Brasil Energia - 14/06/2021
Cláudio Alves, da Electra Energy, alerta que diante da crise hídrica a recuperação da carga pode exigir mais de outras fontes de energia
O consumo de energia elétrica tem registrado uma recuperação em “V” em 2021 e os níveis tem se aproximado do período pré-pandemia, em 2019. Naquele ano, a carga de energia atingiu 67.181 GW, enquanto no ano seguinte, já no período da pandemia, houve uma queda de 5,52%, chegando a 63.473 GW. Já neste ano, os níveis de consumo atingiram 66.964 GW, sendo -0,32% em comparação com dois anos antes.
As informações foram dadas pelo diretor presidente da Electra Energy, Claudio Alves, em webinar promovido pela Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia) e pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) no início do mês.
Ele comentou que as dificuldades hidrológicas, principalmente na Bacia do Rio Paraná, onde está a hidrelétrica de Itaipu, tem exigido mais das usinas eólicas, por exemplo. Estas têm registrado nas últimas semanas produção próxima de 8 GW, superior aos 4,5 GW gerados por Itaipu no mesmo período.
Alves alertou que podem ocorrer problemas no restante do ano, com a recuperação do consumo vindo a exigir mais de outras fontes de energia. Os principais fatores seriam os baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas e um provável contingenciamento na oferta de gás para termelétricas, com a parada programada da chamada Rota 1, gasoduto que interliga o campo de Mexilhão, no pré-sal.
“Temos uma série de incertezas com relação ao crescimento para 2021. A carga se recuperou, mas se discute hoje que a decisão de não realizar leilões de energia nova em 2020, talvez não tenha sido acertada”, disse.
O executivo fez um comparativo com o nível dos reservatórios no ano passado e neste ano. A energia armazenada, em 31/05 do ano passado, era de 61%, porém foi um ano de baixo consumo. Já em 31/05 deste ano, o nível médio do Sistema Interligado Nacional (SIN) está em 42%. Ele explicou que essa diferença pode ser compensada até o fim do ano, para minimizar riscos, com uma redução de 52.592 MW/mês na carga o que equivaleria a uma injeção de aproximadamente 8 GW de oferta termelétrica, por exemplo.
Por sua vez, o gerente de bioeletricidade da Unica , Zilmar de Souza, lembrou que nesse cenário, a biomassa poderia contribuir para gerar a energia necessária ao sistema. Para 2021, as usinas poderiam ampliar a oferta de energia em 5%, enquanto que para 2022 poderiam contribuir com um acréscimo de 10% a 15%, segundo levantamento feito pela Cogen e Unica.
“Conseguiríamos aumentar a oferta com relação a 2020, mesmo com sinalização de redução da moagem de cana. Mas temos que buscar cavado de madeira, entre outras ações, o que exige um planejamento”, explicou Souza.
A geração a biomassa ocorre no período seco do sistema e, por isso, também tem contribuído para poupar água nos reservatórios das hidrelétricas. A fonte evitou que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste tivessem uma queda adicional de 15 pontos percentuais em 2020.
O presidente da Electra Energy afirmou ainda que há elasticidade de aumento no consumo, uma vez que há tendência de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB). Portanto, a recuperação da hidrologia depende das políticas operativas a serem tomadas pelo governo.