Osório de Brito, da Cogen: O momento da Geração Distribuída

Canal Energia - Notícias do Dia - 14/09/2016

O Brasil, durante parte significativa do século passado, baseava o seu suprimento elétrico em um parque hidrelétrico relativamente próximo aos seus principais centros de carga. Um pequeno parque térmico apenas complementava-o; algumas dessas termelétricas atendiam regiões ainda, na época, não interligadas ao extenso Sistema Interligado Nacional, o SIN.
 
Esse parque hídrico possuía duas funções especificas: suprir o consumo das regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste e permitir abastecer áreas de baixa pluviosidade a partir de outras dotadas dessa característica. Todas, praticamente, possuíam barragens ou compunham uma série delas projetadas para otimizar o curso fluvial de um determinado rio.
 
Considerado um aumento paulatino do consumo e uma constância pluviométrica, o SIN vinha se comportando em sintonia com as necessidades da demanda; contudo, no início do século seguinte, um corte abrupto de chuvas no país evidenciou o princípio de esgotamento do modelo hídrico sob o qual viveu o país até aquele momento. Um racionamento fez-se mister, em 2001.
 
Esse racionamento resultou em duas linhas de atuação, que perduram até hoje:
 
- os consumidores, diante de suas exigências contratuais, impossibilitados de utilização da eletricidade pública, montaram um parque diesel que não se desfez e, para os consumidores optantes da chamada “tarifa verde”, tendeu a crescer; um levantamento recente, realizado pela EPE, avaliou, no momento, a existência de um parque gerador de um porte entre 7 MW e 9 MW;
 
- a instalação de um parque térmico meramente complementar ao parque hídrico então existente, parque térmico esse só despachável nos momentos de estiagens significativas ou de exigências anormais de consumo.
 
O país, na sua essência, manteve o seu modelo anterior, inserindo-lhe, apenas, um parque térmico complementar. Iniciava-se, pois, a montagem de um parque termo-hídrico no qual, ainda, predominava a hidreletricidade.
 
Não obstante a introdução de um parque eólico, notadamente no Nordeste, a predominância hídrica persistiu comandando o desenvolvimento setorial, influenciando o uso das demais fontes geradoras, como o fez, por exemplo, em relação ao gás. Ademais, as novas hidrelétricas instalaram-se na Região Norte, a fio d´água.
 
2013, 2014 e 2015: períodos de rigorosas estiagens; as termelétricas foram despachadas a fim de evitar um colapso no abastecimento; o modelo evidenciou, assim, de forma clara, o seu esgotamento, sua dependência excessiva aos regimes chuvosos.
 
Em 2016, lamentavelmente, o sistema equilibrou-se não porque houve modificações no modelo a fim de minimizar essa dependência climática, mas, sim, porque o país vivenciou e vivencia uma grave crise econômica, provocando uma significativa redução do consumo elétrico. As alterações necessárias, evidentes, foram transferidas para os próximos anos, com o retorno do desenvolvimento econômico e o crescimento do consumo.
 
Dentre essas alterações reside a geração distribuída (GD), notadamente a cogeração e a introdução da fotovoltaica. Essa é a sua hora, a exigir modificação na atuação das distribuidoras que, no modelo anterior, eram avessas à GD e a qualquer eficientização energética de seus consumidores.
 
Embora a ANEEL tenha regularizado a relação entre a distribuidora e os agentes portadores de GD, desde que possuam instalações até 5 MW, urge buscar uma solução que a permita a distribuidora a modificar-se tecnologicamente na medida em que, de um lado, haverá uma intermitência própria dos regimes fotovoltaicos e, de outro, os excedentes da cogeração; esses últimos deverão lhe remunerar pelo uso de seus fios e pela instituição de um seguro para as situações emergenciais e de manutenção de seus equipamentos.
 
Esse é, pois, o momento da GD que, nos países do Hemisfério Norte, notadamente nos europeus, ocupa posição proeminente nas respectivas matrizes. Com efeito, uma geração próxima da carga evita o uso da malha de transmissão e uma produção de igual valor no parque centralizado, a aumentar a produtividade setorial. Afinal, no Brasil, evitar-se-ia o despacho de caras termelétricas e recuperar-se-iam os reservatórios quando esvaziados pelas estiagens.
 
Osório de Brito é engenheiro e diretor regional Rio de Janeiro da Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia)