Usinas poderiam “exportar” 1.800 GWh em 2021 e 3.500 GWh em 2022, segundo levantamento da Cogen
Por Letícia Fucuchima — De São Paulo | 01/06/2021 05h00
Usinas térmicas movidas a biomassa têm potencial para fornecer 5.300 gigawatts-horas (GWh) de energia adicional para o sistema elétrico brasileiro neste e no próximo ano, volume que poderia ajudar a garantir o atendimento aos consumidores em meio à piora da situação dos reservatórios das hidrelétricas.
O levantamento foi realizado pela Cogen, entidade que reúne empresas que atuam como “cogeradoras”, produzindo energia elétrica e térmica a partir de um mesmo combustível para atender seu próprio consumo e ainda vender um excedente, seja para o mercado regulado, seja para o livre. No caso da biomassa, o insumo mais tradicional é o bagaço da cana-de-açúcar, resíduo da agroindústria canavieira - grandes empresas, como Raízen e Tereos, têm unidades cogeradoras.
Segundo o presidente da Cogen, Newton Duarte, a associação identificou cerca de cem empreendimentos movidos a biomassa que estariam aptos a “exportar” energia para o sistema elétrico, gerando além dos volumes firmados em contratos. Essa produção adicional poderia atingir 1.800 GWh em 2021 e 3.500 GWh em 2022. “Fomos ao governo federal apresentar esse levantamento. Somente em 2022, poderíamos fornecer o equivalente a uma usina hidrelétrica de 800 megawatts (MW).”
Uma das vantagens da geração a partir do bagaço de cana é seu caráter complementar às hidrelétricas. Durante o período seco, entre os meses de abril e novembro, em que a atividade das hidrelétricas fica mais baixa, a geração a biomassa se intensifica, acompanhando a evolução da safra da cana.
Duarte destaca que, durante a safra, as usinas operam constantemente, “24/7”, e não em períodos definidos, como a solar e a éolica. Além disso, ressalta, as usinas estão distribuídas em várias cidades do interior do país, próximas aos centros de carga, principalmente em Estados como São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
No entanto, para que todo esse volume de energia seja fornecido, o governo teria que permitir que as usinas gerassem acima de suas garantias físicas - ou seja, do que elas estão efetivamente autorizadas a comercializar. Dependeria, ainda, da realização de um leilão emergencial.
O governo chegou a estudar essa possibilidade, como forma de assegurar que não haverá problemas de atendimento da demanda por energia nos horários de pico. Recentemente, o Ministério de Minas e Energia (MME) negou que haja a previsão de contratação emergencial de energia.
Segundo a pasta, o que se busca é a redução dos custos de geração do sistema, além de ações para “aumentar a disponibilidade dos recursos termelétricos, a gás natural, biomassa e a óleo combustível”.