Sertãozinho, 22/08/2018 - O governo federal fará uma revisão extraordinária nas garantias físicas das
usinas térmicas a biomassa - ou seja, revisará a capacidade assegurada de geração de energia no segmento.
A ideia, segundo o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério das Minas e
Energia, Eduardo Azevedo, é ampliar a oferta desse insumo renovável, principalmente de bagaço de canade-
açúcar, durante períodos de estiagem como agora, e reduzir uso de térmicas a óleo, mais caras e
poluentes.
Com os reservatórios de hidrelétricas em níveis mais baixos em 100 anos, o governo precisou acionar
térmicas movidas a combustíveis derivados de petróleo, o que ampliou o uso da bandeira vermelha nas
contas de energia e provocou reajustes aos consumidores em, no mínimo, 15%. Ao Broadcast Agro,
Azevedo explicou que as ofertas asseguradas das térmicas a biomassa são calculadas após o início do
empreendimento, e como a oferta dessas unidades é sazonal, principalmente entre março e novembro, a
média móvel das garantias físicas é menor do que a capacidade máxima.
"Boa parte da capacidade que usinas têm está subutilizada. Neste momento a energia é cara e há
oportunidade para vender, mas como a média móvel de geração é baixa, a garantia física cai", disse
Azevedo. "Vamos permitir uma revisão extraordinária baseada numa nova declaração de capacidade de
geração. Até dezembro, empreendedores poderão declarar qual vai ser a curva de geração do ano que vem,
o que dá previsibilidade de oferta de energia a biomassa e de que não precisaremos comprar energia a
diesel e óleo combustível, muito mais cara e poluente", completou.
Segundo dados do setor, a capacidade instalada de térmicas a biomassa é de 14,8 mil megawatts (MW), ou
cerca de 9% da oferta total do País. As térmicas a bagaço de cana têm 11,356 mil MW de capacidade
instalada, 77% desse total, e maior que uma usina de Belo Monte, ou 7% da potência outorgada no País.
Unidades a biomassa de cana produzem 91% da oferta total entre abril e novembro, durante a safra da
cultura, justamente a época de estiagem nas principais regiões produtoras de energia gerada em
reservatórios de água. Além disso, 84% dessa bioeletricidade gerada está no Sudeste e Centro-Oeste,
regiões que representam 60% do consumo de energia elétrica do País.
Roraima Segundo Azevedo, as térmicas a biomassa também podem ser a saída para que o governo supra
Roraima de energia. Com um contrato que vence em dezembro de 2021, o Estado é abastecido por energia
comprada da Venezuela, que enfrenta um colapso econômico. Além de problemas de abastecimento, aquele
país sofre embargo norte-americano e o governo brasileiro só consegue fazer o pagamento da energia em
juízo. "Qualquer instituição financeira que fizer negócio com o país fica impedido de fazer negócios com
os Estados Unidos", diz.
O secretário explicou que a escolha pela bioenergia ocorre porque a rede de transmissão entre Manaus
(AM) e Boa Vista (RO), prevista para ser construída, deve enfrentar problemas ambientais. "Existe
possibilidade de utilização de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), de energia solar e eólica, mas, neste
caso, a localidade fica na reserva Raposa Serra do Sol e é preciso o convencimento de indígenas", afirmou.
"Então, a bioenergia tem grande potencial, com a produção a partir de sobras de madeira, capim-elefante ou
florestas plantadas para esse fim, uma oferta prevista de 150 MW médios para uma demanda de 250 MW",
completou.
Preço Azevedo negou que não tenha sido feito um planejamento no governo para evitar o aumento do uso
de térmicas a óleo e a disparada nos preços da energia, como em 2018. Segundo ele, não era possível
prever que um ciclo tão severo de estiagem fosse reduzir o nível dos reservatórios, principal fonte de
energia elétrica no País. "A cada sete ou oito anos acontecem secas e temos de estar preparados. Mas a
estiagem que acontece hoje é maior que a média centenária, com níveis de reservatórios de 15% a 20% da
pior situação de 100 anos."
Para o secretário, a mudança na matriz elétrica do País ocorre nos últimos dez anos, com a redução da
dependência hidrelétrica, aumento de renováveis, como térmicas a biomassa, e fontes de energia solar e
eólica. "Ao longo do tempo os investimentos vão se amortizar e haverá uma sustentabilidade para a tarifa",
concluiu. (Gustavo Porto, enviado especial - gustavo.porto@estadao.com)