Zimmermann e Chipp admitem que sistema não suporta queda simultânea de linhas de transmissão

Em audiência na Câmara, representantes do MME, ONS e Aneel disseram que aumento da segurança significa custo elevado. O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, e o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Hermes Chipp, admitiram na Câmara dos Deputados que o sistema de transmissão não está preparado para suportar a ocorrência de contingências duplas, com a queda simultânea de dois circuitos em grandes linhas de transmissão. Em audiência pública na Comissão de Minas e Energia, Zimmermann destacou a importância do planejamento e lembrou que a cada evento há uma avaliação das falhas para a melhoria contínua do sistema. Para o secretário, países como os Estados Unidos não têm grandes sistemas de transmissão como o Brasil, pois a produção de energia está próxima dos centros de carga, mas, quando ocorrem desligamentos, esses sistemas localizados podem levar dias para se recompor. Chipp destacou que "apesar de ser uma situação desagradável, você tira desse evento como o sistema se comporta". Ele lembrou que a referência no Brasil e no mundo em termos de segurança do sistema é o critério de segurança N-1, em que o uso de um segundo circuito nas linhas de transmissão garante a manutenção do sistema em caso de queda do primeiro circuito. Segundo Chipp, depois de Brasília, o Nordeste deve ser a região em que contingências duplas podem resultar em risco mais elevado de blecaute regional. Com a pior hidrologia dos últimos 82 anos, a região é prioritária atualmente no planejamento de operação do ONS. O diretor do operador do sistema informou que houve a interrupção de 11 mil MW no apagão de transmissão que afetou no mês passado toda a região, mas afirmou que a recomposição total do sistema aconteceu de forma mais rápida que em blecautes anteriores, com 90% das cargas restabelecidas em menos de três horas e meia, contra cinco horas e meia de outras ocorrências. O executivo disse que primeiro é necessário evitar o desligamento, mas, uma vez ocorrido, deve se restringir a propagação e correr atrás da recomposição. Zimmermann afirmou que, para evitar novos desligamentos no Nordeste, houve a redução do intercâmbio de energia de outras regiões de 3,8 mil MW médios para 2,7 mil MW médios, com o acionamento de 1 mil MW médios de termelétricas localizadas na região. Com isso, o eventual desligamento simultâneo de dois circuitos de uma mesma linha deve evitar um novo apagão nos estados nordestinos. Também convidado para a audiência na comissão da Câmara, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Romeu Rufino, reforçou as características do sistema elétrico brasileiro, com geração normalmente longe dos centros de consumo e uma rede extensa para transporte de grandes blocos de energia. Rufino disse que já foram adotados conjuntos de ações para a melhoria do sistema de proteção, o que já se reflete na transmissão. No caso do episódio do Nordeste, afirmou o diretor, existe um processo em curso para apuração de responsabilidades que pode resultar em sanções para as transmissoras Iene e Taesa, proprietárias das linhas de transmissão. "Nos processos a gente sempre tira ensinamentos para melhoria, inclusive nas práticas a serem adotadas", completou Rufino. O diretor da Aneel reconheceu que ampliar a segurança do sistema é importante, mas não pode ser feita de qualquer maneira, porque tem um custo crescente. "Tem que dosar com a modicidade tarifária", disse Rufino. "Segurança custa, não tem jeito. A sociedade tem que se manifestar sobre o quanto ela quer pagar", completou Chipp. (Sueli Montenegro)