está com grandes dificuldades de pagar suas dívidas, e grande parte opta por rolar vencimentos. "Além de postergar pagamentos, muitas vezes emprestamos mais capital de giro para as empresas conseguirem atravessar a entressafra. Depende de cada caso", diz o gestor de uma instituição financeira. Figliolino destaca que a relação entre o endividamento e os indicadores operacionais do setor também aumentou. Segundo o Itaú BBA, por tonelada de capacidade de moagem instalada, a dívida líquida subiu em 2012/13 para R$ 87, ante os R$ 81 da safra 2011/12. Considerando o endividamento líquido por moagem realizada no ciclo passado, esse valor sobe para R$ 107 por tonelada, ante R$ 105,5 da temporada anterior, segundo o banco de investimento. A projeção da instituição é de que grupos que representam 10,5% do setor estejam sem condições de gerar caixa para se manter na atividade. Por isso, precisam passar por fusão ou aquisição para conseguirem sobreviver. Uma outra parcela do setor, equivalente a cerca de 18% da moagem do Centro-Sul, está em melhor condição, no entanto, ainda tem alavancagem elevada. "Mantidas as condições atuais, extremamente severas, em que os custos são muito próximos dos preços de venda, a tendência é que uma parte não desprezível do setor pare de operar", acredita Figliolino. (Fabiana Batista)